Conta que não fecha
Apesar do papel fundamental do transporte rodoviário de cargas na pandemia, setor encerrou 2020 com um frete defasado
A- A A+A defasagem do valor do frete no transporte rodoviário de cargas no Brasil chegou a 13,9% no fim do ano passado, o mesmo patamar verificado no início do ciclo, em meio à pressão advinda principalmente dos custos com veículos e dos descontos oferecidos durante a pandemia da Covid-19. Segundo uma pesquisa da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), as despesas só não foram maiores porque o diesel, que representa 50% dos custos de um caminhão bitrem, apresentou uma ligeira queda na comparação com 2019.
Embora a maior parte (41,4%) das companhias pesquisadas tenha mantido estável o valor do frete em 2020, 30,8% delas concederam um desconto médio de 7,9%, justificando o resultado. Uma minoria (27,8%) reajustou a tabela para cima, com uma alta média de 5,3%.
Alto custo
Os custos do transporte rodoviário, segundo a NTC&Logística, aumentaram no ano passado por conta da inflação elevada, apesar de ter havido uma pressão menor dos combustíveis e da mão de obra, que compõem, juntos, quase metade das planilhas de custos operacionais.
O Índice Nacional do Custo de Transporte de Carga (INCT) para fracionadas, que contêm pequenos volumes, apurou uma alta de 9,43% no ano, enquanto o INCT para cargas-lotação – que ocupam toda a capacidade do veículo – subiu 7,15%.
“É preocupante a elevação dos custos do transporte acima da inflação oficial. Preocupa ainda mais a falta do recebimento dos demais componentes tarifários, tais como o frete-valor, que banca os custos dos riscos legais da atividade, e o Gris [Gerenciamento de Risco], que remunera os custos inerentes às medidas de combate ao roubo de cargas. Além disso, muitos transportadores não são remunerados adequadamente em relação aos serviços complementares ou adicionais”, afirmou a associação por meio de nota.
Os custos com o caminhão – que envolvem depreciação, remuneração, Imposto sobre a Propriedade de Veículo Automotor, seguro do casco e manutenção – subiram 9,5%, enquanto o Índice Geral de Preços-Mercado, que influencia os aluguéis pelo setor, avançou 21,1% no ano.
Em relação aos custos com mão de obra, a NTC&Logística apurou uma estabilidade em 2020, apoiada por uma flexibilização do dissídio salarial, enquanto os gastos com combustíveis acumularam baixa de 2,8%.
Apesar disso, o valor do diesel mantém um viés de alta desde maio último, quando atingiu as mínimas do ano, e já se aproxima dos patamares pré-pandêmicos. A estimativa da NTC&Logística é que o diesel e a mão de obra pressionem mais os custos do setor em 2021.
“É oportuno lembrar que estamos passando por um período difícil por conta da pandemia, ocasionando uma queda na demanda aliada a um aumento do custo. Além disso, muitos transportadores não conseguiram reajustar os fretes, o que comprometeu muito o caixa das empresas, razão pela qual o alerta tem um caráter vital para a preservação da saúde financeira das companhias do setor, garantindo a capacidade de investimento. A recomposição do frete pelo repasse da inflação dos custos apurada ou pela eliminação das defasagens é vital para o transportador, mas também deve ser de interesse do contratante que deseja manter a regularidade, a qualidade do serviço e a segurança das suas operações. É sempre bom lembrar que o transportador, mesmo com todas as dificuldades que a pandemia lhe causou e acumulando prejuízos, garantiu o abastecimento necessário ao bom funcionamento da sociedade”, concluiu a associação.
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