Cansaço ao volante mata

Estudo revela que 30% dos acidentes fatais têm relação com fadiga

Segurança / 07 de Maio de 2014 / 0 Comentários
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Recente pesquisa realizada pela Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas do Estado, revela que cerca de 20% dos acidentes nas estradas ocorrem por cansaço do motorista e 30% das vítimas morrem em função desses incidentes automobilísticos. Esses acidentes são os mais graves, pois o motorista não esboça reação e a colisão ou capotamento acontece em alta velocidade.

O Incor aplicou questionários em mais de dez mil caminhoneiros, e a apuração dos resultados mostrou que 26% tinham alto risco de ter apneia do sono, caracterizada por engasgos recorrentes durante o sono, levando a um descanso noturno fragmentado e com frequente sonolência diurna. Nesse estudo, a maior parte dos caminhoneiros que tinham alto risco de apneia admitiu que já dormiu na direção.

O presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS), Geraldo Lorenzi Filho, diz que um motorista privado de sono pode ser tão perigoso quanto um indivíduo alcoolizado. “Vários trabalhos acadêmicos e científicos demonstram a importância da qualidade e quantidade de sono, bem como horários de trabalho e direção no risco de acidentes. Por isso, a legislação brasileira indica, ao renovar a habilitação para dirigir, perguntar aos motoristas profissionais sobre a ocorrência da apneia do sono.”

Para os profissionais do transporte, o médico recomenda que eles fiquem sempre muito atentos aos avisos do corpo. Por exemplo, se o indivíduo não se lembra de onde estava, pode ser um sinal de cansaço, pois dirigiu distraído. Outra observação refere-se ao uso de estimulantes para ficar acordado. Essa medida é perigosa, pois além do risco de causar ou sofrer acidentes pode mascarar problemas de saúde.

“O governo investe maciçamente em campanhas para reforçar as consequências da combinação álcool e direção. Acho que eles nem sabem da dimensão do problema de dirigir cansado, que é mais difícil de se resolver, pois não existe bafômetro para isso”, avalia o presidente da ABS.

FALHA HUMANA

Um estudo da MDS Consultores de Seguros e Riscos aponta que 67% dos acidentes estão relacionados, de alguma maneira, à falha humana e de processos. A análise considerou uma base de 1.550 sinistros ocorridos no período de novembro de 2012 a outubro de 2013. Foram analisados eventos no contexto de operações logísticas que envolvem acidentes durante trajeto, operação de carga e descarga, transbordo e permanência em entrepostos.

Entre esses casos, 56% dos prejuízos foram decorrentes de tombamento, capotagem e colisão ocorridos devido a eventos como: velocidade incompatível com o trecho somada à fadiga do motorista, desrespeito às leis de trânsito ou às normas de segurança, distração, imperícia na manobra, falta de qualificação profissional, defeito mecânico, ou mesmo uso de medicamentos. “Estes são os acidentes com maior severidade à carga transportada, além de causar danos ambientais e mortes em alguns casos”, comenta Victor Garibaldi, diretor da corretora MDS e responsável pelo estudo.

    ANTES DE VIAJAR

Algumas dicas para que você pegue a estrada e evite o risco do cansaço ao volante:

  • - Durma bem
  • - Nunca viaje cansado
  • - Evite dirigir mais que oito horas por dia
  • - Planeje a viagem para evitar dirigir à noite
  • - Descanse 15 minutos a cada duas horas de direção
  • - Em viagem, prefira alimentos leves
  • - Evite viajar sozinho
  • - Reveze a condução do veículo com outro motorista
  • - Pare sempre que se sentir cansado e durma se puder
  • - Não beba nem tome remédios que afetem os sentidos

 

Outros 33% dos eventos são decorrentes de problemas no processo de manuseio e acondicionamento de cargas, oriundos de desrespeito à simbologia impressa nas embalagens, falta de habilidade técnica na movimentação e armazenagem dos volumes, além de utilização de equipamentos inadequados e ausência de profissionais treinados. “Numa operação logística, eventos desse tipo têm maior frequência
e costumam registrar menores prejuízos”, comenta Garibaldi.

QUANTO CUSTA?

Os gastos da Previdência Social com benefícios decorrentes de acidentes de trânsito somaram R$ 12 bilhões no ano passado, ante R$ 7,8 bilhões em 2011. O secretário de Políticas de Previdência Pública do Ministério da Previdência, Leonardo Rolim, disse em nota pública que esse aumento de 53,84% das despesas previdenciárias com acidentes de trânsito em dois anos foi concentrado em eventos com moto, principalmente na região Nordeste do país.

Os números do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (Dpvat), administrado pela Seguradora Líder, mostram que, levando em conta os seguros pagos, foram registrados 366,4 mil acidentes em 2011. Somente no primeiro semestre do ano passado, 299,3 mil sinistros levaram ao pagamento do seguro obrigatório. A previsão é de que o número dobre no fechamento do ano, o que daria quase 600 mil desembolsos.

Segundo o secretário, o aumento das indenizações causadas por acidentes de trânsito tem pressionado as despesas de aposentadoria por invalidez e auxílio-doença. Esses gastos totalizaram R$ 65,4 bilhões em 2013. O governo quer fortalecer e ampliar a reabilitação de trabalhadores que sofreram algum tipo de acidente ou ficaram doentes. Com isso, deverá haver uma menor concessão de aposentadoria por invalidez e auxílio-doença por um período longo e intensificação da liberação de auxílio-acidente.

Como o valor do auxílio-acidente é inferior aos outros, o governo passaria a ter uma economia. Por outro lado, o segurado poderia voltar ao mercado de trabalho formal sem perder o benefício. Rolim diz que ajustes também poderão ser feitos na legislação para que sejam criados benefícios que incentivem o retorno ao mercado formal e que estimulem as empresas a contratar funcionários que passaram por requalificação.

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