De olho na pista

Mortandade de animais silvestres nas rodovias brasileiras tem estatísticas alarmantes. Sistema Urubu, desenvolvido em Minas, reúne dados e auxilia na adoção de medidas para a redução de impacto.

Meio Ambiente / 18 de Novembro de 2016 / 0 Comentários
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A cada segundo mais de 15 animais morrem nas rodovias brasileiras. Por dia, são mais de 1,3 milhão e, em um ano, até 475 milhões de atropelamentos de espécies selvagens. A estimativa é do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (UFLA), no Sul de Minas Gerais. Diante desses dados assombrosos, profissionais do CBEE lançaram, em abril de 2014, o Sistema Urubu, uma rede social criada para sistematizar e disponibilizar informações sobre a mortandade da fauna nas rodovias e nas ferrovias do país.

“Apesar de estarmos nessa área há mais de dez anos, os números também nos surpreenderam. Percebemos que projetos de pequena escala não adiantariam mais. Tínhamos que conhecer o problema em todo o território brasileiro. Então, pensamos em bolar uma ferramenta com a qual qualquer pessoa da sociedade pudesse colaborar”, relembra o coordenador do CBEE e idealizador do projeto, Alex Bager.

Por meio de um aplicativo – Urubu Mobile (disponível para Android e iOS) –, o usuário envia fotos e a localização do animal. Cada imagem recebida é avaliada por cinco especialistas, e é necessário que haja consenso entre, no mínimo, três deles para que seja confirmada a espécie vitimada. O sistema conta, hoje, com 800 profissionais voluntários no Brasil inteiro responsáveis pela análise das fotos enviadas pelos colaboradores.

De acordo com Bager, o banco de dados tem crescido “enormemente”. O aplicativo teve quase 50 mil downloads nos últimos dois anos, e mais de 20 mil pessoas cadastradas contribuem regularmente com o envio de informações de todas as regiões brasileiras. “Temos dados de todos os Estados, claro que com diferentes intensidades. Recebemos mais do Sudeste do que do restante do Brasil, o que não quer dizer que, de fato, a maior parte dos atropelamentos esteja nessa região”, explica o coordenador.

Pesquisadores, concessionárias que administram rodovias e órgãos governamentais também enviam informações para o sistema, e, em alguns municípios e Estados, a rede social foi adotada como plataforma oficial. O mais recente deles é o Acre, que anunciou, no início deste mês, através da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, a adoção do Urubu como ferramenta de monitoramento do governo.

“Em muitos locais, não temos a formalização direta (do uso do sistema), mas sabemos que ele vem sendo adotado, porque realizamos trabalhos junto às secretarias de Meio Ambiente. Um desses lugares é o Mato Grosso do Sul, e outro é o Paraná. Temos boa quantidade de registros dessas localidades, e o Urubu, agora, está sendo utilizado em várias unidades de conservação também”, explica Bager.

 

Ponto de partida

Apesar dos avanços no mapeamento dos atropelamentos de animais, segundo o idealizador da iniciativa, os cerca de 20 mil dados inscritos no CBEE representam pouco da realidade de um país que possui mais de 100 mil km de malha rodoviária federal. O objetivo do Urubu é apresentar o problema e auxiliar governos e concessionárias a darem o próximo passo: adotar medidas de redução de impactos na fauna brasileira.

“Hoje, temos o Projeto de Lei (PL) 466/2015, que já passou por comissões da Câmara e está pronto para ir para o Senado. Se ele for aprovado, será uma vitória muito grande, que vai gerar uma redução enorme na mortandade”, garante Bager, referindo-se ao PL que “dispõe sobre a adoção de medidas que assegurem a circulação segura de animais silvestres no território nacional, com a redução de acidentes envolvendo pessoas e animais nas estradas, rodovias e ferrovias brasileiras”.

Por outro lado, o criador do Urubu destaca que grandes avanços ocorreram de 2014 para cá, embora ainda haja muito a ser feito. O aplicativo ganhou versões em inglês e em espanhol, e, até o início de janeiro próximo, a expectativa é que a página do sistema na internet também seja traduzida para os dois idiomas. As mudanças vieram para atender às novas demandas, uma vez que a plataforma chegou também à Colômbia e ao Paraguai, que já começaram a enviar informações de atropelamentos locais.

“Estamos criando uma rede latino-americana de biodiversidade e infraestrutura viária. Esperamos que, no primeiro semestre de 2017, já tenhamos dados de todos os países da América Latina ou de, pelo menos, dez outras nacionalidades além do Brasil. O Sistema Urubu vai deixar de ser brasileiro para ser mundial”.

 

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