Insegurança máxima
Levantamento feito na Inglaterra coloca o Brasil entre os dez países mais inseguros para o transporte de cargas devido às constantes ocorrências de roubos
Intervenções foram feitas por militares no Rio, no ano passado, para conter onda de assaltos a caminhões
O comitê inglês do setor de cargas Joint Cargo Committee mostrou que o Brasil ocupa, atualmente, o sétimo lugar no ranking mundial de países mais perigosos para o transporte de cargas – em função do risco de roubo de mercadorias nas estradas –, ficando atrás somente de nações com conflitos históricos: Iêmen, Líbia, Afeganistão, Síria, Sudão do Sul e República Centro-Africana.
Mensalmente, a instituição europeia apresenta relatórios, chamados de JCC Cargo Watchlist, para nortear corretores e segurados. O último levantamento foi divulgado no início de outubro e mostrou que as rodovias brasileiras têm grau de risco 3,8, considerado “muito alto”, de acordo com a escala do comitê, que varia de 0 a 10. Ao todo, 60 países foram analisados.
No caso do Brasil, quatro rodovias foram apontadas como as mais arriscadas: BR-116 (Curitiba – São Paulo), SP-330 (Uberaba – Porto de Santos), BR-116 (Rio de Janeiro – São Paulo) e BR-050 (Brasília – Santos).
Como agravante, o país aparece uma segunda vez no ranking, na 44ª posição, com grau de risco 2,2 (alto), devido à possibilidade de ocorrerem greves nos setores terrestre e marítimo. Inicialmente, o estudo havia atribuído grau 2 ao Brasil nesse quesito, mas acabou elevando o índice após uma atualização, porque “os ataques de pirataria dentro e ao redor do delta da Amazônia continuam em tendência de alta, afetando a carga marítima”, segundo o Joint Cargo Committee.
Reincidência
De fato, as estatísticas nacionais corroboram o cenário apontado pelo comitê da Inglaterra. Diante de um sistema de segurança pública deficiente, as vítimas mais frequentes são os transportadores rodoviários, tanto de carga quanto de passageiros.
Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), de 1998 a 2017, mais de 285 mil casos de roubos de mercadorias em transporte foram registrados nas rodovias brasileiras, acarretando um prejuízo superior a R$ 16 bilhões. Apenas os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo concentraram, juntos, 82,3% do total de ocorrências desse período.
Ainda de acordo com a CNT, embora menos frequentes, os roubos de cargas no modal aquaviário têm dado sinais de crescimento, sobretudo nas hidrovias do Norte do país – o que confirma a análise apresentada no JCC Cargo Watchlist. De 2011 a 2017, o número de casos mais do que dobrou, saltando de 13 mil para 26.270 ocorrências em rios da região. As estimativas apontam para um prejuízo de mais de R$ 100 milhões.
Reação em cadeia
Além das ameaças constantes à integridade dos transportadores e da incerteza da chegada das cargas ao destino previsto, o aumento nos índices de roubos acarreta outro sério problema: o consequente encarecimento dos seguros e das taxas cobradas pelas transportadoras e o repasse desses custos ao consumidor. Já a venda ilegal dos produtos roubados ainda implica sonegação de impostos e redução da arrecadação do Estado.
Projeção preocupante
Diante das ameaças constantes, membros do grupo técnico (GT) de trabalho Segurança Logística da Federação e do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg/Setcemg) estiveram reunidos com representantes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da delegacia especializada no combate ao roubo de cargas da Polícia Civil para tratar das perspectivas para os próximos meses, época em que aumentam as entregas e, paralelamente, as práticas criminosas.
“Todo fim de ano, a partir da segunda quinzena de outubro, percebe-se um crescimento nos roubos de carga, motivado pelo aumento do volume de compras de Natal. Por isso, estamos preocupados com os riscos para o transportador”, disse o assessor de segurança patrimonial da Fetcemg e coordenador do GT, Ivanildo dos Santos.
Durante a reunião, realizada em 18 de outubro último, agentes da PRF adiantaram que o aumento sazonal das ocorrências desse tipo já está sendo estudado pela corporação. Para coibir a ação dos criminosos, o policiamento será reforçado.
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