Dor nas costas: ligue o sinal de alerta
Lombalgia acomete muitos trabalhadores da estrada e precisa de cuidados. Problema pode esconder doenças mais graves
A- A A+São horas sentado ao volante, muitas vezes, sem atentar para a adequada postura. Não é raro encontrar um trabalhador da estrada que reclame de dores na coluna, sentidas mais fortemente durante o ofício. Mas o problema é generalizado. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a dor nas costas acomete ou ainda vai acometer, pelo menos por uma vez, 80% da população. Engana-se quem acha que é um problema simples e vai passar ou que é jovem para isso: a queixa está cada dia mais comum em todas as idades.
A dor nas costas, ou lombalgia, segundo o ortopedista e especialista do Centro Médico São José, na cidade de Cerquilho, em São Paulo, Filippo Zozolotto, pode estar relacionada a problemas como traumatismo, excesso de carga, abaixar-se e levantar-se muitas vezes, fadiga, mau jeito, sedentarismo, postura errada, estresse, carência de vitaminas e até problemas metabólicos, como hipotireoidismo e excesso de ácido úrico no organismo.
Um grande problema, segundo ele, é que muitos pacientes ficam anos sentindo dores e não procuram ajuda. “Muitos pacientes sofrem, há muito tempo, com dores constantes e não procuram atendimento médico, por acreditarem que a dor é uma patologia simples”, explica. No entanto, segundo Filippo, inúmeras doenças graves podem parecer uma lombalgia, ou seja, a dor esconde uma enfermidade, como aneurisma aórtico, endometriose, gravidez tubária, cálculo renal, pancreatite e até cânceres.
Associado às dores, de acordo com o ortopedista, vem outro problema: o uso indiscriminado e sem receita médica de medicamentos, principalmente relaxantes musculares. A dor até pode passar, mas volta assim que o efeito acaba. “A pessoa pode estar com uma doença de maior gravidade, um tumor, por exemplo, que terá os sintomas mascarados com a automedicação”, alerta.
Recentemente, uma dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo revelou que 59% dos caminhoneiros de São Paulo têm lombalgia. A principal causa apontada foi o elevado número de horas de trabalho. O resultado é o afastamento temporário e até permanente do trabalho. A pesquisa foi feita pela fisioterapeuta Silvia Ferreira Andrusaitis, que revelou ainda que para cada hora de trabalho o risco de um motorista ter dor lombar aumenta 7%. A fisioterapeuta identificou que os 410 caminhoneiros entrevistados não apresentaram dor na região lombar antes do exercício da atividade.
PREVINA-SE!
Veja algumas dicas para evitar a lombalgia:
Pratique atividades físicas regulares. Uma dica é fazer caminhada em ritmo mais acelerado nas paradas, em volta do caminhão
Evite dormir sempre na mesma posição
Evite ficar longos períodos na mesma posição. É preciso parar, esticar o corpo, caminhar
Cruze as pernas esporadicamente para auxiliar no relaxamento da musculatura das coxas e da coluna lombar
Ao dirigir ou sentar-se, apoie bem as costas, com os pés inteiros no chão
Realize movimentos corretos de agachamento ao pegar um objeto no chão. Nunca curve a coluna para pegar o peso
Evite excesso de peso. Se for necessário, peça ajuda
Não guarde a carteira no bolso de trás da calça, pois sentar-se sobre ela pode causar um desequilíbrio na região lombar
Evite o uso de bolsas ou mochilas pesadas. O peso das mochilas não deve passar de 5% a 10% do peso da criança ou do adulto, a fim de não causar desconforto e, consequentemente, dor.
NA ESTRADA
No estudo, Silvia Ferreira destacou que, além da postura errada, os trabalhadores da estrada permanecem sentados por muito tempo, com exposição à vibração do veículo, inclinações e rotações excessivas do corpo. Também carregam objetos pesados e mantêm a concentração sem períodos adequados para relaxamento. De acordo com a pesquisa, 77% dos caminhoneiros pesquisados não praticavam atividade física e 33,9% responderam que a dor nas costas reflete-se nos membros inferiores.
Segundo Filippo Zozolotto, o diagnóstico da lombalgia é feito primeiro por meio de análise da vida do paciente, sobre a profissão, hábitos e tempo em que sente as dores. Depois, são feitos exames de imagem para diagnosticar possibilidades como traumatismo. No tratamento, é importante o repouso por dois ou três dias e uso de analgésicos e anti-inflamatórios. Para as lombalgias crônicas, segundo ele, é preciso aliviar a intensidade da dor, reduzir a inflamação local, corrigir a fraqueza muscular, restabelecer a mobilidade e até fazer correções cirúrgicas em casos mais graves. Geralmente, são dores que persistem por mais de duas semanas.
Para os profissionais que trabalham durante longos períodos sentados dirigindo, é importante de tempos em tempos se movimentar. Realizar alongamentos, paradas regulares para que a musculatura da coluna vertebral esteja em movimento. Deve-se evitar trechos longos e, ao início da dor, realizar exercícios de alongamento. Quanto ao uso de medicamentos, deve-se evitar relaxantes musculares, pois estes, podem ter como efeito colateral o sono, prejudicando o trabalhador. Caso os sintomas persistam, mesmo com os exercícios de alongamentos, deve-se procurar um profissional da área, para realizar exames e diagnosticar a causa das dores, além de realizar o tratamento correto, evitando, com isso, a piora dos sintomas e complicações da mesma.
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