Novo ano, 
velhos 
problemas

Os usuários de rodovias brasileiras encontram um ponto crítico a cada apenas 44 km percorridos em um dia. Atualmente, somente em Minas Gerais, são mais de 200 pontos de risco, cerca de 120 interdições parciais devido às chuvas e dez com impedimento total. Esses dados – apresentados em tempo real no Mapa das Interdições em Rodovias de Minas Gerais, gerenciado pelo Comando de Policiamento Rodoviário em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal – refletem a ausência de investimento em infraestrutura rodoviária.

“As interdições retratam a falta de estratégia em política pública em mobilidade que, nesta época do ano, ficam ainda mais aparentes porque resulta das intempéries climáticas somadas pela ausência de manutenção. Volto a insistir que é fundamental que o governo exija tecnologia e novos materiais – aliados da segurança para usuários”, analisa Gildemir da Silva, professor da economia dos transportes da Universidade de Brasília e da Universidade Federal do Ceará.

Os dados do mapa são corroborados pelo estudo “Transporte Rodoviário - Os Pontos Críticos nas Rodovias Brasileiras”, recentemente divulgado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). De acordo com esse levantamento, em 2022 foram registrados 2.610 pontos críticos nas rodovias brasileiras, o que representa um aumento de 50% em relação ao quantitativo identificado em 2021 (1.739 ocorrências).

Em 29 de novembro do ano passado, um acidente na BR-376, na Serra do Mar, no Paraná, mostrou que não dá para brincar com chuva e a situação das rodovias tem urgência. Era início do período chuvoso quando uma encosta desmoronou e empurrou carretas para o barranco. Dois caminhoneiros morreram e seis pessoas foram resgatadas com vida. A rodovia ficou interditada por vários dias.

BR-381: drama sem fim

Esses pontos críticos registrados em 2022 são quase dez vezes mais que os observados em 2012, e cabe destacar o aumento expressivo (de cerca de 533%) na quantidade de quedas de barreira nos últimos anos. Ainda em 2022, Minas Gerais foi a Unidade da Federação que se destacou quanto a quedas de barreira (123) e erosões na pista (182).

Uma situação que exemplifica esse panorama aconteceu no fim do ano passado: parte da BR-381 ameaçou desabar em Antônio Dias, no Vale do Aço, devido às fortes chuvas que causaram uma erosão que destruiu parte do aterro que sustenta a pista perto da ponte Sá Carvalho, localizada sobre o rio Piracicaba. Na época, o desvio aconteceu pelos túneis Piracicaba, que também apresentam problemas de iluminação e sinalização. É a terceira vez que essa situação aconteceu. O local sofre com erosão, e já foram feitas obras de drenagem e também para o posicionamento de pedras (no paredão) para conter esse processo.

Segundo a Seção de Imprensa e Jornalismo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), “o tráfego na BR-381/MG está liberado nos túneis do Piracicaba em pista duplicada. Quanto ao bueiro, a empresa contratada aguarda melhora nas condições climáticas para executar os serviços. Com relação aos questionamentos dos túneis, informamos que o que ocorreu foi um deslizamento de material (queda de barreira em solo) no emboque inicial das estruturas. Dessa forma, foi realizada a interdição total, tendo sido o trânsito transferido para fora dos túneis até a limpeza do local e a volta da trafegabilidade. Os túneis não estavam abertos anteriormente ao tráfego devido à falta de iluminação e à implantação do sistema está em andamento”.

Para o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais (Sintrauto/MG), Carlos Roesel, a BR-381 e outras rodovias do Estado são fundamentais para a logística e a mobilidade e, por isso, devem ser priorizadas em manutenção permanente: “Temos a maior malha rodoviária do Brasil, estamos em uma região estratégica e, nesse contexto, o transporte rodoviário de cargas é atividade econômica para fomentar o desenvolvimento. Contudo, é preciso garantir condições adequadas de trafegabilidade. Os transportadores estão cansados de usar criatividade, por meio de mudanças de rotas, e de pagar a conta da infraestrutura precária”.

O diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Adalcir Lopes, corrobora: “No ano passado, muitos de nossos motoristas com nossos caminhões foram surpreendidos com quedas de barreiras e estradas com obstruções, ficando isolados em muitos casos. Tivemos também muitos problemas nas emissões de AET (Autorização Especial de Transporte) com proibições de tráfego e ausência de alternativas. Urgências deixaram de ser atendidas, inclusive as situações de calamidade, devido à obstrução de tráfego”.

Informação como 
ferramenta para segurança

Visando alertar transportadores e usuários de rodovias sobre as condições de trafegabilidade das estradas no Estado, o Setcemg – em parceria com as Polícias Militar e Rodoviária Federal de Minas Gerais e Dnit – lançou a campanha “Ir e Vir Seguro – no período das chuvas”.

Os objetivos são monitorar os eventos em consequência das chuvas e levar as informações para os parceiros envolvidos oferendo celeridade às soluções. Por meio do https://setcemg.org.br/, os usuários têm a condição em tempo real das rodovias.

“As polícias recebem as informações sobre queda de barreiras e outros eventos nas rodovias, verificam in loco a veracidade e a localidade da informação e sobem os dados para o mapa do Google Maps. Graças à iniciativa do Setcemg, por meio dessa campanha, conseguimos mitigar os efeitos e os problemas causados pelas chuvas nas estradas mineiras, oferecendo pronta resposta para as dificuldades”, avalia o diretor do sindicato.

Ele explica que a ferramenta permite estabelecer as rotas para o transporte com as informações disponibilizadas em tempo real e, nos casos de obstrução, apresenta informações sobre desvios. “A nossa Central de Informação está funcionando, os órgãos de manutenção estão sendo acionados, e as providencias estão sendo tomadas”, diz.

A campanha começou no fim do ano passado, por meio da realização de blitzen centralizadas em seis regiões, outdoors nas principais saídas da capital, spot de rádio e divulgação do site com as informações atualizadas.

Investimento

Para a resolução dos pontos críticos identificados em 2022, foi estimado o investimento de R$ 5,24 bilhões, o que representa cerca de 28% de todo o recurso destinado ao então Ministério da Infraestrutura – previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) 2023.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, apresentou, em coletiva de imprensa no dia 18 de janeiro, o detalhamento de sua pasta para os próximos cem dias. Entre as prioridades está a BR-381 no trecho que liga Belo Horizonte a Governador Valadares. Segundo ele, será investido 1,7 bilhão para revitalizar e intensificar obras em rodovias e ferrovias do país.

O valor, de acordo com o ministério, possibilitará a entrega de 861 km pavimentados, revitalizados e sinalizados até abril de 2023. Ainda haverá a construção e a revitalização de 72 pontes e viadutos no mesmo período. As principais entregas estão incluídas, além da 381, nas seguintes rodovias: BR-432/RR, BR-364/AC, BR-116/CE, BR-101/SE, BR-116/BA, BR-080/GO, BR-101/AL, BR-381/MG, BR-, 447/ES, BR-163/PR, BR-470/SC e BR-116/RS.

O Ministério dos Transportes também recebeu sugestões de ações prioritárias por meio de uma consulta pública. Foram mais de 6.000 contribuições, a maioria no sentido de ampliar a competitividade da infraestrutura e da logística de transportes de cargas e pessoas; promover a segurança do trânsito; melhorar a qualidade da infraestrutura e serviços de transportes; e outros pontos relacionados à redução da burocracia, à sustentabilidade, à governança e ao acesso à informação.