Parceiro do transportador e do meio ambiente
Arla 32 é muito mais que um reagente químico: trata-se de um meio importante para a redução de emissões de poluentes, o melhor desempenho do caminhão e a garantia do futuro das novas gerações
A- A A+Recentes anúncios de representantes dos governos da França e do Reino Unido sobre o fim do motor à combustão inflamaram a indústria automobilística e a discussão de quanto a busca da preservação do meio ambiente é urgente. Esses países assumiram o compromisso de produzirem, a partir de 2040, somente veículos elétricos, e a Alemanha e a Noruega também endossam o movimento por meio da implementação de políticas que visam à redução da emissão de poluentes por meio de transportes.
O Brasil caminha nessa direção, e, atualmente, uma das principais iniciativas para a mobilidade sustentável é a obrigatoriedade do uso do agente Redutor Líquido de Óxidos de Nitrogênio Automotivo, o Arla 32. Em maio, a Resolução 666/2017 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentou a fiscalização de seu uso por veículos pesados, bem como considerou infração de trânsito a não utilização dele e/ou artifícios que visem burlar o emprego do reagente.
Esse produto possibilita um melhor desempenho de motores, gerando economia no consumo de combustível, que pode chegar a até 5% em relação ao consumo dos veículos da geração anterior.
O Arla 32 age convertendo as partículas de óxido de nitrogênio (NOx) em nitrogênio e água, reduzindo, assim, em até 98% as emissões de óxido de nitrogênio. “O óxido de nitrogênio é altamente poluente e nocivo à saúde, sendo responsável por diversos males de respiração. Os transportadores têm noção da importância de forma sustentável em todos os sentidos: financeiramente, preservando o meio ambiente, a saúde dos profissionais e a vida de todos. Contudo, temos o desafio diário de alcançar essa missão”, pontua o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais, Carlos Roesel.
Levantamento feito pela Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões Veiculares da América do Sul (Afeevas) mostra que, até o primeiro trimestre deste ano, o uso do reagente químico à base de ureia está entre 45% e 50% abaixo do esperado para atender à frota de caminhões em circulação no país.
“Algumas justificativas identificadas para esse déficit são a utilização de Arla 32 produzido de maneira ilegal e fora das especificações, a diluição do produto pelo usuário e as burlas e fraudes ao sistema dos veículos, feitas por meio da instalação de emuladores (chips) nos caminhões. Essa situação é bastante preocupante, uma vez que cada caminhão que não usa Arla 32 em seu sistema aumenta em até 4,5 vezes suas emissões de óxidos de nitrogênio para a atmosfera”, contextualiza o diretor-adjunto da Afeevas, Elcio Luiz Farah.
Chips fabricados em outros países para burlar a fiscalização já foram encontrados no Brasil
Burlas
Ele conta que a associação tem conhecimento da produção caseira. E realmente a situação é pública: basta digitar na internet “Como fazer Arla” que é possível acessar inclusive vídeos com tutoriais. “Contudo, todo produto feito dessa forma é ilegal por não ser certificado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e por estar totalmente fora das especificações. Seria a mesma coisa de um cidadão comum tentar reproduzir em casa um remédio de laboratório, por exemplo”, compara o diretor.
“O Arla 32 é uma mistura de água desmineralizada e ureia, sendo que, para obter uma ultraqualidade, esse produto deve ter uma concentração de ureia na faixa de 31,8% até 33,2%. Com isso, uma frota de veículos equipadas com SCR (Redução Catalítica Seletiva) terá a garantia de um bom funcionamento. Visto que o objetivo é reduzir as emissões de NOx, a água desmineralizada entra somente como um emoluente, e a ureia, adicionada a essa mistura, quando chega ao catalisador do veículo, torna-se gás de amônia e reduz a temperatura dos gases enviados pelo cano de descarga do motor”, explica o químico da Mil Química MG, Milwayne Ferreira Gonçalves.
Produzir Arla 32 de forma caseira pode parecer fácil. É possível comprar ureia com facilidade no mercado de fertilizantes. O problema é misturá-la na dosagem correta e com água desmineralizada. Além disso, as impurezas que resultam de um processo inadequado são muitas. A utilização equivocada pode causar danos irreversíveis a um dos componentes mais caros desses veículos: o catalisador, que é justamente a peça que mais contribui para a baixa emissão de poluentes. Um catalisador para veículo com motor Euro V e tecnologia SCR pode custar até R$ 20 mil.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Vieira Lobato, alerta para os riscos. “É uma economia infundada, uma falta de conhecimento. Tenho conversado com colegas e orientado os motoristas de minha transportadora. O caminho para os frotistas é educar os motoristas; para os postos, vender produtos dentro das especificações”, afirma.
Outro artifício é o uso de emuladores que fazem os motores diesel com SCR dispensarem o Arla 32 e podem ser facilmente adquiridos pela internet. Seu funcionamento é relativamente simples: os dispositivos eletrônicos enganam o sistema OBD (On-Board Diagnostics), que monitora a presença e a utilização do aditivo, bem como a emissão de NOx. “Esses dispositivos substituem os sinais dos sensores por outros falsos, que, enviados ao OBD, fazem com que pareça que o Arla 32 está sendo utilizado, quando, na verdade, isso não está ocorrendo”, detalha Farah, da Afeevas.
A ideia de burlar o Arla 32 não é invenção brasileira. “O uso de mecanismos para fraudar o sistema SCR foi desenvolvido na Europa, a partir de 2005, para permitir que veículos projetados para a baixa emissão de poluentes e que necessitassem de Arla 32 pudessem trafegar por países que ainda não dispunham desses produtos, principalmente no Leste Europeu”, explica Farah.
Uso do Arla 32 é obrigatório no Brasil com risco de multa
Combate e fiscalização
A associação atua para combater as fraudes em relação ao produto. Entre as principais ações desenvolvidas está o site www.arla32.org.br, criado com o objetivo de ampliar o conhecimento em relação às principais informações sobre o reagente, bem como as das notícias de destaque na imprensa. A ideia é que esse seja um canal que agrupe todas as informações sobre o universo Arla 32. Nessa plataforma, os usuários têm acesso aos canais de denúncia, além de dicas sobre como combater e reconhecer as fraudes relativas ao uso irregular do produto.
“Para que essas ações não fiquem restritas aos motoristas, temos atuado também para que as empresas que fabricam produto irregular ou instalam emuladores sejam penalizadas. Para isso, a Afeevas mantém estreito relacionamento com os órgãos de fiscalização e certificação a fim de promover e incentivar a qualidade do produto produzido no país”, diz Elcio Luiz Farah.
O diretor conta que acompanha as operações de fiscalização realizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), inclusive apoiando diversas dessas ações. “Esse trabalho realizado é de fundamental importância tanto para a conscientização dos motoristas quantos para que os veículos operem em acordo com o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Já o Inmetro e os Institutos de Pesos e Medidas (Ipems) precisam ser ainda mais participativos com relação à fiscalização e ao monitoramento das empresas que comercializam Arla 32 sem conformidade.
A Entrevias entrou em contato com a Polícia Rodoviária Federal para buscar mais informações quanto à fiscalização do uso do reagente. Segundo a Assessoria Nacional de Comunicação Social da PRF, “infelizmente não é possível individualizar os veículos que foram fiscalizados em função do Arla 32, pois entram no rol comum dos mais de 7 milhões de veículos fiscalizados pela PRF por ano”. Sobre o auto de infração, a corporação informou o seguinte: “Como o uso do Arla 32 ainda é uma questão nova, a falta desse componente é enquadrada como ausência de equipamento obrigatório ou ineficiente ou inoperante, e também não conseguimos individualizar veículos que foram autuados pela falta ou adulteração do Arla 32”.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu Artigo 230, Capítulo XV, prevê que conduzir o veículo sem equipamento obrigatório ou estando esse ineficiente ou inoperante é infração grave sujeita a multa e à retenção do veículo para regularização, além de ser um crime ambiental também punido com multa e até prisão dos responsáveis pela adulteração, bem como pela condução do veículo.
Caminhos
Além do rigor devido às consequências do não uso do Arla 32, entidades buscam caminhos para incentivar sua utilização, pois entendem sua importância para a atuação do transportador e da preservação do meio ambiente. O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Centro Oeste Mineiro (Setcom) vai elaborar um projeto a ser apresentado à Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais para estimular o uso do Arla 32 por meio de incentivo fiscal: desconto no IPVA e/ou em outro tributo estadual.
“O transporte tem sofrido, ainda mais com o último aumento no valor do combustível, com custos elevados de sua operação e redução da atividade econômica. Muitas muitas empresas estão em crise e, por isso, temos que buscar soluções”, ressaltaram os diretores do Setcom Anderson Cordeiro e Antonio Mizael.
Outra frente pontuada pelo presidente da Associação Particular de Ajuda ao Colega (Apac) Sul, Marcio Arantes, é o suporte permanente ao associado. “Oferecemos apoio na aquisição de produtos, pois implementamos um serviço especializado em compras. Temos profissionais que monitoram os fornecedores de pneus, peças e todos os insumos para transporte e sugerimos a aquisição mais adequada. Assim, o carreteiro consegue o melhor valor, o melhor prazo de pagamento e o menor tempo de entrega”, ressalta.
Essas iniciativas são essenciais, especialmente em um ambiente de desafio econômico para a sustentabilidade do transporte. “Não podemos atribuir uma relação direta entre a crise e o déficit de consumo de Arla 32, pois essa diferença já existia antes mesmo da crise. Todavia, entendemos o cenário macroeconômico complicado e sabemos que, por consequência desse processo, todos estão buscando reduzir custos, mas é preciso ter em mente que, ao se burlar o sistema ou mesmo se fazer o uso de um produto falsificado, o prejuízo será muito alto, uma vez que, além dos danos ao meio ambiente e ao veículo, o motorista ou a transportadora estarão sujeitos às implicações legais, como multas, prisões e apreensões do veículo”, enfatiza o diretor da Afeevas.
Ele acrescenta que a poluição do ar é um problema que não pode ser deixado de lado, pois afeta diretamente a saúde de todos e gera custos com médicos, hospitais e remédios, impactando também o sistema de saúde e até mesmo a economia. Os gases de escapamento contendo as emissões de NOx e material particulado podem até ser invisíveis, mas seus danos à saúde e ao meio ambiente são grandes e irreversíveis.
Preocupação nacional
A poluição se tornou uma questão de saúde pública, e, desde 2012, os veículos produzidos começaram a atender à Resolução 403/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que dispõe sobre a nova fase de exigência do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) para veículos pesados novos (Fase P-7) – similar à Euro 5. Todos os modelos novos terão de ser abastecidos com o novo diesel de baixo enxofre (50 partes por milhão de enxofre, o chamado S50) e requererão ainda o abastecimento do Arla 32.
Com nessas novas tecnologias, os veículos novos, se estiverem regulados e usarem o diesel de baixo enxofre, estarão emitindo praticamente 98% menos material particulado (fumaça) e 86% menos óxidos de nitrogênio do que os caminhões mais antigos.
Enquanto o Brasil acaba de se adaptar aos limites de emissão de poluentes de motores a diesel impostos pelo sistema Euro 5, muitos países na Europa já adotam o sistema Euro 6 – conjunto de normas que impõe limites ainda mais rígidos no controle da poluição e exige algumas mudanças por parte das fabricantes de veículos pesados.
No caso da emissão de hidrocarbonetos, o sistema Euro 6 estabelece um limite de 0,09 gramas para cada cavalo de potência do motor por hora de funcionamento. Isso representa uma redução de 72% no limite da norma anterior, que permite a liberação de até 0,34 gramas.
Também há significativas diminuições na emissão de óxido de nitrogênio (NOx), que passa a ter um limite 80% menor, com emissão máxima de 0,29 g/cv, e de enxofre, passando de 0,02 ppm para 0,01 ppm (partes por milhão)
O sistema Euro 6 utiliza as mesmas tecnologias desenvolvidas para atender ao sistema anterior: a Redução Catalítica Seletiva (SCR) e a Recirculação de Gases da Exaustão (EGR). A diferença é que a nova regulamentação exige o uso das duas tecnologias ao mesmo tempo. O sistema SCR converte os gases poluentes que sairiam pelo escapamento em nitrogênio e vapor de água, que são inofensivos ao meio ambiente. Para que isso ocorra, é necessário o uso do reagente Arla 32. No sistema EGR, a redução da emissão de poluentes se dá por meio da recirculação dos gases e da diminuição da temperatura interna da câmara de combustão. Desse modo, é possível diminuir a formação e a liberação dos gases poluentes.
Além do uso integrado das duas tecnologias, o Euro 6 prevê regulamentações sobre a aerodinâmica do caminhão, a distribuição do peso da carga e práticas de condução eficiente por parte dos motoristas. Também é obrigatório o uso de diesel com teor reduzido de enxofre. No mercado brasileiro, existem duas opções que atendem a essa exigência: o diesel S-50 e o S-10.
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