Enquanto o Brasil está em chamas, a fumaça se espalha e atinge diretamente a saúde das pessoas. Ela contém diversos elementos que podem causar problemas respiratórios, incluindo o câncer, em um longo prazo.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) lançou um alerta de que o cenário atual é “muito preocupante” e de que o país precisa reduzir a exposição da população à fumaça gerada pelas queimadas para evitar um aumento no número de câncer nas próximas décadas.
Segundo a epidemiologista Ubirani Otero, chefe da área técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, do Inca, em conversa com a Agência Brasil, o risco é de ter aumento em tipos de câncer relacionados ao sistema respiratório. “A melhor prevenção contra o câncer é a eliminação da exposição. Se cessar o quanto antes, a gente pode prevenir muitos casos no futuro”, afirma.
A fumaça gerada por incêndios florestais, segundo a pesquisadora, gera material particulado, como monóxido de carbono, solventes, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos e fuligem, entre outros.
O câncer diretamente ligado à exposição prolongada à fumaça e à poluição do ar é o de pulmão. Ubirani Otero destaca que, diferentemente de outras doenças agudas causadas pela exposição prolongada, como síndromes respiratórias, o câncer pode levar mais tempo para ser identificado, até 30 anos. “O período de latência é grande. Então, os efeitos dessa poluição de hoje para câncer a gente só vai ver depois de 20, 30 anos”, alerta a epidemiologista.
Outras doenças
Seja para prevenção do câncer ou de doenças respiratórias imediatas, a indicação é que as pessoas voltem a usar máscaras e equipamentos de proteção individual para evitar inalar a fuligem. Também, segundo a pesquisadora, é importante evitar atividade física ao ar livre em dias com mais fumaça no ar. Evitar sair de casa, beber bastante água e fazer lavagem nas narinas também são indicações para o período de maior poluição.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia aumentou as recomendações à população neste período de seca e queimadas. É importante manter as janelas das residências fechadas, umidificar o ambiente com toalhas molhadas ou umidificadores e procurar locais mais frescos.
Segundo a entidade, os riscos de infecções respiratórias aumentam em crianças de até 2 anos, idosos com mais de 65 anos e pessoas com doenças metabólicas e cardiovasculares, além das imunocomprometidas.
Sintomas
Ao inalar a fumaça, a pessoa deve ficar alerta à forma como o corpo está reagindo. Sintomas como náuseas, vômitos, febres, falta de ar, tontura, confusão mental e dores intensas de cabeça, peito e abdômen, devem ser avaliados por profissional médico.
A fumaça pode causar problemas respiratórios como tosse, falta de ar, chiado no peito, rouquidão, laringite, rinite e cansaço, além de complicações como pneumonia ou bronquiolite e a síndrome do desconforto respiratório agudo, que ocorre por intensa atividade inflamatória nos pulmões. Nos olhos, pode provocar vermelhidão, irritação, conjuntivite química, lacrimejamento e diminuição da visibilidade.