Infância perdida
Especial
A- A A+Somente em 2013, mais de 1.500 crianças e adolescentes morreram no trânsito brasileiro
No mês voltado para celebrar a vida de crianças, apresentamos um dado trágico: em 2013, 1.694 crianças e adolescentes entre 0 e 14 anos morreram no trânsito no Brasil, o que corresponde a 4% de todas as mortes em vias no país, de acordo com o Ministério da Saúde. Essa faixa etária representa 24% da população brasileira.
Segundo Tiago Bastos, doutor em engenharia de transportes, professor da Universidade Federal do Paraná e membro do Observatório Nacional de Segurança Viária, 41% das vítimas nessa faixa etária estavam a pé. “Quem seriam esses pedestres? Uma criança de colo, carregada pela mãe, que pode ser atropelada, um bebê num carrinho, uma criança que já sabe ir à escola sozinha, um pré-adolescente que tem um número maior de atividades e se desloca a pé, pois ainda não possui transporte próprio. Esses são alguns dos motivos”, exemplifica.
Bastos aponta uma importante questão das crianças que são pedestres. Segundo ele, a infraestrutura disponível é bastante precária. “Antes de boas ruas, sem buracos, asfaltadas, deveríamos ter ótimas calçadas, em perfeito estado, niveladas, e travessias de pedestres, ou seja, condições que proporcionassem o deslocamento com mais segurança”.
PERIGO EM VEÍCULOS
O transporte de meninas e meninos também merece atenção. Nos últimos dez anos, o Brasil registrou o aumento de 22% dos óbitos de crianças de 0 a 4 anos ocupantes de automóveis. Bastos explica que essas crianças deveriam utilizar o bebê-conforto ou a cadeirinha. Paralelamente, é preciso lembrar que, nesse mesmo período, a frota de automóveis aumentou 60%.
“Isso significa também que mais crianças passaram a ser transportadas em automóveis. Como não dispomos hoje de, por exemplo, um indicador que seria importante, como um percentual de crianças transportadas em automóveis que utilizam os dispositivos de retenção corretamente, não podemos fazer uma afirmação precisa. Mas, de qualquer forma, nós temos um aumento no número absoluto, e isso reforça a importância de que mais e mais crianças
estão sendo deslocadas em automóveis, bem como mostra a necessidade desses dispositivos”, conclui.
Entre 2004 e 2013, houve no país uma redução de 22% do número de acidentes. No entanto, há Estados que apresentaram aumento significativo nesse período: Acre (22%), Rondônia (19%), Piauí (15%), Maranhão (8%) e Bahia (5%). Do outro lado, as maiores reduções de mortes no trânsito, acima da média nacional, foram observadas no Amapá (44%), no Distrito Federal (39%) e no Rio Grande do Sul (37%).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada quatro minutos, uma criança morre no trânsito no mundo. A informação veio do estudo “Dez estratégicas para a segurança de crianças no trânsito”. Segundo o mesmo relatório, o problema é mais grave nos países de baixa renda, e o Brasil está na classificação de média renda, conforme os critérios da OMS.
O especialista conta que, com o objetivo de minimizar os impactos do trânsito na mobilidade de crianças, a OMS recomenda dez estratégias, cujos efeitos muitas vezes não se restringem à segurança das crianças, alcançando todo o sistema de trânsito. São
elas: controle de velocidade, pois isso reduz as chances de ferimentos graves/fatais; redução da condução sob o efeito de álcool; fiscalização do uso de capacete tanto em motocicletas como em bicicletas; utilização dos dispositivos de retenção; criação de
medidas de aumento da possibilidade de as crianças verem e serem vistas melhorias na infraestrutura viária e no projeto dos veículos
(com áreas de absorção de impacto projetadas não só visando à redução das lesões nos seus ocupantes, mas protegendo também as pessoas que podem ser atropeladas); redução dos riscos para jovens condutores (habilitação gradual, por exemplo); promoção de cuidados apropriados para crianças lesionadas, pois elas têm grande capacidade de regeneração; e supervisão de crianças próximas às ruas.
“Atividades lúdicas ajudam a criança a entender, a reconhecer o comportamento adequado para cada cenário e a ter consciência dos limites e das capacidades que deverá desenvolver para estar no trânsito. Assim, ela aprende brincando”, afirma a especialista em mobilidade da Perkons, Idaura Lobo Dias. Ela ressalta que, para reduzir a mortalidade de crianças e adolescentes
no trânsito, é importante orientá-los sobre como se comportar quando pedestres e ocupantes de veículos. O projeto Trânsito Ideal tem um portal eletrônico com propostas de atividades para trabalhar o tema com crianças, abordando ítens como sinalização, cores do semáforo, cuidados ao se atravessar a rua, direções e a importância
da faixa de pedestres e da cadeirinha. Acesse: www.transitoideal.com
TRANSPORTE DE CRIANÇAS
Para o especialista Tiago Bastos, é preciso considerar singularidades no deslocamento das crianças:
Elas podem ser imprevisíveis nos deslocamentos, ou seja, podem mudar de direção repentinamente, ficando na rota de colisão de automóveis e outros veículos;
Possuem estrutura corporal mais frágil, sendo mais suscetíveis a traumatismos em caso de impacto;
Seu nível de atenção costuma ser menor;
Elas podem não entender devidamente a sinalização de trânsito e possuem baixa capacidade de avaliar situações de risco;
Crianças são menores do que adultos, portanto, mais difíceis de serem vistas;
Em muitos locais, as ruas são os únicos espaços públicos que as crianças têm para brincar.
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