Aedes Aegypti
Apenas um mosquito é agente transmissor de três doenças que impactam a saúde da população brasileira
A- A A+Aedes Aegypti, mais conhecido como o mosquito da dengue, tem feito grandes estragos à saúde brasileira. Em Minas Gerais, no ano passado, foram 148.123 casos confirmados de dengue, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (número ainda sujeito a revisão). Além da dengue, o Aedes Aegypti é agente transmissor da febre chikungunya e do zika vírus.
A Entrevias entrevistou o superintendente da Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said, para apresentar aos leitores o atual panorama epidemiológico dessas três patologias.
Entrevias: Em 2008, segundo dados fornecidos pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais, o Estado teve 42.368 casos confirmados de dengue. Em 2015, o número (ainda sujeito a revisão) foi de 148.123. A que fatores devemos atribuir o aumento de casos?
Rodrigo Said: A curva de transmissão da dengue tem uma grande sazonalidade. Ela passa por momentos com picos de transmissão e anos de queda. Isso é devido a vários fatores que estão relacionados à transmissão da doença. Para ela ser transmitida, é necessária a presença do vetor. Minas Gerais apresenta esse vetor desde 2008, com momentos de aumento da densidade, os quais podem ter relação com as condições climáticas favoráveis à sua reprodução e também com o aumento de criadouros.
Além disso, para ocorrer a transmissão da doença, é preciso haver a circulação dos vírus da dengue. Hoje, existem quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4. A alternância da circulação desses sorotipos também ajuda muito na modulação das epidemias. Então, por exemplo, em 2013, que até então foi o ano em que houve a maior epidemia em Minas Gerais, a gente teve a introdução do sorotipo 4. Como ele nunca havia circulado no Estado, a gente tinha 100% de nossa população suscetível a contrair a dengue.
Nos dois últimos anos (2014 e 2015), estamos tendo a circulação do sorotipo 1, que prevaleceu em maior intensidade nas áreas onde a população teve menor exposição a esse vírus. Ou seja, havia um grande contingente populacional para adquirir a doença, tendo em vista que grande parte da população nunca havia tido contato com esse vírus. É o caso do Sul de Minas, que era uma área mais fria, onde a transmissão de dengue era muito baixa. Todos esses fatores contribuem para termos essa curva de aumento de casos em determinados anos, seguidos de períodos de quedas e, novamente, dos aumento. E assim por diante.
Entrevias: Esclareça, por gentileza, a classificação de dengues 1, 2, 3 e 4?
RS: São quatro sorotipos para o vírus da dengue. É como se a gente tivesse agentes distintos que causam a doença. Então, um paciente pode ter, durante sua vida, quatro episódios de dengue (1, 2, 3 e 4). Mas não existe uma ordem clara. Vai ser de acordo com a circulação do vírus naquela localidade.
Entrevias: Atualmente, há 18 casos de microcefalia em Minas Gerais sendo investigados. Ainda não se sabe se há relação com o zika vírus. Em 2015, sete casos de febre chikungunya foram confirmados, sendo que apenas um deles teve transmissão no Estado. Esclareça, por favor, o panorama dessas patologias.
RS: É bom destacar que, em Minas Gerais, não há circulação dos vírus da febre chikungunya e do zika vírus. O que nós temos são pessoas que residem em nosso Estado e que, ao viajarem para determinadas localidades que estavam com transmissão, foram contaminadas pelas doenças. Ou seja, elas tiveram a transmissão, mas não pegaram as patologias aqui. Então, chamamos esses casos de “importados”.
Os sete casos de febre chikungunya aconteceram em pessoas que residem em Minas e foram “importados”. Dois desses pacientes foram para a Bahia e pegaram a doença lá; outro foi para a Colômbia. Está sempre associado a esse deslocamento. Com relação ao zika vírus, sua circulação também ainda não foi comprovada aqui. Porém, uma vez identificado, o que a literatura mostra é que os dois vírus – chikungunya e zika – possuem grande potencial de causar epidemias, no mesmo montante ou ainda maior em relação à epidemia de dengue.
Entrevias: O que faz o mosquito transmitir uma doença e não a outra?
RS: Na verdade, o mosquito tem potencial para transmitir as três doenças, mas ele vai passar de acordo com os vírus que estão em circulação porque ele adquire a doença do ser humano. A fêmea do mosquito Aedes Aegypti também se alimenta de sangue, além de seivas vegetais. E parte desse sangue ajuda no processo de maturação de seus ovos. Ela precisa do sangue, principalmente no caso do Aedes Aegypti, para ajudar em todo esse processo. Então, ela vai se alimentando de pessoas que têm o vírus na circulação de seu sangue, adquire os vírus chikungunya, dengue ou zika vírus e passa a ser um agente potencialmente transmissor a partir do momento em que há um novo repasse sanguíneo. O ser humano, no caso desses três agentes, é considerado um reservatório dessas doenças.
Entrevias: Quais os principais sintomas das três doenças, com suas diferenças?
RS: Na dengue, o paciente apresenta febre alta, normalmente acima de 38,5º, associada a vários sintomas: dor de cabeça, dor muscular e intensa em todo o corpo, náusea e vômitos. Pode apresentar manchas vermelhas pela pele e uma indisposição generalizada. Com a evolução da doença, a pessoa também pode ter complicações e chegar ao óbito. É importante o reconhecimento de alguns sinais, que nós chamamos de sinais de alarme, pela equipe de saúde porque são preventores das formas graves da doença. Os principais deles são após a queda da febre, dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes e hipoglição (queda da pressão arterial com sensação de tontura e desmaio). Esses sinais também são importantes para o reconhecimento das formas graves de dengue.
No caso da febre chikungunya, o paciente apresenta febre alta, normalmente acima de 38,5º, e a principal manifestação clínica da doença é uma dor nas articulações – popularmente chamadas de “juntas”. Essa dor é intensa e, muitas vezes, dificulta pequenos movimentos da pessoa, como o de cumprimentar, o de pegar uma escova, o de escrever. Nesse sentido, o principal sintoma é a febre associada à dor articular. Mas é claro que várias outras características podem se apresentar, como náusea, vômito e manchas vermelhas na pele.
Já no zika vírus, normalmente a febre é mais baixa, não tendo importância. De acordo com a literatura, o paciente tem uma febre em torno de 37,5º e 38º, não acima disso. Mas o que mais chama a atenção são as manchas vermelhas na pele, que a gente chama de equizantema. Grande parte dos pacientes também apresenta vermelhidão nos olhos, um tipo de conjuntivite associada ao zika vírus.
Não é tão simples fazer a diferenciação dessas três doenças. Por isso, é importante, clinicamente, em casos de aparecimento de qualquer sintoma, procurar uma equipe de saúde para ela providenciar o diagnóstico o mais rápido possível. A dengue pode levar a óbito rapidamente. Então, todas as três, inicialmente, são manejadas como dengue, com orientação de repouso, hidratação (e não-uso de nenhum medicamento sem prescrição médica).
Entrevias: O tratamento e a prevenção são iguais nos três casos?
RA: Sim. Normalmente, recomendam-se o repouso, a hidratação e medicamentos sintomáticos, pois não existem específicos para essas doenças, somente para combaterem os sintomas.
A prevenção também é igual porque as três doenças são causadas pelo mesmo agente transmissor. Por isso, é preciso combater o mosquito, não deixando água parada em qualquer recipiente.
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