Cuidado: animal na pista
Aplicativo contabiliza a mortalidade da fauna silvestre nas rodovias brasileiras com a ajuda dos cidadãos. Por ano, são mais de 470 milhões de animais atropelados no Brasil.
A- A A+Entre os dias 18 e 25 de setembro, o Brasil celebrou a Semana Nacional de Trânsito. Com ações espalhadas por todos os Estados, a campanha encabeçada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), órgão do Ministério das Cidades, teve como alerta principal salvar vidas e promover um trânsito mais seguro. Lembrando o número alarmante de acidentes de trânsito, um grupo aproveitou a oportunidade para frisar que também são altos os índices de atropelamento e de morte de animais silvestres nas rodovias brasileiras. São mais de 470 milhões todos os anos no país, segundo o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), ligado à Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Durante a campanha, o grupo também divulgou o aplicativo Urubu Mobile. O programa Sistema Urubu – Rede Social de Conservação da Biodiversidade, que foi idealizado pelo CBEE com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, traz uma ferramenta para que os usuários, sejam motoristas, pedestres, moradores das cidades perto das rodovias ou qualquer cidadão, possam colaborar com o mapeamento desses acidentes. O Urubu Mobile é um aplicativo que pode ser baixado gratuitamente nas lojas Google Play ou App Store e que permite a inserção de informações e fotos quando for identificado o atropelamento de animal em uma estrada.
O APP foi lançado há cerca de três anos e tem hoje mais de 22 mil usuários cadastrados. No total, essas pessoas já enviaram aproximadamente 70 mil registros. “Estamos evoluindo no desenvolvimento de políticas públicas estaduais e nacionais. Esse é o grande avanço que estamos realizando em prol da conservação da natureza e de forma colaborativa”, afirma o responsável pelo programa, Alex Bager.
Além do aplicativo, o projeto mantém na internet um “atropelômetro”, que mostra em tempo real a contagem dos animais mortos nas rodovias. A estimativa é que cerca de 15 animais são mortos a cada segundo nas estradas, sendo mais de 1 milhão por dia. A maioria, 90% deles, de acordo com o CBEE, é formada por sapos, pequenas aves, cobras, entre outros pequenos vertebrados. Os animais de médio porte, como gambás, lebres e macacos, correspondem a 9%. E cerca de 5 milhões, ou 1% do total, são animais de grande porte, como onças-pardas, onças-pintadas, guarás, antas e capivaras.
Para o coordenador de ciência e informação da Fundação Grupo Boticário, Emerson Antônio de Oliveira, a taxa elevada de atropelamentos representa um risco para a fauna brasileira. “Quando muitos animais são mortos, uma reação em cadeia acontece. A diminuição de indivíduos e a extinção de uma espécie causam desequilíbrio ecológico, afetando diretamente o ser humano, causando, por exemplo, a proliferação de pragas e o deslocamento de predadores para centros urbanos em busca de alimentos”, explica.
O CBEE também classifica o número de atropelamentos por região do país. A Sudeste é onde está concentrada a maior quantidade de ocorrências, seguida da Sul, da Nordeste, da Centro-Oeste e, por último, da região Norte.
Para quem baixar o Urubu Mobile, é importante estar atento a algumas dicas. O sistema funciona como uma rede social, para reunir, sistematizar e disponibilizar ao poder público informações sobre a mortalidade da fauna selvagem em rodovias e ferrovias. Hoje, utilizam a ferramenta usuários de rodovias, pesquisadores, pessoas ligadas às concessionárias, órgãos governamentais parceiros, entre outros. A ideia é que, ao se deparar com um animal atropelado, a pessoa reduza a velocidade, estacione o carro em local adequado, ligue o pisca-alerta e faça uma foto do animal. É importante sempre ter cuidado para não causar novos acidentes.
Outra dica do CBEE é não permitir que crianças desçam do carro para acompanhar a foto ou ver o animal na pista. Também é ideal não ter contato com a carcaça, já que os animais podem transmitir doenças e parasitas. Caso o bicho ainda esteja vivo, deve-se entrar em contato com a Polícia Rodoviária Florestal ou com funcionários da concessionária da rodovia. Jamais se pode capturar ou transportar o animal para algum local. É melhor aguardar o socorro adequado.
O aplicativo solicita que o usuário envie apenas uma foto do bicho, que deve ser selvagem. Isso quer dizer que não são contabilizados animais como galinhas, vacas, cavalos, cachorros ou gatos.
SEMANA DO TRÂNSITO
Baixar o aplicativo e contribuir com a contagem e, consequentemente, com a formulação de políticas públicas para a queda do número de atropelamentos de animais nas estradas é uma ação que vai ao encontro do tema da campanha da Semana Nacional de Trânsito: “Minha escolha faz a diferença no trânsito”. O objetivo do tema é alertar a sociedade para os altos índices de mortos e feridos e propor atitudes para mudar o cenário.
“A campanha busca esclarecer que as ações seguras no trânsito vão fazer com que vidas sejam preservadas e que as pessoas se sintam respeitadas. Para isso, elas dependem de escolhas que têm muito impacto. Quando tomamos a decisão de não mexer no celular enquanto dirigimos, por exemplo, estamos fazendo a diferença”, afirma o diretor do Denatran, Elmer Vicenzi.
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