Imprudência = acidentes

Levantamento do Observatório de Segurança revela impacto do comportamento do motorista na segurança viária.

Capa / 29 de Outubro de 2024 / 0 Comentários

Ações de conscientização e atendimento de primeira resposta salvam vidas.

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Levantamento recente do Observatório de Segurança revela que 47,9% de todos os acidentes registrados em Minas Gerais tiveram como causa a falta de atenção do condutor, representando 228.421 ocorrências entre janeiro de 2023 e agosto de 2024. O estudo faz parte do Painel de Trânsito, administrado pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), e alerta sobre a importância de comportamentos individuais para a redução de vítimas e acidentes.

Segundo essa pesquisa, nesse período, foram mais de 1 milhão de vítimas, sendo 748 mil homens (72%) e 298 mil mulheres (28%), que estavam sobretudo em automóveis e motocicletas. 
O levantamento também apresenta dados animadores: houve diminuição no número de acidentes, no geral, cuja causa presumida foi ingestão de álcool. Com ocorrências passando de 2.864 para 2.691, a queda foi de 6% na comparação dos oito primeiros meses de 2024 com o mesmo período de 2023.
Os sinistros provocados por problemas nas vias caíram 14,4%, com registros diminuindo de 4.126 para 3.530. Também vale destacar que os acidentes no Anel Rodoviário de Belo Horizonte que resultaram em alguma vítima apresentaram queda de 11,8% no comparativo de janeiro a agosto deste ano com o ano passado. Foram 68 menos registros de sinistros com alguém ferido (577/509) no trecho que já foi considerado o maior gargalo de trânsito da capital mineira.
 
Minutos que podem ser fatais
O empresário Valdir Paes viu a vida mudar completamente enquanto trabalhava há dois anos como entregador de peças para multinacionais. Com sua experiência de 20 anos (na época), ele saiu para atuar em um dia comum: foi até Itaúna buscar uma encomenda e, quando voltava para Betim, na divisa de Mateus Leme e Juatuba, foi atingido por um veículo que tinha batido na outra mão da via e ultrapassou para o lado da rodovia que Valdir trafegava. Ele tentou amenizar, desviou-se, mas se chocou contra o paralama.
O resgate chegou, mas, durante o atendimento, a respiração dele parou e o socorrista ligou imediatamente para uma equipe técnica externa que orientou fazer um furo debaixo da axila. Foi certeiro: Valdir voltou a respirar. Devido à gravidade, foi levado desacordado ao Hospital Regional de Betim, e os médicos identificaram fraturas profundas na perna e também infecção pneumotórax.
“Não me lembro dos primeiros 30 dias no hospital. Soube da gravidade do acidente por causa das intensas dores, do processo de recuperação longo e do relato de minha esposa, meu filho e alguns amigos que me acompanharam nesse período. O fato é que, de uma hora para outra, minha vida mudou, mas tive a graça de ter nova chance! Deus me permitiu e colocou pessoas maravilhosas ao meu lado”, agradece Valdir.
Foram três meses de hospital e um período intenso de recuperação, que passou por muitas consultas médicas por causa de dores, de infecções, fisioterapia. Mas ele não desistiu. Mesmo com a gaiola na perna – espécie de fixador circular –, ele tentou fazer as atividades do dia a dia, inclusive treinos de musculação.
Hoje, com 52 anos, tem plena forma física e continua fazendo monitoramento da saúde e das fraturas (que estão em processo de calcificação).
 
Anjos que guardam vidas
Em relação ao Estado de Minas Gerais, a BR-381 é uma das piores estradas do país e leva consigo a triste denominação de “rodovia da morte”, e, especialmente em um dos trechos mais perigosos, os motoristas que lá transitam contam com verdadeiros salva-vidas das estradas.
O grupo Anjos do Asfalto, formado por voluntários de diversas áreas de atuação, presta atendimento às vítimas de acidentes de trânsito na BR-381, entre Sabará e João Monlevade, e nas demais rodovias de ligação com o raio de até 100 km. São quase 20 anos de atuação e cerca de 2.500 atendimentos.
“Quando acontece um acidente, nossa primeira preocupação é a sinalização. Assim evitamos que outro possa acontecer. Para tanto, contamos com 34 voluntários, que são, na maioria, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Também temos estudantes de medicina, socorristas e um médica que faz parte do grupo”, explica o presidente dos Anjos do Asfalto, Geraldo Eugênio de Assis.
Ele enfatiza que todos os profissionais que atuam no grupo de resgate têm qualificação técnica, a qual, permanentemente, é aprimorada. Os voluntários fazem formações e treinamentos internos que demostram a importância do cuidado com a direção e com as consequências que um acidente pode gerar na vida das pessoas. 
Os veículos que prestam o atendimento contam com equipamentos de ponta, como desencarcerador (ferramenta que auxilia na retirada de vítimas presas em ferragens em acidentes automobilísticos), mantas pneumáticas, para elevação do veículo ou estruturas colapsadas de grande peso e pequeno espaço, desfibrilador externo automático e imobilizadores veiculares para garantir a segurança de todos na retirada de vítimas. 
“Um acidente é sempre uma perda. Por mais que nos esforcemos em parceria com as equipes de resgate oficiais, os prejuízos materiais e pessoais podem ser dramáticos. Os profissionais do Corpo de Bombeiros Militar e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fazem um trabalho magnífico, e nos colocamos apenas na condição de auxiliar. Nossa atuação voluntária visa minimizar o sofrimento da vítima até a chegada dessas equipes e trabalhamos com esse propósito há quase 20 anos”, orgulha-se Geraldo.
A equipe dos Anjos também realiza palestras e simulações de resgate às vítimas de acidentes e tem intensa presença em eventos que tratam da segurança nas estradas com os objetivos de apresentar a importância do primeiro atendimento e de conscientizar sobre a conduta adequada nas estradas.
Anjos que ajudam anjos
Para manter a atuação, o grupo de resgate tem parceiros que valorizam o trabalho desenvolvido e confiam na excelência do atendimento prestado pelos Anjos do Asfalto. São eles: Prevenir Proteção Veicular, Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais (Sintrauto/MG), Cooperativa dos Transportadores de Automóveis e de Consumo do Estado de Minas Gerais (Coopercemg), Prevenir Truck, Constance, Tauá (rede de resorts), Rotary Contagem, Trailer do Amigão, Associação de Fomento e Cooperativismo ao Transporte de Cargas do Brasil (Afocoop) e Associação Particular de Ajuda ao Colega (Apac) Sul.
“Os Anjos do Asfalto têm nosso respeito e admiração. Nossa parceria de longa data é fruto da confiança e do reconhecimento do trabalho desenvolvido pelos profissionais voluntários que fazem parte do grupo. Importante ressaltar que nossos objetivos se convergem, pois o Sintrauto também realiza uma série de ações com seus sindicalizados para garantir a segurança nas estradas”, comemora o presidente da instituição, Carlos Roesel.
 
Transporte seguro
Ele detalha que o sindicato promove iniciativas para garantir a segurança dos profissionais como a Chamada Digital – com o objetivo de oferecer conforto e praticidade aos motoristas e frotistas, evitando tempo de espera – e comunicações sobre segurança no trânsito. “Colocamos ainda limite de velocidade, e, com essa ação, a redução de acidentes é uma constante. Segurança, profissionalismo e competência são diretrizes do sindicato para seus filiados”, comemora Roesel.
Sérgio Pedrosa, presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), diz que uma empresa de transporte deve “respirar” segurança em todos os seus aspectos. “No nosso setor, as que já fizeram essa mudança de comportamento estão investindo constantemente em capacitação. A cultura da segurança e a postura de trabalhar em segurança devem ser contínuas. O treinamento permanente da equipe em direção defensiva e protocolos de segurança são fundamentais para preparar os profissionais para desafios inesperados”, afirma.
Para o representante da categoria, cada transporte que uma empresa realiza possui uma série de desafios, e todos eles convergem de alguma forma para a segurança. Gerenciar eficiência operacional e garantir segurança no transporte envolvem uma abordagem integrada de gestão de riscos, segundo ele. Para tanto, explica, é essencial utilizar tecnologias emergentes, como sistemas de rastreamento em tempo real, que permitem monitorar cargas e veículos, além de enviar alertas em caso de desvios. 
“Hoje, a tecnologia nos ajuda, por exemplo, informando – em tempo real – às empresas se o motorista está com fadiga. Além disso, a adoção de práticas sustentáveis, como veículos eficientes e rotas otimizadas, contribui para a segurança e a responsabilidade ambiental. A identificação proativa de perigos e a implementação de medidas preventivas minimizam interrupções e melhoram a eficiência operacional, protegendo o trabalhador e a empresa e reduzindo custos com incidentes”, afirma Pedrosa.
 
Atitudes seguras
A equipe da Entrevias contactou o inspetor Aristides Junior, chefe da Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Minas Gerais, para apresentar aos leitores as principais condutas pra realização de uma viagem segura.
“Planeje sua viagem e faça a revisão de seu veículo. É fundamental verificar a presença e o funcionamento de todos os equipamentos obrigatórios. Verifique também toda a documentação do veículo e do condutor. Todos os ocupantes devem portar documento de identificação, inclusive crianças e adolescentes. O condutor e todos os passageiros do veículo devem utilizar o cinto de segurança, e crianças menores de 7 anos e meio devem usar o equipamento obrigatório compatível (bebê-conforto, cadeirinha e/ou assento de elevação)”, pontua o inspetor Aristides Junior.
Outro foco de atenção está na condução do veículo: respeite os limites de velocidade estabelecidos para a via e obedeça às placas de sinalização. “Onde não existir sinalização ou se essa estiver prejudicada, mantenha a velocidade compatível com as condições da via. Quanto maior a velocidade, maior é o risco e mais graves os sinistros”, frisa o agente.
No momento da ultrapassagem, sempre o faça pela e somente em locais permitidos e, principalmente, onde houver todas as condições necessárias para a execução da manobra com segurança. Antes de iniciar uma ultrapassagem, certifique-se da distância e da visibilidade do veículo que pretende ultrapassar e dos que vêm em sentido contrário. 
Se outro veículo o estiver ultrapassando ou tiver sinalizado a intenção de fazê-lo, dê a preferência e aguarde a vez. “Sinalize toda a manobra com antecedência. Redobre a atenção ao ultrapassar ônibus e caminhões. Por se tratar de veículos grandes e pesados, é preciso se certificar de que há espaço suficiente para realizar uma ultrapassagem segura e, ao ser ultrapassado, não acelere, não mude a trajetória do veículo e mantenha distância segura do veículo à frente”, acrescenta.
Também é essencial manter distância segura do veículo que vai à frente a fim de evitar colisões traseiras (tipo de acidente que mais tem sido registrado no Estado) nos casos de freadas bruscas. Ocupantes de motocicletas devem sempre usar o capacete e garantir distância das laterais traseiras dos veículos, eliminando assim o chamado “ponto cego”. Antes de mudar de faixa de rolamento, use os retrovisores e não trafegue próximo a caminhões. O deslocamento de ar produzido por esses veículos pode desestabilizar a motocicleta. Sempre circule com o farol ligado para facilitar a visualização da motocicleta pelos pedestres e pelos veículos que estão em sentido contrário.
Mesmo durante o dia, é indicado trafegar sempre com os faróis acesos, pois aumenta a visibilidade dos demais condutores e, principalmente, dos pedestres, além de melhorar a percepção de distância aproximada. Em perímetros urbanos cortados por rodovias, os motoristas devem redobrar a atenção e reduzir a velocidade sempre que verificarem a presença de pedestres nos acostamentos e às margens das rodovias.
Neste período do ano, quando tradicionalmente começam as chuvas, a orientação é evitar estacionar no acostamento caso tenha que parar. O indicado é procurar um local seguro afastado da pista de rolamento, reduzir a velocidade e aumentar a distância em relação ao veículo que segue à sua frente. 
“Dirija com atenção e seja prudente. Depois que acontece um acidente, pode ser um caminho sem volta. Quem de nós não chora pela perda de um ente querido que um dia se foi em um acidente? Pense nisso ao se arriscar em uma ultrapassagem ou mesmo em não colaborar com outros condutores para que um acidente seja evitado”, alerta o presidente dos Anjos do Asfalto, Geraldo Assis.

 

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