Perdidos pelo caminho
Grãos que poderiam matar a fome de muita gente são desperdiçados desde a colheita até a distribuição, inclusive no transporte
A- A A+Uma campanha global iniciada em outubro pretende conscientizar a sociedade sobre a importância de se implantarem sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos e sustentáveis para garantir a segurança alimentar da população. A estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) é que 50 milhões de pessoas vivam no Brasil em situação de insegurança alimentar grave ou moderada. O transporte adequado de grãos é um dos pontos cruciais para mudar esse cenário por conta do desperdício, segundo a FAO.
Outras etapas do processo de produção também apresentam risco de perda, como condições inadequadas para a colheita, o manuseio e a armazenagem. De acordo com a FAO, o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos ao mesmo tempo em que um em cada quatro brasileiros não tem sequer uma refeição garantida por um ou mais dias (situações graves) ou tem que racionar os recursos disponíveis para conseguir se alimentar novamente (insegurança moderada).
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é o órgão responsável pelo sistema de armazenamento de grãos no país. Em 2019, foi feito um estudo sobre o desperdício de alimentos durante o transporte de grãos. Conforme informado pela Conab, o índice de perda é de 0,10% para o milho, de 0,13% para o arroz e de 0,17% para o trigo. O levantamento foi realizado em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
De acordo com o estudo, as perdas de grãos são causadas por três fatores principais: más condições das rodovias, precariedade da frota de caminhões e imprudência dos motoristas. Além de reduzir o lucro da cadeia produtiva, a perda significa desperdício de alimentos, que é, hoje, um dos maiores problemas mundiais.
Os percentuais de grãos que ficam nas estradas parecem pequenos, mas, segundo levantamento da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em 2020, caiu nas estradas e esteiras transportadoras o equivalente a 1,58 milhão de toneladas de soja e 1,34 milhão de toneladas de milho. O cálculo feito pela Esalq envolve não apenas o transporte rodoviário, mas o ferroviário e o hidroviário, bem como a armazenagem, os portos e o transporte rural até os armazéns.
Campanha
Um dos objetivos do milênio para o desenvolvimento sustentável preconizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) visa reduzir pela metade o desperdício alimentar global, incluindo as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção, transporte e abastecimento.
E o desperdício não se limita aos grãos. Aproximadamente 33% de tudo o que é produzido anualmente no mundo vai para o lixo. Metade desse volume se concentra na fase inicial do cultivo, na manipulação, no pós-colheita e no armazenamento de frutas, verduras e legumes. Os outros 50% são perdidos durante a distribuição e o consumo. A FAO lembra que, enquanto se desperdiça alimento, o mundo soma, atualmente, cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome.
Campanhas têm sido feitas – inclusive no Brasil – pela FAO em parceria com o Programa Mundial de Alimentos, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. O tema deste ano foi “As nossas ações são o nosso futuro. Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor qualidade de vida”. O objetivo é chamar a atenção da sociedade e das autoridades para a urgência de se transformar a maneira como os alimentos são consumidos e produzidos.
“Precisamos agir e aumentar a consciência de que todos têm um papel importante para mudar a forma como produzimos, transformamos, consumimos e desperdiçamos os nossos alimentos”, disse o representante da FAO em território brasileiro, Rafael Zavala, em nota divulgada no Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro.
Ele afirmou ainda que, dentro das possibilidades práticas de mudança, “os governos, em colaboração com o setor privado e a sociedade civil, devem fortalecer e melhorar a quantidade e a qualidade dos dados e das informações disponíveis sobre os sistemas alimentares”, concluiu Zavala. (Com a Agência Brasil)
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