Desde o início de abril deste ano está valendo o aumento da mistura de biodiesel no diesel. O percentual passou de 10% para 12%. O objetivo é chegar aos 15% em 2026 e potencializar, assim, a redução na emissão de gases poluentes na atmosfera. O biodiesel é um combustível biodegradável produzido a partir de fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais. Mas existe uma preocupação do setor de transporte rodoviário de cargas com relação a preço e funcionamento dos motores.
Segundo Eduardo Melo, especialista da Raion Consultoria, é comum se criar essa expectativa de aumento de preços do diesel quando há o anúncio da elevação do percentual da mistura. Mas ele tranquiliza o setor. “Diante do cenário atual de preços do diesel ‘puro’ produzido nas refinarias, o chamado diesel A, e do biodiesel, ainda que com maiores elevações da participação do biocombustível na mistura, não observaríamos impactos significativos no preço final do diesel”, afirma.
Ele completa: “Nos últimos 12 meses, houve uma redução de 37% no custo do litro do biocombustível, o que representa impacto de 25 centavos no preço médio do diesel comercializado no Brasil”. O Brasil teve safra recorde, com mais de 153 milhões de toneladas, 22% acima da colheita anterior, segundo ele.
O especialista explica que o biodiesel é um produto oriundo majoritariamente da soja, sendo 66% da matéria-prima. Na sequência, vêm gordura bovina (5%), óleo de palma (3%) e outras fontes com menor participação, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP). “Sendo a soja a maior participante no mix de produção do biodiesel, é natural compreender que os preços do biodiesel apresentem uma estreita correlação com os preços do óleo de soja negociado no balcão das commodities. O Brasil lidera o ranking dos maiores produtores de soja do mundo, seguido por Estados Unidos e, mais distante, a Argentina”, explica.
A Cooperativa dos Trabalhadores de Automóveis e de Consumo do Estado de Minas Gerais (Coopercemg) tem quase 500 associados e atende, em média, 2.000 veículos nos pátios, inclusive para abastecimento. Por isso, naturalmente, o aumento do percentual é uma preocupação da cooperativa. José Geraldo de Faria, o Zé da Padaria, presidente da Coopercemg, diz que a entidade está sempre buscando informação e consultando especialistas para agir de acordo com o mercado, principalmente no que diz respeito ao preço do diesel. “Temos uma preocupação com o preço e também com o funcionamento dos caminhões. Ao mesmo tempo, vemos que há um avanço no mundo inteiro com relação à mistura. Então, nosso papel é ajudar o cooperado fornecendo espaços para manutenção e abastecimento de combustível com valores melhores que os do mercado”, afirma.
Marilton Costa, vice-presidente da Coopercemg, está na linha de frente de serviços e abastecimento da cooperativa. Segundo ele, o biodiesel tem suas qualidades e suas particularidades. “O que percebemos é que, por ser um produto de origem vegetal ou animal, deteriora com o tempo, proliferando fungos e bactérias, que resultam em borras. A manutenção das bombas de abastecimento e caminhões será impactada, diminuindo o prazo de troca dos filtros, necessitando de limpezas mais constantes”, diz.
Histórico
A mistura do biodiesel no diesel começou em 2005, por meio do Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB), instituído na época pelo governo federal. O primeiro percentual adotado foi de 2%. Dali em diante, o objetivo era aumentar gradativamente a mistura conforme cronograma definido pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia.
Em 2021, o percentual chegou a 13%, mas o governo recuou na decisão ao analisar o preço da matéria-prima do biodiesel. O percentual retornou para 10% para não causar impacto no preço do diesel, que já era na época um ponto de tensão política e econômica.
Segundo dados da CNPE, a estimativa é que a produção nacional de biodiesel passe
dos atuais 6,3 bilhões de litros anuais para mais de 10 bilhões de litros anuais até 2026. “Essa medida oferece segurança e previsibilidade ao setor, incentiva a geração de empregos e investimentos na área de biocombustíveis e contribui para a redução de importações. A decisão resgata o programa nacional e reforça a estratégia nacional de transição energética, além de consolidar o Brasil como um dos maiores produtores de biocombustíveis do mundo”, afirma o ministro de Minas e Energia,
Alexandre Silveira, durante anúncio da aprovação da medida, em março.
Para o futuro, o Conselho de Política Energética aprovou o cronograma de elevação gradual da mistura até atingir 15%, sendo um ponto percentual a cada ano.