Elas tinham ingressos para a Fórmula Truck nas mãos e um sonho: assistir à final de 2023 em Cascavel, no Paraná. O problema: estavam a mais de 500 quilômetros de distância. Mesmo assim, Jaqueline Balzzan chamou a sua amiga e comadre Tatiane Reinheimer, e, juntas, saíram de Videira, em Santa Catarina e pegaram estrada rumo ao mundo dos trucks.
Para Jaque, aquela aventura era mais um resgate da sua própria história. Ela tem 39 anos e é funcionária pública municipal. Quando tinha apenas 9 anos, seu pai, que era caminhoneiro, morreu em um acidente de trânsito. Ela e a mãe estavam juntas e ficaram presas às ferragens. “Meu pai faleceu na hora. Eu tenho marcas no braço, e minha mãe trincou a coluna e enfrenta problemas até hoje. A pessoa que provocou o acidente nunca ajudou, nem socorreu”, relembra Jaqueline.
Ela conta que, depois do acidente e da morte do pai, a família cuidou das duas até a mãe ter condições de voltar a trabalhar. A mãe de Jaqueline faz artesanatos, crochê e tricô e, assim, sustentou a casa e criou a filha sozinha, tendo que conviver com os problemas de mobilidade causados pelo acidente. “Me lembro que estávamos indo para a casa das minhas tias em Frei Burgo. Era uma segunda-feira, 23 de agosto de 1993. Na entrada da cidade, um homem dirigindo uma Brasília cortou o caminhão numa estrada reta, e meu pai, para não bater, puxou o caminhão para a esquerda e tombou em um barranco”, conta.
Estar entre os caminhões na Fórmula Truck foi uma forma de rememorar o que viveu na infância. “Quando meu pai era vivo, eu era apaixonada por sair com ele. Ele trabalhava com caminhão carga seca, precisava ‘enlonar’, e eu ajudava. Ele também trabalhou com caminhão câmara fria, e eu ajudava a lavar”, diz. O pai assistia a corridas de caminhões na época, e ela cresceu com essa memória.
“Tenho uma paixão grande por carreta. Eu sempre dizia que queria ser prefeita ou caminhoneira, mas tinha que ser de carreta”, diverte-se. Como tem problemas de visão, não tem permissão para dirigir caminhões. Então, canalizou a paixão para a Fórmula Truck.
Aventura
Mas... como ela chegou à decisão de pegar a estrada e seguir para a final da FT no fim do ano passado? No ano passado, Jaqueline conheceu um rapaz que frequentava a Fórmula Truck e acabou despertando nela a vontade de ir à corrida. O relacionamento não foi para a frente, mas ela decidiu que não ia depender dele para realizar seu sonho.
Com ingressos nas mãos, Jaque e Tatiane, amigas há 21 anos, entraram num Mobi preto no dia 8 de dezembro e seguiram rumo a Cascavel. Elas pegaram estrada às 11h30 e chegaram ao destino às 19h. No dia 9 cedo, elas já estavam no Autódromo de Cascavel.
O primeiro objetivo das duas era conhecer o piloto Pedro Muffato. Sensação da temporada, o empresário e piloto de 82 anos havia anunciado sua aposentadoria das pistas em 2022, mas voltou no ano seguinte e conquistou a vitória no campeonato. “Quando vi o caminhão do Pedro na minha frente, chorei de emoção”, recorda-se.
Grande novidade da temporada, elas também conheceram o piloto Duda Conci. Ele abriu as portas dos bastidores da Fórmula Truck para as duas. “Fomos ao box do Duda e vimos o quanto ele é incrível. Ele conversou com uma criança e deixou ela entrar no caminhão antes da prova, num momento que, para a maioria, o veiculo é intocável”, admira-se Jaqueline.
Agora, além de sempre vestir a camiseta “Mulher na Truck”, ela considera a camiseta do Duda Conci seu manto sagrado. No fim de semana que passou em Cascavel, elas conheceram a família do piloto e chegaram a dar uma volta na pista em um caminhão da DAF que estava em exposição.
Elas chegaram em casa já na madrugada de segunda-feira e cheias de disposição e histórias para contar no trabalho do dia seguinte. Agora, planejam a próxima aventura para assistir à Fórmula Truck. A probabilidade maior é que consigam ir a Guaporé, no Rio Grande do Sul, que fica a cerca de 300 km de Videira. Até lá, Jaqueline planeja e sonha com seu próximo encontro ao vivo com o mundo dos gigantes.