Planejamento estratégico: aliado da gestão
Definir projetos prioritários da empresa e estabelecer caminhos para alcançá-los são fatores essenciais para a sobrevivência e o crescimento da organização, sobretudo em tempos de crise.
A- A A+Qual o atual estágio da empresa? Qual ela deve alcançar? Como chegar lá? Essas perguntas relativamente simples orientam os caminhos de uma organização, apontando seu desempenho para uma atuação sólida e permanente. Ao responderem essas questões, os empresários devem fazer o exercício de analisar os cenários interno e externo – forças e diferenciais do negócio, suas fraquezas, oportunidades e desafios –, definir seus objetivos e estratégias e elaborar um programa de ações. Ou seja: realizar o planejamento estratégico da organização.
Em tempos de cálculos na ponta do lápis, esse instrumento torna-se fundamental para a gestão de qualquer negócio e também das transportadoras de cargas, pois os empresários desse setor enfrentam muitas adversidades, como alta carga tributária, redução significativa da atividade econômica e, consequentemente, da prestação dos serviços, além de roubos de cargas, cobranças desiguais de frete, entre outras. Nesse sentido, contar com uma ferramenta que possibilite ao empresário alcançar um futuro melhor ou estabelecer meios para enfrentar os desafios é uma questão de sobrevivência em um mercado tão competitivo e que ainda precisar driblar a atual crise econômica.
“No momento que passamos, os transportadores devem se adaptar ao máximo à nova realidade de mercado, adequando seus custos ao nível de receitas mais baixo – quem demorar a fazer isso estará fadado a ter grandes prejuízos”, ressalta Antonio Lauro Valdivia Neto, engenheiro de transporte e mestre em administração de empresas.
Ele avalia que o transporte rodoviário de cargas nos últimos anos se profissionalizou, principalmente nas grandes empresas. “As ferramentas de gestão são utilizadas para diminuir os custos de produção, melhorar a qualidade do serviço prestado e, sobretudo, para aumentar a produtividade (fazer mais com os mesmos recursos). Para isso, é preciso conhecer a fundo a operação e analisar todas as suas etapas, verificando pontos que podem ser melhorados, alterados ou mesmo suprimidos”, diz ele.
O mestre em gestão e negócios Max Roberto da Silva também analisa que as empresas de transporte vêm se profissionalizando, “até porque perceberam que as que não evoluírem em termos de gestão não ficarão no mercado”. Em seu estudo “Planejamento estratégico no setor de transporte rodoviário de cargas: proposta de tabela referencial”, ele observou que principalmente as grandes organizações utilizam ferramentas de gestão e planejamento estratégico na condução do negócio. “Não é possível afirmar que isso é uma regra, pois, na pesquisa que efetuei, percebi que o tamanho da empresa não é fator determinante para a evolução em termos de gestão. O que pude constatar é que as empresas repetem modelos tradicionais de gestão e que as estratégias utilizadas são muito similares”, revela Silva.
O presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Fetcemg), Sérgio Pedrosa, relembra que o setor nasceu de pequenos transportes de caminhoneiros e que evoluíram para empresas. Um exemplo disso é que as maiores organizações do setor ainda são familiares. “Percebo que o mercado evoluiu e que as empresas de transportes estão buscando evoluir, cada vez mais, no assunto governança. Vejo que isso ocorreu com mais ênfase nos últimos cinco ou dez anos. Não tenho uma pesquisa detalhada, é apenas feeling baseado no que vejo e em meu relacionamento com entidades de Minas Gerais e do país. Acho que os jovens empresários, que estão ingressando nas empresas, estão conseguindo implantar uma gestão mais moderna e adequada”, destaca.
Segundo Max, em boa parte dos casos, essa gestão dos negócios está mais focada na eficiência operacional, todas seguindo o mesmo modelo, o que faz com que, na maioria dos casos, a concorrência ocorra por preço. São utilizadas ferramentas de planejamento e gestão tradicionais, as quais nem sempre propiciam a inovação de valor. “O segmento de transporte rodoviário de cargas tem como características concorrência acirrada, baixos preços, regulamentação e rentabilidade. Em um setor com essas características, é necessário que as empresas utilizem estratégias que possibilitem a redefinição das fronteiras nas quais estão inseridas, criando outras demandas. Quando bem-utilizadas, as ferramentas de gestão e planejamento proporcionam a sustentação metodológica do negócio, a fim de que se estabeleça a melhor direção a ser seguida pela empresa, assim como um controle efetivo das ações propostas e dos resultados alcançados”, aponta Max.
Por isso, o principal investimento em gestão está na capacitação dos gestores, pois são eles que vão ter que tomar as decisões. É claro que, quanto mais informações eles tiverem, melhor será a qualidade de suas decisões. Antonio Lauro conta que, atualmente, há sistemas de controle – fonte de dados e informações – para praticamente todos os componentes do negócio e que cabe ao gestor verificar quais são as ferramentas de que a empresa precisa e as que vão trazer os melhores resultados.
O presidente da Fetcemg enfatiza que gerir uma empresa de transportes hoje em dia não é uma tarefa simples, pois os custos são muito altos, e o frete, pressionado pelo mercado, não absorve ineficiências. Nesse sentido, ele salienta que é preciso ter um amplo conhecimento dos números da empresa, da expectativa de receitas, custos e despesas. É essencial, de acordo com ele, conhecer muito bem o mercado para fazer as projeções mais próximas da realidade.
“Os desafios são muitos na implementação dos instrumentos de gestão. Começam por ser necessário entender bem o processo de planejamento e a utilização das ferramentas adequadas. Na sequência, vem a fase em que a maior parte das empresas peca: a execução. Entre 60% e 80% dos empreendimentos que aplicam o planejamento estratégico não conseguem atingir os objetivos propostos em virtude de problemas na execução. Em torno de 60% das empresas não vinculam o orçamento às estratégias. Em pesquisa realizada, apenas 10% dos empregados conhecem a estratégia do negócio, e, em boa parte das empresas, os executivos dedicam menos de uma hora por mês para a discussão da estratégia. É necessário que os empresários implementem um processo formal para a execução da estratégia, consigam comunicá-la a seus funcionários e tenham disciplina e controle em sua execução”, orienta Max.
Outra dificuldade, na avaliação de Antônio Lauro, é a previsibilidade, ou seja, o planejamento tem como base as informações do passado e a estimativa feita para o futuro. Nem sempre o que aconteceu em um ano vai se repetir no seguinte ou aquilo que foi previsto se concretiza. De qualquer forma, fazem parte da administração o acompanhamento dos fatos e a realização dos ajustes necessários.
Em todas as etapas da execução, é muito importante o monitoramento de cada uma delas para que sejam efetuadas as devidas correções. À medida que a estratégia vai sendo executada, juntamente com os planos operacionais, a empresa realiza o monitoramento e aprende com as barreiras e os desafios encontrados.
No transporte rodoviário de cargas, os principais componentes dos custos são o combustível e a mão de obra, representando mais de 50% ou podendo chegar a responder 70% em algumas atividades. Assim, a gestão orçamentária é uma das componentes do planejamento estratégico nesse segmento.
No que tange aos custos de pessoal, entre os gastos obrigatórios está a contribuição previdenciária de pessoas jurídicas. Empresas de diversos setores, entre os quais o do transporte, podem optar entre duas formas de cálculo do valor que é devido à Previdência Social: a Contribuição Previdenciária Patronal (CPP) ou a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB).
Na CPP, a empresa recolhe 20% sobre a folha de pagamentos dos funcionários e dos contribuintes individuais (sócios e autônomos). Já a CPRB corresponde à aplicação de uma alíquota sobre o faturamento da empresa, que pode variar de 1,5% a 4,5%. Por exemplo, nas atividades de transportes rodoviário, ferroviário e metroviário de passageiros, a alíquota atual é de 2%. Já no transporte rodoviário de cargas, no aéreo de cargas e de passageiros e no marítimo, é de 1,5%.
O presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João Eloi Olenike, explica que a empresa de transporte de cargas deve levar em conta o resultado do valor da contribuição previdenciária patronal em relação ao que pagaria se optasse por quitar o tributo tomando por base de cálculo a receita bruta. Há que se fazerem cálculos nas duas formas, confrontá-los e optar a menor tributação. “A escolha errada e, consequentemente, um pagamento a mais de tributos pode impactar na área financeira da empresa e na concorrência de mercado. Planejar com antecedência ajuda a se fazer a escolha mais adequada para a realidade do negócio, o que pode representar uma economia significativa”, elucida Olenike.
Ele recomenda que as empresas façam os cálculos com as projeções de faturamento e da folha para este ano. Ainda não se sabe qual será a receita em 2017, mas há o histórico, e, na maior parte das vezes, o valor não muda significativamente. Então, o empresário pode fazer um cálculo sobre a previsão do que vai ter de folha e de faturamento, ver em qual modo dá o menor valor e aí sim optar. A escolha deve ser manifestada mediante o pagamento da contribuição relativa ao mês de janeiro e se manter, obrigatoriamente, até o fim do ano.
Existem no mercado programas de cálculo e de simulação eficientes. A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) desenvolveu uma ferramenta para auxiliar as pessoas na simulação da contribuição, a qual está disponível no endereço http://www.cnt.org.br/Paginas/simulador-cnt-contribuicao-previdenciaria.
Segundo estudos, a carga tributária do Produto Interno Bruto (PIB) cresceu de 20% em 1979 para 34,21% em 2015 no país. Estimativas do IBPT revelam que, no âmbito do transporte rodoviário de cargas, havia em 2015 no Brasil 210 mil empresas com a arrecadação bruta de R$ 207 bilhões, dos quais 41 bilhões foram consumidos no pagamento de tributos. Um valor 8,2 vezes maior do que o lucro, que não passou de R$ 5 bilhões (2,4%) do faturamento, e maior do que a massa salarial do setor, de R$ 30 bilhões (980 mil empregados). As dívidas de tributos do segmento chegaram a R$ 12 bilhões, e a carga transportada atingiu o valor de R$ 5 trilhões. Acompanhe no gráfico ao lado a média de tributação sobre o faturamento de alguns setores no ano de 2015:
“O setor de transportes, devido à sua importância, em um país continental como o nosso, deveria ter uma tributação menos elevada. O governo deveria diminuir o número de tributos e alíquotas, passar a incidência maior, que é no consumo (faturamento), para os lucros e o patrimônio e também simplificar o sistema tributário diminuindo as obrigações acessórias”, recomenda o presidente do IBPT.
Enquanto o governo não toma providências, Olenike orienta que todas as empresas devem sempre procurar, entre todas as opções possíveis de tributação, a menos onerosa. Para isso, é necessário estar em um constante planejamento tributário, que pode ser executado internamente ou por profissionais de fora, qualificados para essas atribuições.
A mensagem do especialista Antonio Lauro é simples: que os empresários pratiquem gestão em suas empresas e não caiam na tentação de resolver os problemas baixando o frete ou cedendo demais nas exigências de desconto de seus clientes – para ele, isso é o começo do fim da transportadora. “2016 provavelmente será um ano que o transporte rodoviário de cargas não vai esquecer. Em 2015, nós achávamos que estávamos no fundo do poço e, no ano passado, cavamos bem mais. Quem conseguiu repetir o desempenho de 2015, mesmo que em termos nominais, tem muito que comemorar. De positivo eu vejo que as empresas que suportaram saíram mais fortalecidas, pela experiência dolorosa e pelos inevitáveis ajustes efetuados nos custos. Porém, os embarcadores ainda pressionam por redução de tarifas e prazos mais elásticos para pagamento”, analisa o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Centro Oeste Mineiro (Setcom), Raimundo Fernandes.
O Projeto de Lei 528/2015, que cria a Política de Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas, foi aprovado em 7 de dezembro, por unanimidade, pelos deputados federais que compõem a Comissão de Viação e Transporte na Câmara Federal. A aprovação é pleiteada pelo setor do transporte de cargas desde 2015, por conta da crise pela qual passa, e, até o momento, não há data planejada para ir a votação em plenário.
A matéria determina que o Ministério dos Transportes regulamente, com base em proposta formulada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), nos meses de janeiro e julho, os valores mínimos referentes ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado, consideradas as especificidades do tipo de carga. O projeto prevê ainda que o processo de definição dos preços mínimos deverá contar com a participação dos sindicatos de empresas de transportes e de transportadores autônomos de cargas, bem como de representantes das cooperativas do setor. “Os preços mínimos serão fixados levando-se em conta, prioritariamente, a oscilação e a importância do valor do óleo diesel e dos pedágios na composição dos custos do frete”, diz o artigo 7º do projeto.
O texto afirma que até a primeira tabela do Ministério dos Transportes ser publicada, os valores mínimos para carga geral, cargas a granel e a neogranel serão de R$ 0,70 por quilômetro rodado para cada eixo carregado. Já para as cargas frigorificadas e perigosas, serão R$ 0,90 por quilômetro rodado para cada eixo carregado.
Já nos fretes curtos, ou seja, com distâncias inferiores a 800 km, o projeto determina que os valores mínimos ficam acrescidos de pelo menos 15%. E ainda estabelece que o governo federal deverá reservar 40% dos recursos aplicados em fretes rodoviários para as cooperativas do setor. Por fim, o projeto limita em 5% a remuneração da Empresa de Transporte de Carga (ETC) quando o frete for realizado por Transportador Autônomo de Carga (TAC).
A equipe de reportagem da Entrevias contatou a ANTT. Em resposta, a agência diz “que não se manifesta sobre matérias que ainda estão em tramitação no Congresso Nacional por entender que é responsabilidade do Legislativo fomentar esse tipo de discussão”.
Contudo, em nota, a agência ressalta que “a planilha de simulação de custos da operação de transporte de cargas, publicada em seu site, tem como base a Resolução ANTT 4.810/2015, que estabelece metodologia e publica parâmetros de referência para o cálculo dos custos de frete do serviço de transporte rodoviário remunerado de cargas por conta de terceiros. A resolução supracitada não tem como escopo a definição de todos os custos e parâmetros aplicáveis a toda e qualquer variação no transporte rodoviário remunerado de cargas, uma vez que, em razão da região do país, do tipo de veículo, do pavimento, da relação contratual, do planejamento logístico, entre outros, os custos podem se alterar significativamente. Buscou-se, com a edição da resolução, apenas contribuir para o melhor entendimento dos custos e dos parâmetros de referência no setor de transporte rodoviário de cargas. O fato de algum parâmetro não constar da resolução não significa que ele não é devido ou ainda que a Resolução 4.810/15 tenha eximido ou desconsiderado obrigações previstas em outros regulamentos.”
Inovação foi o caminho apresentado pelos especialistas consultados nesta reportagem. De acordo com Max, para segmentos que possuem as características que se encontram no setor de transporte, “trabalhar com inovação de valor é muito importante para aumentar a lucratividade da empresa. Na literatura, poderão ser encontradas muitas outras ferramentas, outras estratégias. No entanto, o importante é que as empresas aprimorem sua gestão estratégica, buscando alternativas que levem a retornos superiores aos que há hoje no mercado. A dinâmica da inovação pode ser muito importante para quem está buscando sair da competição por preço, uma vez que, ao inovarem, as empresas geram novas demandas e fidelizam seus clientes com a proposta de valor oferecida”.
Para Antonio Lauro, é fundamental o investimento em profissionais capacitados e em inovação. “Estejam muito atentos ao fluxo de caixa de seu negócio e, principalmente, não trabalhem com o preço abaixo do custo. O lucro é necessário para a sobrevivência das empresas”, conclui.
O presidente da NTC&Logística, José Hélio Fernandes, enfatiza o seguinte: “Estamos inseridos em um setor em que não há espaço para amadores. Tecnologia e inovação são fundamentais em qualquer empresa, independentemente do porte dela. Seja no controle logístico, seja no combate ao roubo de cargas, a tecnologia auxilia no processo de planejamento estratégico e, alinhada ao conhecimento técnico, pode garantir excelentes resultados”.
A mensagem do presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais, Carlos Roesel, reforça a relevância do profissionalismo. “O mercado exige gestão eficiente e excelência na prestação de serviços. Nosso sindicato permanece como instituição de apoio à categoria com o objetivo de representá-la de forma legítima”, ressalta.
A Comissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados aprovou em dezembro o Projeto de Lei 528, de autoria do deputado Assis do Couto. A matéria foi costurada no âmbito da Comissão Externa dos Caminhoneiros da Câmara dos Deputados – coordenada pelo deputado federal Celso Maldaner (PMDB-SC), que concedeu entrevista exclusiva à Entrevias.
ENTREVIAS - O Projeto de Lei (PL) 528, de 2015, de autoria do deputado Assis do Couto, e o PL 1.316, de 2015, de sua autoria, visam estabelecer valores mínimos de frete a serem cobrados pelo serviço de transporte rodoviário de cargas. Pelo disposto no primeiro projeto de lei, a competência para a regulamentação ficaria atribuída ao Ministério dos Transportes com base em proposta formulada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ao passo que, pelo que dispõe o segundo, essa competência ficaria restrita à ANTT. Qual sua justificativa para restringir a competência à ANTT?
Celso Maldaner - O PL 1316/2015, de minha autoria, inclui entre as competências da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) elaborar, mensalmente, tabela referencial dos fretes praticados no transporte rodoviário por gênero de carga. A ideia é termos um controle sobre os preços executados de maneira a podermos manter um mercado sustentável e competitivo e evitarmos oscilações deveras radicais, prejudicando todos e também a economia do país. A escolha pela ANTT se deve ao fato de que essa é a agência que possui a competência para estabelecer critérios e normas.
De acordo com o texto, em caráter excepcional, a agência poderá fixar, uma vez a cada 12 meses e pelo prazo de até 120 dias, preço mínimo ou máximo, desde que seja apurada uma diferença superior a 20% entre o frete médio praticado no mês anterior e o executado nos últimos 12 meses. A proposta tem por finalidade dar ao poder regulador condições de intervir, de modo excepcional, no mercado de frete rodoviário de cargas, de sorte a se evitarem flutuações exacerbadas nos preços, que podem comprometer tanto a saúde financeira do transportador como a de quem contrata a carga.
O projeto de lei de minha autoria explicita que será atribuição da ANTT fixar limites para os fretes a fim de garantir maiores estabilidade e previsibilidade em operações de transporte, sem desnaturar o espírito de livre concorrência. Além disso, o PL inclui como atribuição da ANTT “proteger os interesses dos usuários quanto à qualidade e à oferta de serviços de transporte e dos consumidores finais no que tange à incidência dos fretes nos preços dos produtos transportados, observando a sustentabilidade das operações”.
Já o PL 528/2015 determina que o Ministério dos Transportes regulamente, com base em proposta formulada pela ANTT, nos meses de janeiro e julho, os valores mínimos referentes ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado, consideradas as especificidades do tipo de carga. O projeto prevê ainda que o processo de definição dos preços mínimos conte com a participação dos sindicatos de empresas de transportes e de transportadores autônomos de cargas, bem como representantes das cooperativas do setor. “Os preços mínimos serão fixados levando-se em conta, prioritariamente, a oscilação e a importância do valor do óleo diesel e dos pedágios na composição dos custos do frete”, diz o artigo 7º do projeto.
Celso Maldaner - O texto do colega Assis do Couto afirma que até a primeira tabela do Ministério dos Transportes ser publicada, os valores mínimos para carga geral e cargas a granel e a neogranel serão de R$ 0,70 por quilômetro rodado para cada eixo carregado. Já para as cargas frigorificadas e perigosas, serão R$ 0,90 por quilômetro rodado para cada eixo carregado. Em relação aos fretes curtos, ou seja, com distâncias inferiores a 800 km, o projeto determina que os valores mínimos ficam acrescidos de pelo menos 15%. E ainda estabelece que o governo federal reserve 40% dos recursos aplicados em fretes rodoviários para as cooperativas do setor. Por fim, o projeto limita em 5% a remuneração da Empresa de Transporte de Carga (ETC) quando o frete for realizado por Transportador Autônomo de Carga (TAC).
Por outro lado, no caso do projeto de minha autoria, para dar celeridade à entrada em vigor desse modelo – já que apenas em um ano a ANTT teria subsídios para avaliar a flutuação do mercado em 12 meses, e as demandas exigem respostas rápidas e eficientes –, a legislação prevê, extraordinariamente, que a agência fica autorizada à fixação de preço mínimo para o frete cobrado no transporte rodoviário de carga, por gênero de carga, válido pelo prazo de seis meses, a contar da data de publicação da lei. Dessa forma, o início da vigência da tabela de frete mínimo poderá ser imediato depois da publicação da legislação. Criamos essa lei balizadora para o caso de o projeto de Assis do Couto enfrentar problemas em função das legislações que versam sobre livre concorrência, o que pode fazer com que o texto do colega seja considerado inconstitucional. Trata-se do resguardo legislativo de que nossos transportadores terão segurança para trabalhar cobrindo os custos e tendo sustentabilidade em sua atividade.
ENTREVIAS - O senhor acredita que o fato de o PL 1.316 ter sido apensado ao PL 528 ofereceu força ao objetivo maior, que é a criação de uma política de frete mínimo?
Celso Maldaner - Acredito que sim. Prova disso é que, após muita articulação dos parlamentares – entre os quais me incluo – e dos representantes do movimento dos transportadores, a Comissão de Viação e Transporte na Câmara dos Deputados aprovou, no dia 7 de dezembro de 2016, o PL 528/2015. Os dois projetos em questão – 528 e 1.316 – foram construídos e costurados juntos no âmbito da Comissão Externa dos Caminhoneiros da Câmara dos Deputados – coordenada por mim durante todo o ano de 2015 e o início de 2016. O estabelecimento desse valor impositivo, que garanta a cobertura dos custos de operação e a sobrevivência do setor, é uma das principais reivindicações do movimento dos transportadores, o qual apoio integralmente. Nossa intenção ao criarmos esses textos legislativos é: beneficiar o segmento do transporte rodoviário e, assim, reaquecer e melhorar a economia brasileira de forma bastante abrangente.
Celso Maldaner - Acompanho de perto a atuação dos órgãos e sei do empenho e do comprometimento de seus dirigentes no sentido de ampliarem o diálogo e encontrarem soluções conjuntas que atendam aos diferentes universos de transportadores existentes hoje no país. Uma das ações mais importantes para se formar um espaço de discussão com o setor foi a criação do Fórum Permanente para o Transporte Rodoviário de Cargas (Fórum TRC) – vinculado ao Ministério dos Transportes –, que iniciou seus trabalhos em junho de 2015. A criação do colegiado foi um dos compromissos resultantes da Mesa de Diálogo, originada em 25 de fevereiro, entre o governo e representantes dos transportadores. O objetivo é estabelecer um canal permanente de diálogo e oferecer sugestões e medidas técnicas para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do setor.
Pela primeira vez na história, temos um fórum permanente com composição paritária entre autônomos e empresas de transporte – que possuem importância estratégica fundamental para o crescimento econômico do Brasil. O fórum é formado por representantes do Ministério dos Transportes, da ANTT, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), dos transportadores autônomos, das empresas de transportes e dos embarcadores de carga. Por obedecerem a outra lógica de operação, os que representam os caminhões-tanque discutem suas demandas em um grupo separado do das cargas secas, mas seguindo as mesmas regras do Fórum Permanente.
As reuniões são realizadas mensalmente, sempre na última quarta-feira do mês, e têm como objetivo desenvolver um diálogo permanente, com foco na melhoria do transporte de cargas e, principalmente, das condições de trabalho dos caminhoneiros autônomos. Os membros do fórum foram designados na Portaria 275, de 11 de junho de 2015.
ENTREVIAS - Gostaria de deixar mensagem para os leitores da Entrevias?
Celso Maldaner - Minha atuação política sempre foi bastante ligada à Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural – da qual sou membro titular desde meu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, em 2007 –, mas também tenho um foco muito voltado para a busca por melhorias na infraestrutura logística do Brasil. Por isso, atuei como coordenador da Comissão Externa dos Caminhoneiros em 2015/2016 e como membro titular da Comissão Especial do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas da Câmara dos Deputados em 2016. Penso que precisamos ter competitividade da porteira para dentro, com a ampliação do acesso à assistência técnica e extensão rural, por exemplo, mas também da porteira para fora, com estradas em boas condições, opções variadas de modais de transporte e alternativas eficientes e sustentáveis de escoamento da produção. Entendo que trabalhar em favor da infraestrutura é trazer mais competitividade para a economia e mais desenvolvimento para o país. Por isso, estou integralmente envolvido na luta dos transportadores e quero seguir como um porta-voz desse segmento no Congresso Nacional. Contem comigo!
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