Se o setor de transporte está em busca de promover a igualdade de gênero, o setor público que atende a área também precisa mudar. Para isso, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, e o ministro dos Transportes, Renan Filho, assinaram em abril um protocolo de intenções para promover o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram a necessidade urgente: as mulheres brasileiras recebem 22% a menos que os homens. A diferença é ainda maior quando são considerados somente cargos de gerência e diretoria: elas ganham apenas 61,9% do rendimento. As mulheres negras recebem, em média, menos da metade do salário de homens brancos (46%).
O propósito do protocolo é incentivar a igualdade em acesso, remuneração, ascensão e permanência no emprego nas agências reguladoras e empresas públicas vinculadas ao Ministério dos Transportes e em toda a rede de companhias que atuam direta e indiretamente nas infraestruturas rodoviária, ferroviária e logística do país. Essa iniciativa também visa combater ativamente as dinâmicas de discriminação e desigualdade de gênero e raça praticadas no ambiente de trabalho.
Em entrevista à Agência Brasil, a ministra Cida Gonçalves enfatizou que o Pró-Equidade contribui para o desenvolvimento do país. “Devemos incluir a igualdade de gênero e racial em nossa agenda política, empresarial e cotidiana como uma meta, um direito, uma conquista. O Brasil precisa entender que a igualdade é benéfica; gera lucro; traz felicidade, respeito, dignidade, equilíbrio e humanidade”, afirmou.
O ministro Renan Filho corrobora: “a ação conjunta das pastas dos Transportes e das Mulheres, que coordena o Pró-Equidade, é desenvolvida para cumprir essa agenda de valorização das brasileiras e ampliar a sua presença em toda a cadeia logística da infraestrutura. O presidente Lula foi muito enfático no que diz respeito à remuneração igual para o desempenho das mesmas funções. Acredito que essa seja uma das agendas mais relevantes”, destacou.
Lançado em 2005, o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça é uma iniciativa do governo federal coordenado pela Secretaria Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres. O objetivo é difundir novas concepções na gestão de pessoas e promover a igualdade de gênero e raça no que diz respeito às relações formais de trabalho e à ocupação de cargos de direção.
Oportunidades e desafios
Segundo o Índice de Equidade do TRC de 2024, houve um aumento de 73,33% na proporção de mulheres nas empresas, passando de 15% em 2023 para 26% neste ano. Além disso, 27% das empresas disseram que fazem um acompanhamento do número de mulheres e homens na empresa em geral, representando um crescimento de 2%.
“Os números mostram que todo nosso esforço de conscientização e ações junto às empresas estão surtindo efeito. Acredito que as organizações buscam conhecimento, troca de experiências e boas práticas no sentido de promover um bom ambiente para as mulheres no TRC”, explicou Ana Jarrouge, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) e idealizadora do Movimento Vez & Voz. A iniciativa busca valorizar as mulheres que atuam no setor de transporte rodoviário de cargas e fomentar o crescimento profissional da figura feminina dentro do segmento.
Ainda conforme os resultados, 44% das empresas de transporte de cargas em São Paulo possuem estratégias para ampliar a quantidade de mulheres, número 4% maior do que no ano anterior.
Apesar do crescimento na proporção de mulheres nas empresas, apenas 3% delas trabalham como motoristas ou ocupam cargos de liderança. Em 2024, houve uma queda de 6% em relação ao ano passado quando o tema é “Funções e Nível Hierárquico”. Para Jarrouge, esse é um ponto importante para evoluir. “Não podemos deixar as profissionais ‘nichadas’ em determinadas funções, comuns para mulheres, tais como: área administrativa em geral, RH, jurídico e áreas relacionadas. Precisamos avançar e demonstrar para elas e para as empresas que as mulheres, assim querendo, têm total capacidade de ocupar cargos operacionais e de alta liderança”, disse.
Segundo a presidente do Setcesp, não adianta uma empresa querer contratar uma motorista profissional mulher e exigir muita experiência. É preciso assumir um compromisso social e preparar essas mulheres com apoio de instituições. “Entre as ações a serem tomadas, é importante ter uma escolinha interna com instrutor e outras ações que promovam não só a atração, mas a inclusão de fato dessas mulheres em funções antes exercidas somente por homens. Assumir a pauta de equidade não é apenas uma decisão empresarial, deve ser um compromisso social”, concluiu.