Agora é ‘sinistro’
ABNT extingue o termo “acidente” dos relatórios de trânsito e adota uma nova expressão, que reforça o caráter premeditado das ocorrências
A- A A+Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) redefiniu alguns termos utilizados em relatórios de trânsito. Por meio da norma NBR 10697/2018, a expressão “acidente” deixa de valer e dá lugar a “sinistro”.
O dicionário brasileiro da língua portuguesa “Michaelis” define um “acidente” como “aquilo que é casual, fortuito, imprevisto; um acontecimento infausto que envolve dano, estrago, sofrimento ou morte, desastre, desgraça”. Já “sinistro”, no mesmo dicionário, é descrito como “qualquer acontecimento que acarreta dano, perda ou morte; acidente, desastre; grande prejuízo material, dano”.
Nos estudos feitos pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a conclusão foi a de que não existem ocorrências de trânsito não premeditadas. Portanto, elas devem ser chamadas de sinistros.
“Há um bom tempo, a Abramet vem debatendo isso junto a outras entidades. Nosso congresso, antigamente chamado de Congresso Brasileiro de Medicina e Acidente de Tráfego, passou a ser chamado de Congresso Brasileiro de Medicina de Tráfego a partir de 2017. Isso ocorreu justamente para discutir e destacar que os acidentes de trânsito, em sua maioria, não são acidentais, por acaso, mas, sim, provocados”, afirmou o presidente da associação, Antônio Meira Júnior. Para ele, a adoção do termo “sinistro” e a requalificação da norma são uma vitória importante para as ações e as políticas voltadas para a preservação da vida no trânsito.
“Mais de 90% dos acidentes registrados no Brasil têm como origem o fator humano. Conhecemos as causas, e a maioria é passível de prevenção, como obedecer às normas de trânsito e álcool zero para uma dirigibilidade segura”, completou o diretor-científico da Abramet, Flávio Adura.
Números
O trânsito brasileiro é apontado como um dos mais violentos do mundo e está entre as principais causas de mortes não naturais no país. Os números também mostram que muitas pessoas ficam com sequelas e perdem a saúde e a qualidade de vida em função dessas ocorrências, condições que representam um alto custo para o sistema de saúde, tanto público quanto privado.
Em uma década, segundo estatísticas do governo federal, o país registrou 1,6 milhão de vítimas gravemente feridas. Somente em 2017, 35,3 mil pessoas morreram em decorrência de sinistros no transporte terrestre. Em um ano, a média de gastos da rede pública de saúde com ocorrências dessa natureza chega a R$ 3 bilhões.
O Brasil está na quarta posição do ranking mundial de mortes no trânsito, ficando atrás apenas da China, da Índia e da Nigéria. O dado é de 2019 e foi divulgado pela Organização Mundial da Saúde.
Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária, a cada 15 minutos, uma pessoa morre no país em um acidente. E, a cada dois minutos, é registrada uma vítima com sequelas devido a ferimentos provocados pelos sinistros.
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