O cansaço e a sonolência são a causa de mais de 40% dos acidentes ocorridos nas estradas do país, segundo estudos da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). A Polícia Rodoviária Federal (PRF), no entanto, ressalta que a taxa pode ser ainda maior, já que muitos motoristas não admitem essa condição. Para aqueles que têm na condução de veículos um ofício, esse cenário é ainda mais alarmante.
A health tech (empresa de tecnologia na área de saúde) brasileira Biologix, focada em medicina do sono, destaca que o motorista cansado demora mais a identificar uma situação de risco e reagir. “Em muitos casos, quando dorme ao volante, ele sequer reage. São comuns os acidentes sem marca de frenagem. As consequências são dramáticas, pois, quanto maior a velocidade, maior o risco de vítimas”, frisa a empresa.
Entre as causas mais comuns para esse tipo de cansaço estão a privação e a apneia do sono, uma doença crônica e evolutiva, caracterizada pela obstrução parcial ou total das vias aéreas, provocando paradas repetidas e temporárias da respiração enquanto a pessoa dorme. Na maioria das vezes, o paciente apresenta ronco alto e frequente seguido de engasgos. Por esses motivos, ele acaba tendo vários despertares durante a noite, o que resulta em sonolência diurna.
Características
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), é considerada apneia a interrupção completa do fluxo de ar pelo nariz ou pela boca por um período de pelo menos dez segundos nos adultos. Diversos fatores podem provocar a doença: os músculos da garganta e da língua relaxam mais do que o normal, as amídalas e as adenoides são grandes, a pessoa estar acima do peso (o excesso de tecido mole na garganta dificulta mantê-la aberta) ou o formato da cabeça e do pescoço resulta em menor espaço para a passagem de ar pela boca e pela garganta.
Segundo a SBEM, além do sono, a pessoa com apneia tende a acordar com sensação de sufocamento, ofegante, com dor no peito ou desconforto, confusa ou com dor de cabeça; sentir a boca seca ou dor de garganta pela manhã; apresentar alterações na personalidade, ter dificuldade de concentração, impotência sexual e irritabilidade.
Em casos mais graves, o paciente pode desenvolver doenças sérias como hipertensão, insuficiência e arritmia cardíacas, derrame e diabetes. “A apneia obstrutiva do sono acomete aproximadamente 30% da população adulta mundial. A maior parte dos pacientes, entre 85% e 90%, convive com a doença sem receber o diagnóstico e continua sem tratamento”, alerta a SBEM.
A instituição salienta, contudo, que nem todo mundo que ronca tem apneia do sono. O ronco é apenas um dos sintomas. O diagnóstico da doença é feito por meio de um exame chamado polissonografia, que monitora o sono utilizando equipamentos eletrônicos. Ele é indicado para avaliação da condição do trato respiratório do paciente e deve ser feito por um médico com especialização na área.
Tratamento
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia frisa que mudanças nos hábitos de vida podem resultar em melhoras significativas do quadro. Como exemplo, perder peso, evitar o consumo de bebidas alcoólicas, dormir de lado, evitar o consumo de comidas pesadas antes de dormir, evitar fumar quatro horas antes de se deitar e elevar a cabeceira da cama entre 15 cm e 20 cm.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) reforça que o uso de aparelhos intraorais para aumentar a passagem de ar pela garganta e a fonoaudiologia para o fortalecimento da musculatura que mantém a garganta aberta podem ser utilizados no tratamento da apneia leve.
“Se a doença se apresentar de forma moderada a acentuada, o uso de um gerador de pressão positiva contínua na via aérea (CPAP) durante o período do sono é o tratamento de escolha. O CPAP promove um bombeamento de ar que impede o fechamento da garganta”, explica a entidade.
Existe ainda a possibilidade de cirurgia, que é considerada um procedimento de exceção, indicado em casos selecionados, segundo a SBPT.