Por mais mulheres nas estradas
8 de março é Dia Internacional da Mulher, e participação feminina na condução de veículos pesados aponta crescimento
Elas representam somente 3,4% do universo de motoristas habilitados para dirigir caminhões, ônibus e carretas, segundo a Secretaria Nacional do Trânsito (Senatran).
Elas representam somente 3,4% do universo de motoristas habilitados para dirigir caminhões, ônibus e carretas, segundo a Secretaria Nacional do Trânsito (Senatran).
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, esse recente dado divulgado reflete o que observamos no transporte rodoviário: poucas mulheres conduzindo veículos pesados, mas com representação nas áreas administrativas de empresas do setor.
Conversamos com a Ana Jarrouge, presidente executiva do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), para contextualizar esse cenário e entender as perspectivas de inclusão de mulheres no transporte rodoviário, que deixa o setor mais diverso e produtivo.
Formada em direito, Ana é pós-graduada em direito e relações do trabalho e com MBA em gestão de pessoas. Trabalhou como gerente administrativa, jurídica e de RH na Ajofer, empresa fundada pelo pai e pelo avô. Também teve grande participação na Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), onde foi coordenadora nacional da Comissão de Jovens Empresários do Transporte de Cargas e Logística (ComJovem).
ENTREVIAS: Dados do Senatran mostram que as condutoras são minoria, porém o número está crescendo. Em 2022, apenas 3,4% dos condutores habilitados eram mulheres. Em sua análise, o que explica a baixa ocupação do público feminino em cargos de motoristas de veículos pesados?
ANA JARROUGE: Acredito que, primeiramente, é uma questão cultural, já que se trata de uma profissão que sempre foi ocupada por homens. Entretanto, com o passar dos anos e com a conquista de direitos, além de conquistarem a independência financeira, elas começaram a enxergar diversas possibilidades no mercado de trabalho, e a profissão de motorista é uma delas. Contudo, trata-se de algo em longo. Por isso a importância de as empresas continuarem investindo em políticas de atração, para que mais mulheres vislumbrem a possibilidade de ocupar tal cargo.
Somado a isso, podemos citar alguns desafios da profissão em si, como o fato de ficar longe de casa, questões voltadas à segurança e a situação crítica da falta de infraestrutura nos locais de parada e de carregamento e descarregamento, o que, aliás, espanta não só as mulheres, mas os jovens também. Temos que enfrentar isso, envolvendo toda a cadeia logística.
Entrevias: Nos últimos anos, esse cenário vem mudando?
Ana Jarrouge: Sim, percebemos claramente, por meio da mídia e das empresas contratantes, que as mulheres vêm se interessando pela profissão, se capacitando e assumindo novos desafios, até chegarem aos veículos pesados.
Entrevias: Há políticas nas transportadoras para incentivar a atração de mulheres pra ocuparem função de motorista? Você conhece uma boa prática aplicada por empresas nesse sentido?
Ana Jarrouge: Sim, com certeza. Muitas empresas já possuem políticas de atração, retenção e crescimento profissional para as mulheres que querem ser motoristas. Porém, temos que estimular para que todas tenham isso. Portanto, por meio do Movimento Vez&Voz, elaboramos um e-book sobre esse assunto. Trata-se de um guia de orientação em boas práticas para valorizar as mulheres do transporte rodoviário de cargas.
E, a meu ver, a prática que mais faz sentido são as empresas que investem em mulheres que têm essa vontade de ser motorista e ajudam, inclusive, no processo para obter a CNH, além de capacitá-las por meio de uma verdadeira escolinha interna. Projetos desse tipo representam uma solução efetiva que sai da simples vontade de contratar mulheres e parte para a ação, pois, não adianta abrir vagas e exigir mulheres com experiência, temos que fazer a verdadeira inclusão, sobretudo já dentro da empresa.
Entrevias: Como a inserção de mulheres dialoga com a pauta ESG?
Ana Jarrouge: Uma empresa socialmente responsável é aquela que encontra meios e ferramentas para ajudar a comunidade local e a sociedade como um todo. É preciso ter coragem e propósito para assumir projetos que realmente podem mudar a vida das pessoas. Pessoas que farão a diferença nas empresas.
Entrevias: Quais os benefícios para o ambiente de trabalho com a participação de mais mulheres?
Ana Jarrouge: Todos! A diversidade traz inovação. Somente uma equipe diversa e que efetivamente represente a sociedade (e as mulheres são mais da metade da população) é capaz de direcionar as empresas no caminho da sustentabilidade em amplo sentido.
Entrevias: Você observa preconceito (estrutural) de as mulheres dirigirem veículos pesados?
Ana Jarrouge: Acredito que há casos em alguns lugares mais conservadores, mas também penso que isso está ficando para trás. As empresas que não se atentarem para essas questões poderão prejudicar a manutenção dos seus negócios num mundo que, hoje, é totalmente diverso e intolerante com algumas atitudes. Ficarão para trás e não conseguirão atrair novos profissionais. Temos que quebrar essas barreiras. Por isso, acredito na força da união de todos, especialmente na rede de apoio criada através dos movimentos para as mulheres no setor, como o Vez&Voz.
AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Entrevias. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Entrevias poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.