E o valor do frete?
Com alta do óleo diesel nas bombas, transportadores estimam impacto significativo nos custos. Muitos ainda tentam não repassá-la para não perderem a clientela.
A- A A+O transportador brasileiro virou o ano com uma notícia que impacta diretamente seu trabalho e seus custos: o preço médio da gasolina, do etanol e do diesel atingiu valores recordes desde o início da série histórica medida semanalmente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O preço médio de revenda atingiu R$ 3,046 na última medição de 2016, divulgada na primeira semana de 2017. No início de fevereiro, o valor do litro do diesel chegou a R$ 3,121.
Segundo a ANP, os dados mostram que o reajuste da gasolina ganhou fôlego a partir de dezembro do ano passado, quando houve aumento do preço do combustível nas refinarias por parte da Petrobras. O valor da gasolina aumentou 2,95%, enquanto em todo o ano de 2016 ficou 3,3% abaixo da inflação.
O preço do frete é o primeiro a ser impactado pela alta do diesel. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), cerca de 60% das cargas do país são transportadas por caminhões. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Centro-Oeste Mineiro (Setcom), Raimundo Luiz Fernandes, o diesel é o que mais impacta o segmento do transporte.
O frete, segundo ele, está extremamente defasado. “Não conseguimos nem repassar os valores e pedimos até uma consciência do embarcador com a situação. Eles acabam aproveitando a oferta de trabalho, mas isso dificulta cada dia mais as condições do transportador. Muitos estão endividados e, por isso, aceitam um preço aquém do praticado no mercado”, afirma.
De acordo com Fernandes, o aumento do combustível impacta também uma série de outros insumos do frete, como pneus e peças. “Temos orientado o transportador a não praticar fretes que estão realmente muito abaixo do mercado, mas é complicado porque famílias dependem desses trabalhadores. Outra coisa é que há uma ilusão de que vai haver uma revisão no futuro, e isso não acontece. Damos cursos, trazemos profissionais para conversar e orientar sobre a cobrança”, diz o presidente do Setcom.
Em fevereiro, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) divulgou a primeira pesquisa sobre a defasagem do frete deste ano. A análise identificou uma defasagem de 24,83% nos fretes de carga lotação. Para a fracionada, o número é de 11,77%. Os dados foram apresentados pelo assessor técnico da NTC, Lauro Valdívia, durante um congresso nacional de empresas de transporte, o CONET&Intersindical. A pesquisa apresentada por ele foi feita em colaboração com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e mostra que houve queda no faturamento do setor. Em 80% das empresas pesquisadas, o faturamento de 2016 caiu cerca de 19%. Entre os fatores estão o aumento dos custos e a redução do volume de cargas.
Segundo o estudo, é importante observar que existem custos suportados pelas empresas e que necessitam ser cobrados de acordo com a especificidade do serviço, como o frete-valor, o gerenciamento de risco, a taxa de restrição ao trânsito, entre outras. “Também existem despesas de caráter emergencial, como é o caso da emergência excepcional, criada para cobrir os custos decorrentes de situações de falta de segurança, escoltas urbanas e aumento no valor da cobertura securitária para as cargas nas modalidades CIF (frete pago na origem) e FOB (frete pago pelo destinatário)”, descreve a pesquisa.
De acordo com o Guia do Transportador Rodoviário de Cargas (TRC), o frete-valor é um percentual sobre o valor da carga constante na nota fiscal e varia conforme a distância a ser percorrida. Já o gerenciamento de risco são atividades de alto custo desenvolvidas pelas empresas para evitarem os roubos de cargas, como rastreamento, plano de cuidados na contratação de carreteiros, rapidez no atendimento a sinistros, entre outros. E a taxa de restrição ao trânsito foi criada em consequência à restrição da circulação de veículos de transporte de carga imposta em mais de cem municípios no país, o que dificulta as entregas nos centros urbanos. Essa taxa, segundo o Guia do TRC, busca ressarcir o transportador pelos custos adicionais sempre que a coleta ou a entrega de produtos é feita numa cidade com restrição.
Segundo Gladstone Lobato, vice-presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga de Minas Gerais e do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Minas Gerais (Fetcemg e Setcemg), a base calculada hoje é que 35% do valor do frete é para o diesel. “A situação está complicada para todo mundo. As empresas não conseguem viver sem o aumento e precisam repassar. O repasse está entre 8% e 11% sobre o valor dos 35%. Agora, estamos em negociação para tentar repassar o resto. O combustível está subindo, e os gastos, aumentando”, afirma.
Para não perderem a viagem, muitos trabalhadores acabam embutindo o valor do reajuste no próprio custo, mas, para Gladstone Lobato, é uma situação insustentável porque o custo do transporte é muito alto. Conforme ele acrescenta, maio é a data-base para o aumento salarial do funcionário do setor de transporte, e as empresas hoje não estão tendo frete para pagar as contas. “O trabalhador também tem suas contas, mas, para as empresas de transporte, está muito pesado”, salienta. Com relação ao diesel, de acordo com ele, não há negociação direta. “Temos é que ser remunerados pelo valor que pagamos. O que temos que ter é tarifas condizentes com o valor do custo. Essa é a situação que pleiteamos junto aos embarcadores”, diz o vice-presidente.
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