Freio no investimento

Aportes do governo federal nos 15 piores trechos rodoviários do Brasil ficam aquém do necessário estipulado pelo Dnit. Segundo estudo da CNT, dois deles passam por Minas.

Estradas / 24 de Maio de 2018 / 0 Comentários

Rodovias brasileiras passam por obras, mas investimento é menor que o considerado necessário pelo Dnit

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Minas Gerais aparece duas vezes na relação das 15 piores ligações rodoviárias brasileiras, elaborada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) a partir de dados apurados pela pesquisa “CNT de Rodovias” nos últimos 14 anos. O estudo “Rodovias Esquecidas do Brasil – Transporte Rodoviário”, divulgado no fim de março, considerou as extensões majoritariamente de jurisdição federal e que apareceram, no mínimo, quatro vezes entre as últimas posições do ranking de classificação das pesquisas publicadas de 2004 a 2017.

Os trechos mineiros que figuram a lista são o de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, a João Neiva, no Espírito Santo (BR-259 e BR-381); e o de Poços de Caldas, no Sul do Estado, a Lorena, no interior de São Paulo (BR-459).

A conclusão do trabalho é que as más condições das ligações – trechos formados por uma ou mais rodovias pavimentadas, de grande importância socioeconômica e volume de transporte de cargas ou de passageiros – se devem à falta de apoio do governo federal. No período analisado, o investimento público médio anual por quilômetro (km) foi de R$ 66,51 mil nas rodovias esquecidas, enquanto a média nacional, no ano passado, foi de R$ 144,27 mil.

“A insuficiência de recursos fica mais evidente quando analisamos os números dos custos médios gerenciais divulgados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Para manutenção, são necessários, em média, R$ 308 mil por quilômetro de rodovia. Ou seja, a média no Brasil foi cerca de 50% do previsto e, nas rodovias esquecidas, ficou pouco acima dos 20% do valor preconizado pelo Dnit”, afirma a CNT.

A ineficiência da infraestrutura rodoviária brasileira deixa o Brasil na 103ª colocação, em uma lista de 137 países, no quesito qualidade, conforme retratado no Relatório de Competitividade Global 2017-2018, do Fórum Econômico Mundial.

Trechos mineiros

Segundo o estudo da CNT, nos 279 km de ligação entre Governador Valadares e João Neiva (BR-259 e BR-381), o custo operacional dos transportadores encareceu 44,1% em 2017 em função da qualidade do pavimento (em 2004, o aumento havia sido de 34%).

No ano passado, a pesquisa da entidade apontou que em 95,7% da extensão não há acostamento, e existem desgastes e trincas. Além disso, o trecho não conta com dispositivo de proteção contínua.

O investimento médio anual do governo nessa ligação é de R$ 136,88 mil/km, 55,6% do total considerado ideal pelo Dnit. Somente em 2017, foram contabilizados 110 acidentes na região (com 13 vítimas fatais), responsáveis por um custo de R$ 18,02 milhões para a sociedade, conforme apontado pela CNT.

Já na ligação entre Poços de Caldas e Lorena (BR-459) – total de 248 km –, que atende a 15 municípios, o pavimento, avaliado como regular, ruim ou péssimo pelas pesquisas da confederação, acrescenta 23,9% ao custo operacional dos transportadores.

O trecho recebeu ainda menos investimentos da União na média por ano: R$ 54,8 mil/km, 82,2% abaixo do valor de referência do Dnit. No ano passado, o custo econômico dos acidentes – um total de 174 – chegou a R$ 19,74 milhões na ligação. Oito pessoas morreram.

Soluções

De acordo com levantamento feito a partir dos resultados de pesquisas, a solução apontada pela CNT para os trechos que aparecem repetidamente na relação dos piores do país inclui a recuperação de 4.937 km de rodovias que atendem às ligações e que apresentam defeitos no pavimento (desgaste, trinca, remendos, afundamento, ondulações e buracos) e a recuperação ou a troca de placas desgastadas ou totalmente inelegíveis distribuídas em 1.695 km das ligações.

Também foram apontados como solução a pintura de 2.812 km de rodovias onde a faixa central é desgastada ou inexistente; a pintura de 3.122 km de rodovias nos quais as faixas estavam desgastadas ou não existiam; a implementação de placas e defesas em trechos com curvas perigosas, mas sem dispositivos de segurança; e a construção de acostamento em 3.456 km de rodovias.

A conclusão do estudo da Confederação Nacional do Transporte é a de que são necessários R$ 5,8 bilhões para solucionar os principais problemas identificados nas 15 piores ligações rodoviárias brasileiras. O montante representa 69,7% do recurso autorizado pelo governo federal para intervenções na malha rodoviária em 2017, “o que demonstra a incapacidade do governo de melhorar as rodovias sem o apoio da iniciativa privada”, afirma a entidade.

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