No limite

Roubos de cargas são cada vez mais constantes, prejudicam o setor de transporte e impõem medo a caminhoneiros de todo o país.

Segurança / 20 de Setembro de 2017 / 0 Comentários
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Não bastassem as preocupações já comuns de quem trabalha rodando as estradas do país, caminhoneiros convivem também com o medo de criminosos. O índice de roubos de cargas vem crescendo ano a ano no Brasil, conforme mostra a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística). E a onda de crimes no Rio de Janeiro tem deixado os trabalhadores do setor ainda mais apreensivos.

Em 2016, foram registrados 24.563 casos de roubo de cargas no Brasil. O crime gerou um prejuízo de R$ 1,360 bilhões, o que representa um aumento de 21,4% com relação a 2015. Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, juntos, somam 80,66% das ocorrências. “Com os dados é possível dimensionar o que esse problema tem gerado para o país. Esse número talvez seja só uma fração dos casos oficiais. Há a possibilidade de que o problema seja muito mais grave”, analisa o diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista. Na região fluminense, a situação é ainda mais crítica, como foi mostrado na última edição da revista Entrevias. Houve uma redução após a entrada das Forças Armadas no Rio, atuando de forma ostensiva para combater o crime, mas as 610 ocorrências entre 28 de julho e 28 de agosto apontam um aumento em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 597 casos. Os dados são da Polícia Civil do Rio.

Tais fatos impactaram de várias formas o setor de transporte no Estado. Uma delas é que o preço dos seguros encareceu para os transportadores. Atualmente, as apólices estão 30% mais altas, sendo que há casos em que o valor dobrou, segundo empresários do setor. De acordo com informações da revista “Exame”, dependendo do tipo de carga, as seguradoras só fazem seguro se a empresa contratar algum serviço extra de segurança, o que encarece os custos.

Já os e-commerces estão evitando entregar produtos em algumas regiões do Rio de Janeiro. Quando o consumidor compra pela internet, ele precisa informar o CEP antes de fechar o pedido. Porém, ao identificarem que o código em questão fica em local de risco, as lojas online informam que não entregam no referido endereço. O Rio não é o único Estado onde os assaltos a caminhoneiros têm sido cada vez mais frequentes. Em Minas Gerais, os números também estão altos. Entre janeiro e maio deste ano, foram 272 roubos, contra 206 no mesmo período de 2016, o que representa um aumento de 32%. No ano passado, foram registradas 569 ocorrências, com uma média de 47,4 crimes por mês. Neste ano, a média já superou a de 2016, chegando a 54,4 casos a cada mês. As áreas que mais concentram os roubos são Belo Horizonte, a região metropolitana da capital e o Triângulo Mineiro, cortadas pelas principais rodovias federais: 040, 381 e 262. Nessas áreas, o fl uxo de cargas é maior, o que chama a atenção dos bandidos. A ousadia dos criminosos também impressiona. Se antes os crimes eram cometidos durante a madrugada, quando o movimento é menor, agora os bandidos têm agido ao longo do dia. Normalmente, chegam armados a bordo de um carro e emparelham o automóvel com o caminhão, obrigando o motorista a encostar.

NORTE

No Norte do país, onde parte do transporte é feita por hidrovias, os criminosos são ainda mais ousados. De acordo com a CNT, eles se aproximam do alvo em embarcações pequenas e rápidas e são violentos ao anunciarem e praticarem o assalto. Com pressa, mas sem maiores obstáculos, retiram carga e equipamentos. No meio da mata, em trechos pouco povoados, com dificuldade de comunicação, tripulação e passageiros fi cam reféns da ação dos bandidos, que conseguem fugir facilmente. O número de ocorrências não está fechado, no entanto, a Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária (Fenavega) calcula que, em 2015, os assaltos em série causaram um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões em produtos e equipamentos roubados das embarcações.

Na opinião do diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, é necessária uma ação conjunta do poder público para sanar o problema do roubo de cargas, principalmente pelo fato de a receptação dos produtos ser muito rápida. “Existe uma rede de receptação já organizada. Outro gargalo é a dificuldade de fiscalização em toda a malha rodoviária do país, que é muito grande. Esse problema de segurança pública tem que ser combatido de forma rápida, em ações permanentes”, afirma. Segundo ele, as quadrilhas diversificam o tipo de produtos para roubar. Entre os principais alvos estão cargas de itens farmacêuticos, químicos, eletrônicos, cigarros e até alimentação, todos de rápida receptação, dificultando a recuperação do material.

Caminhão apreendido no município de Itatiaiuçu, em Minas Gerais, no fim de agosto.
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Hicsos II: operação da Polícia Federal desvendou esquema criminoso de R$ 30 milhões em roubo de cargas

 

OPERAÇÃO

No dia 10 de agosto, a Polícia Federal (PF) desencadeou a operação Hicsos II, que investiga um esquema de roubo de cargas em diversas cidades brasileiras. Para executar a ação, a PF contou com o apoio do Ministério Público de Goiás, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar (PM) de Goiás. O esquema criminoso teria movimentado até o dia da ação em torno de R$ 30 milhões. Durante as investigações, os policiais já haviam prendido 30 pessoas, retirado de circulação 15 armas de fogo, apreendido 15 veículos roubados e recuperado mais de R$ 500 mil em cargas roubadas. Os envolvidos responderão pelos crimes de roubo qualificado, cárcere privado, lavagem de dinheiro, organização criminosa, tráfico de drogas e receptação.

TECNOLOGIA

Por meio do celular, empresários e transportadores conseguem informações em tempo real de assaltos a caminhoneiros no Rio de Janeiro. Trata-se do aplicativo Roubo de Carga, que gera relatórios sobre quais são os pontos onde há mais incidência do crime, bem como os horários mais comuns de os bandidos atacarem.

A proposta é alertar os motoristas e reunir dados sobre o tema que podem ajudar na elaboração de ações de combate ao crime. A atualização é feita de hora em hora. O aplicativo é gratuito e pode ser baixado na Play Store.

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