No Brasil, 78% do hidrogênio produzido utiliza energia elétrica renovável, o que o torna líder da produção mundial de hidrogênio verde. É o que revela a série CNT Energia no Transporte com o tema Hidrogênio Renovável - uma das rotas para descarbonizar o transporte rodoviário. De acordo com a publicação, “o potencial do país é um diferencial, pois, na matriz elétrica mundial, apenas 28,6% da eletricidade é produzida com fontes alternativas. Já na Europa, por exemplo, mais de 60% da matriz elétrica não é renovável”.
O estudo mostra que o hidrogênio renovável (H2 verde) figura entre os principais combustíveis sustentáveis e pode despontar como uma das soluções para mitigar a atual emissão de gases do efeito estufa, causadores do aquecimento global. Produzido a partir de fonte energética renovável de origem eólica, hidráulica, solar e de biomassas, o H2 verde tem despertado o interesse de diferentes setores que buscam investir em tecnologias sustentáveis e em descarbonização, como no caso do transporte.
O diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, explica que o Brasil tem potencial para produzir energia limpa em grande escala, e o hidrogênio verde é um dos caminhos. “Estamos em um país continental, e o transporte rodoviário percorre longas distâncias. Por isso, observamos que a solução passa por uma matriz energética diversificada, que conta com o H2 verde, veículos elétricos e biometano para insumos do setor”, disse Bruno.
Ele avalia que há uma grande sensibilidade dos transportadores para a substituição do diesel para outras fontes de energia, mas reconhece a dependência desse combustível no setor. “Os empresários querem - sem dúvida - uma matriz energética mais limpa e segura, especialmente porque a Europa, os Estados Unidos e a China se movimentam em busca da sustentabilidade ambiental. Contudo, não é fácil simplesmente substituir o diesel. É preciso pensar e implementar rotas a partir de uma matriz energética limpa e diversa, e isso é uma política pública”, pontuou.
Segundo o representante da CNT, a confederação tem a oportunidade de apresentar seus estudos para o governo federal e, no início deste ano, enviou diversos materiais para uma secretaria do Ministério de Minas e Energia.
Bom negócio
Além da viabilidade de produção para seu uso nacional, o H2 verde também pode ser exportado, o que impulsiona a utilização de diferentes modos de transporte para viabilizar sua distribuição e consumo nacional e internacional, o que acaba impulsionando o desenvolvimento da integração multimodal.
Atualmente, existem mais de mil registros de projetos de hidrogênio em diferentes países, mas a quantidade dos que são dedicados ao H2 renovável ainda é incipiente. No ranking dos países que mais possuem projetos de hidrogênio, o Brasil está na 21ª posição. Porém, a maioria dos seus projetos é dedicada à produção de hidrogênio verde.
Os fabricantes de veículos automotivos começaram a testar e, de acordo com os experimentos, quando abastecidos com hidrogênio verde, poluem menos do que os abastecidos com diesel. O diferencial foi constatado em testes com três tipos de veículos, incluindo caminhões de 12 toneladas, de 40 toneladas e ônibus urbano. As reduções de emissões de gases do efeito estufa foram de 87% nos caminhões de 12 toneladas; de 85% para os caminhões de 40 toneladas; e de 89% nos ônibus urbanos em relação aos mesmos veículos testados com diesel misturado com 7% de biodiesel.
Alguns modelos de caminhão e ônibus já possuem tecnologia embarcada para serem abastecidos com H2, mas faltam ainda incentivos financeiros para tornar essa alternativa mais acessível, além da necessidade de avançar a infraestrutura de postos de abastecimento.
A legislação brasileira sobre o tema é outro gargalo. A primeira regulamentação foi em 1998, mas, apenas em 2021, houve a publicação de resolução priorizando a destinação de recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para o hidrogênio e demais temas afetos. A consolidação concretizou-se com a instituição, no mesmo ano, do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2). A medida visa estabelecer o H2 como fonte energética para uma matriz nacional de baixo carbono.
Já no setor de transporte, a tendência é que, nos próximos anos, o H2Êverde se torne um combustível automotivo cada vez mais presente devido à sua emissão nula de escapamento, auxiliando, dessa forma, o setor a se descarbonizar, conforme previsto nas contribuições nacionalmente determinadas pelo Acordo de Paris, firmado pelo Brasil em 2015.
O que é o hidrogênio renovável?
O hidrogênio (H2) é uma das fontes energéticas mais abundantes do planeta e pode ser encontrado na superfície terrestre na forma combinada com outros compostos, como nas moléculas de hidrocarboneto (hidrogênio e carbono - HC), na amônia (nitrogênio e hidrogênio - NH3) e na água (hidrogênio e oxigênio - H2 O).