Defasagem e caminhões parados

Pesquisa do setor de transporte de cargas corrobora o cenário e apresenta novidades

Finanças / 05 de Outubro de 2016 / 0 Comentários
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No mês de agosto deste ano, empresários do setor de transporte rodoviário de cargas debateram os índices e os dados de uma pesquisa realizada pela NTC&Logística com empresas desse segmento. Diferentemente das sondagens anteriores, o estudo aponta a diferenciação da defasagem tarifária entre os tipos de carga, sendo a fracionada com 9,81% e a lotação, com o índice de 22,9%. A análise é feita por meio do comparativo dos fretes praticados no mercado e dos custos efetivos da atividade, ou seja, desconsidera o lucro das empresas.

O assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdívia, explica que, a partir deste ano, o levantamento separou os tipos de carga, fracionada e lotação, e constatou que a defasagem tarifária entre eles é muito grande. Valdívia esclarece, porém, que, se, por um lado, a defasagem tarifária na lotação é maior, por outro lado, na lotação comum, é preciso atuar sobre o custo, reduzir preços e adaptar a empresa à defasagem. Na carga fracional, em que a defasagem tarifária é menor, também as chances para se adaptar à empresa são pequenas. “Todo mundo que adquire um caminhão é um potencial concorrente da carga lotação. Se você compra um caminhão pode entrar na fila para carregar. Já na fracionada não é assim. A empresa possui estrutura, filiais espalhadas, uma rede de coleta. Então, por isso, também se vê que a defasagem da lotação é muito maior do que a da fracionada”, afirma Lauro.

Desaquecimento

Outra parte importante do estudo, realizada entre junho e julho de 2016 com empresários do setor, detectou que 77% deles tiveram queda em sua performance financeira e que 65,4% estão com os veículos parados, o que representa 11,2% da frota.

Valdívia adverte, no entanto, que esses 11,2% podem ser uma estatística ainda maior. “O número não reflete a realidade do setor. Há muitas empresas que encerraram as atividades e não responderam à nossa pesquisa. Essas que pararam de atuar tiveram pelo menos 100% de sua frota parada. Então, o número tende a ser maior”, lamenta.

O presidente da NTC&Logística, José Hélio Fernandes, avalia o histórico da defasagem como grande, mas acredita que “os empresários precisam se lembrar de que a crise uma hora vai passar e de que será ainda mais difícil o processo de retomada para quem negociou seu frete no limite ou abaixo dele”. “Não é a primeira vez que fazemos um apelo aos empresários para cuidarem da gestão consciente dos negócios, principalmente em momentos de crise, quando sabemos que equalizar a conta fica mais difícil. Observamos, pela pesquisa, que grande parte dos entrevistados manteve ou deu desconto no frete – que já sabemos ser defasado – e que apenas 19% conseguiram o reajuste. Nossa luta é para que o setor se fortaleça cada vez mais e consiga se recuperar desse histórico que nos assombra”, destaca.

Lauro aponta duas questões pertinentes ao setor: o fechamento de empresas e a possível velocidade da retomada do mercado. Segundo ele, as empresas de carga tendem a equilibrar a oferta com a demanda. E, em tempos de crises, elas acabam encerrando suas atividades rapidamente, sobretudo as de pequeno porte. O assessor técnico espera que o equilíbrio entre volume de carga e oferta de caminhões seja logo reestabelecido.

Outra preocupação é que, com a melhora do setor, dependendo da velocidade com que ocorra a retomada,  poderão faltar caminhões e profissionais para atender à demanda do mercado, situação que, conforme recorda-se Lauro, já ocorreu. “O volume de carga pode crescer e, com a diminuição de frota e de empregados, pode haver um problema”, diz ele.

Sobre a pesquisa

O estudo é realizado e apresentado semestralmente pela NTC&Logística. A partir desse método, surgiu uma necessidade de mensurar a evolução do segmento de transportes. O assessor técnico explica que a principal ideia é alertar o mercado sobre a defasagem. Segundo ele, infelizmente, no Brasil, existe uma frota cada vez mais velha, que não se consegue renovar. “E ninguém vai comprar caminhão se não tem serviço. Além de não se investir, muitas vezes para-se de fazer revisão da forma adequada, o que aumenta o número de acidentes. Tudo isso é consequência da defasagem. Quando ela é muito alta, a consequência principal fica para a sociedade. Esta é nossa maior preocupação: a vida dos cidadãos”, conclui.

“Todo mundo que adquire um caminhão é um potencial concorrente da carga lotação. Se você compra um caminhão, pode entrar na fila para carregar. Já na fracionada não é assim. A empresa possui estrutura, filiais espalhadas, uma rede de coleta. Então, por isso, também se vê que a defasagem da lotação é muito maior do que a da fracionada.”

 

Lauro Valdívia, assessor técnico da NTC&Logística

 

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