Cinetose: mal do viajante

Doença restringe vida de pessoas que não se sentem bem quando se deslocam em meios de transporte

Fique de Olho / 13 de Abril de 2016 / 0 Comentários
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Conhecida como enjoo de movi­mento ou mal do viajante, a cine­tose é uma doença limitadora para aqueles que querem e precisam viajar. Ner­vosismo, náusea, taquicardia e outras formas de mal-estar são sintomas das pessoas que sofrem de cinetose, os quais se manifestam em viagens por carro, avião ou barco.

De acordo com o otorrinolaringologista Adriano Sergio Freire Meira, esse mal do movimento ocorre porque todo o nosso sis­tema de equilíbrio não é determinado úni­co e exclusivamente apenas pelo labirinto. “Nós temos três vias que contribuem para a formação do equilíbrio: a visão, com os movimentos oculares, o labirinto e a sep­ ção, que é a sensação de movimento que os músculos dão ao corpo. Sabemos o lado em que estamos pela força que fazemos para determinada sensação muscular”, ex­plica o médico.

Com a cinetose, a pessoa tem a in­terrupção do movimento de uma dessas partes. Por exemplo, o indivíduo está para­do, dentro do carro, mas o veículo está se deslocando, e os olhos estão vendo o mo­vimento. Então, o labirinto recebe informa­ções conflitantes, as quais estimulam o ce­rebelo, órgão responsável por receber esses dados, provocando a sensação de enjoo.

Em resumo, o cerebelo, que recebe a informação, também recebe dados desco­nexos em seu processamento. Não sabe se o corpo está parado ou em movimento, mas ele responde com sintomas chamados de neurovegetativos: taquicardia, sudorese, náusea e até vômito.

 

COMO ADMINISTRAR

O otorrinolaringologista apresenta dois caminhos de tratamento: “Existe o clíni­co, em que se pode tomar medicação, um antienjoo, para uma crise aguda, além da reabilitação vestibular, que nada mais é do que um treinamento do uso adequado para o labirinto”. Há também algumas recomen­dações para controlar os efeitos da cineto­se, como evitar viajar lendo, tentar viajar sem olhar para o horizonte – para não enxergar o deslocamento – e evitar outras situações que podem dar a sensação de confinamento, já que, nesse caso, a pessoa não terá a ajuda dos outros sentidos para saber como o corpo de fato está.

 

LIMITAÇÃO

O professor carioca Ramon Gilaberte Ramos, de 29 anos, sofre de cinetose desde a infância. Ele conta que sente os efeitos do mal quando há movimento para trás, como no metrô, quando está sentado nos bancos de costas para o sentido em que anda o vagão, e também quando ocorrem mudan­ças bruscas de direção, bem como freadas seguidas em carro, ônibus ou metrô.

Andar de barco, nem pensar! Ramon sente náusea só de pensar. Nem o avião, forma que considera tranquila para o deslo­camento, escapa da lista de meios de trans­portes evitados pelo professor, fazendo com que ele viaje muito pouco. “Vomito em qualquer viagem de mais de uma hora de duração, com turbulência, ou em situações de descidas bruscas. Isso atrapalha muito minha vida, pois eu perco a vontade de via­jar, por exemplo. Daí, fico sempre no Rio de Janeiro; sem falar do constrangimento de passar mal”, lamenta.

Ramon relata que, por volta dos 15 anos de idade, passou mal indo para o sítio de um amigo, com a família do colega no carro. Ele relembra que sentiu muita ver­gonha na ocasião. “Eu estava no banco de trás do carro e não conseguia baixar o vidro – porque o controle se encontrava travado pelos pais do meu amigo. E, como sempre fui muito tímido, não conseguia falar que estava prestes a vomitar. Mas, felizmente, meu amigo percebeu que eu não passava bem e pediu aos pais para abaixarem os vidros, quando vomitei. Nojento demais”.

Em relação ao tratamento médico, o professor consultou uma médica homeopa­ta, que o indicou um remédio para tomar quando sentisse náusea, o que não ajudou. “Faço terapia também, mas nunca achei que fosse algo para tratar assim ali. Infe­lizmente, acho que é um mal sem cura”, conclui, resignado.

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