Dormir é preciso
A privação do sono é a terceira maior causa de acidentes nas estradas brasileiras. Especialistas garantem: adormecer faz bem para o corpo e a mente.
A- A A+Muitas pesquisas são feitas para identificar a qualidade do nosso sono. Mas, afinal, para que ele serve e por que não devemos nos privar dele? Os especialistas são categóricos: o sono é um dos momentos mais importantes do dia. Em geral, as pessoas passam oito horas dormindo, oito horas no trabalho e mais oito horas realizando outras atividades. No entanto, nem toda profissão segue esse fluxo e nem todo organismo tem a mesma necessidade.
Segundo informações do Ministério da Saúde, dormir é um alimento para o corpo, já que repõe as energias, revigora o físico e a mente e nos prepara para uma nova jornada. Durante o repouso, o sistema imunológico se fortalece, os hormônios são regulados e a memória é consolidada.
De acordo com o Guia do Sono, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), dormir é o momento de recuperação, e não fazê-lo tem um efeito semelhante ao da embriaguez, com prejuízos da coordenação motora e da capacidade de raciocínio. “O processo do sono é comandado por um relógio biológico programado em um ciclo de 24 horas. Todo esse mecanismo é adaptado geneticamente, e o seu desenvolvimento depende de alguns fatores externos, como local, hábitos e vida social”, afirma o documento.
O estudo que resultou no Guia do Sono diz ainda que a peça-chave dessa sincronia é a melatonina, um hormônio produzido no cérebro pela glândula pineal. Assim que o sol se põe, essa substância começa a avisar ao organismo que é hora de se preparar para o repouso.
Dormir de seis a oito horas por dia significa cumprir todo um ciclo de cinco fases. Por isso, é indicado por especialistas, mas cada pessoa tem o seu próprio ritmo de sono e pode necessitar de menos ou mais tempo.
A primeira fase do adormecimento dura aproximadamente 15 minutos e é o momento em que o cérebro começa a descansar, o corpo relaxa e a respiração fica mais leve. Na segunda fase, a temperatura corporal e os ritmos cardíaco e respiratório diminuem. Já na terceira, o corpo começa a entrar em um sono profundo e as ondas cerebrais desaceleram.
Na quarta fase, segundo o Guia do Sono da Fiocruz, o sono é profundo e, portanto, é o momento da reposição das energias. É aqui, nessa etapa, que o organismo libera os hormônios do crescimento e recupera células e órgãos. Na última fase, a atividade cerebral volta a acelerar para realizar um tipo de faxina na memória, selecionando as informações que devem ser guardadas e as que podem ser eliminadas. Também é nela que os sonhos acontecem.
Risco de acidente
Quem trabalha no turno da noite, na estrada ou com poucos períodos de descanso deve ficar atento aos sinais de fadiga causados pela falta de sono. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) divulgou recentemente dados de acidentes nas rodovias brasileiras e constatou que 283,5 mil ocorrências tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à saúde dos motoristas. Os dados se referem ao período entre janeiro de 2014 e julho de 2020. Nesse intervalo, foram mais de 14 mil mortos e 247 mil feridos. As informações foram coletadas a partir de levantamentos da Polícia Rodoviária Federal.
Entre os principais problemas identificados estão a falta de atenção, o consumo de álcool, a sonolência do condutor, o mal súbito, a restrição da visibilidade e a ingestão de substâncias psicoativas. Mais de 22 mil acidentes tiveram como causa comprovada a sonolência.
“Essas situações denotam quadros direta ou indiretamente associados às condições de saúde dos condutores, como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio”, pontua o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior.
Para ele, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito das ações e das políticas públicas destinadas à redução dos indicadores de risco. “Observar bons hábitos de sono – tratando possíveis doenças e dormindo o suficiente antes de qualquer viagem – previne acidentes causados por sonolência”, afirma Meira Júnior.
A falta de sono acarreta redução do tempo de reação ao volante, dificuldade no processo de informação, memória de curto prazo e diminuição da visibilidade.
Entre os principais problemas relacionados ao sono estão a insônia, que é a dificuldade para dormir; o ronco, caracterizado pelo bloqueio do ar na garganta; a apneia, que é o ronco prolongado e sonoro; o bruxismo, definido como o ranger de dentes de forma inconsciente; o sonambulismo, que é falar e caminhar durante o sono; e a narcolepsia, uma sonolência excessiva. Identificando qualquer um desses problemas, é importante buscar ajuda médica.
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