Profissional experiente em nova função

Bruno Schneider Raslan assume a superintendência da Polícia Rodoviária Federal no Estado com o maior corredor logístico do país

Entrevista / 05 de Maio de 2022 / 0 Comentários
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Desafios importantes, metas audaciosas e muita firmeza em seus propósitos. O inspetor Bruno Schneider Raslan assumiu a superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais em fevereiro último, mas já acumula uma trajetória de 18 anos na corporação. À Entrevias, ele falou sobre a estrutura atual da unidade, apreensões e os problemas mais enfrentados nas rodovias.

Raslan também revelou os principais objetivos da sua gestão, que passam por melhorias na segurança, mais integração com outros órgãos e até redução drástica do número de mortos e feridos em acidentes. Além de inspetor, ele é pai, marido e bastante experiente na função que desempenha. O resultado dessa conversa você confere a seguir.

 

Conte um pouco da sua história na PRF: desde quando está na corporação e qual foi a sua trajetória?

Ingressei na PRF em 2004, tomando posse na delegacia de Betim. Minha formação inicial se deu na área de exatas: técnico em mecânica pelo Cefet-MG e engenheiro mecânico pela PUC Minas. Trabalhei mais de sete anos nas indústrias metalúrgica e automotiva. Após ingressar na PRF, me formei em direito também pela PUC Minas. Recentemente, concluí o curso superior de polícia pela Academia da Polícia Militar de Minas Gerais, obtendo o título de especialista em gestão estratégica de segurança pública. Trabalhei durante nove anos patrulhando rodovias na região metropolitana. Exerci as funções de chefe de equipe em Betim e em Nova Lima, chefe substituto e chefe titular da delegacia metropolitana, chefe de gabinete da superintendência, chefe substituto do Núcleo de Apoio Técnico e superintendente-executivo, além de ter tido duas passagens como superintendente substituto da PRF-MG, participando de projetos estratégicos, primando sempre pela eficiência e pela efetividade no serviço público. Em 26 de outubro de 2021, tive a honra de ser designado superintendente, certamente o meu principal desafio profissional até o momento.

 

O que muda na PRF-MG com a troca de comando?

Nos últimos três anos em que a superintendência esteve sob o comando do inspetor Marco Antônio Territo, do qual fui substituto nesse período, a PRF-MG experimentou um avanço extraordinário no enfrentamento do crime organizado, com destaque para o combate ao tráfico de drogas e ao roubo de cargas. Em 2019, 2020 e 2021, a superintendência apreendeu mais de 100 toneladas de drogas, gerando um prejuízo milionário às organizações criminosas, uma marca histórica para o Estado. Com a troca de comando, além de reforçar as estratégias e as boas práticas que vêm dando certo, serão implementadas ações visando à melhoria contínua da prestação de serviço à sociedade e à evolução das nossas entregas institucionais. Nesse sentido, é preciso melhorar as condições de trabalho dos policiais e consolidar a gestão de resultados na superintendência. Não basta continuarmos reduzindo os crimes e aumentando as apreensões de ilícitos nas rodovias federais, como tem ocorrido. Também temos que melhorar a percepção de segurança da sociedade. Uma das maneiras de alcançarmos esse resultado é reforçando a nossa presença nas rodovias, sobretudo nos espaços que o Estado tem dificuldade de ocupar, e aprimorando a nossa comunicação com os cidadãos.

 

Quais são as suas propostas para a corporação?

Em resumo, atuaremos aprimorando as estratégias que se mostraram eficazes nos últimos anos. Implantaremos uma gestão de resultados de forma mais visível dentro da instituição, visando à melhoria contínua da prestação de serviços à sociedade; investiremos na capacitação dos nossos servidores para melhorar a nossa atuação enquanto órgão público e ferramenta de integração com outros órgãos e entidades, especialmente os de segurança pública; adotaremos ações para aumentar a percepção de segurança nas rodovias federais, nos fazendo mais presentes nos horários e locais mais críticos, seja em relação à criminalidade, seja em relação aos acidentes de trânsito. Dentro dessa última estratégia, uma das ações que pretendemos implantar nos próximos dois anos é o aumento da presença da PRF no Norte de Minas com o reforço do efetivo e a construção de novas unidades operacionais na região. Também fomentaremos o serviço aerotático por meio da instalação de uma base de operações aéreas na superintendência. Em um Estado com essas dimensões e complexidade, essa é uma ferramenta de grande importância para o alcance dos nossos resultados.

 

Quais os maiores desafios à frente da superintendência?

Focando nos resultados, elejo como os maiores desafios continuar melhorando a segurança pública depois de avanços tão expressivos e reduzir a violência no trânsito. Em relação ao combate à criminalidade, sobretudo o crime organizado, temos que nos antecipar a todo instante. Para estarmos sempre preparados, é preciso implementarmos um ciclo de capacitação, planejamento, execução e avaliação. Na área da segurança viária, o desafio não é menor, pelo contrário.  Ao proclamar os anos de 2011 a 2020 como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, a ONU conclamou os estados-membros a implementarem ações de segurança viária, sobretudo nas áreas de gestão, infraestrutura, segurança veicular, normatização, fiscalização e educação para o trânsito, e cuidados pós-acidente, abarcando desde o atendimento pré-hospitalar até a reabilitação de pessoas com sequelas. Nessa década, a PRF experimentou importantes avanços na segurança viária, contribuindo para a redução de 38,7% no número de mortos em acidentes de trânsito nas rodovias federais. Porém, em 2019 e 2020, a redução foi de apenas 0,8%, o que demonstra uma desaceleração e pode significar, inclusive, uma estagnação. Essa constatação só reforça a necessidade de se buscarem novas abordagens, pois as ações desencadeadas na última década já não demonstram a capacidade de manter o ritmo da redução do número de mortos em acidentes. Para enfrentar esse desafio, estamos investindo em segurança viária e desenvolvendo diversos projetos, que vão desde o estudo das condições das vias e a propositura de sua melhoria até campanhas de educação para o trânsito, passando, inclusive, por um projeto de implementação da perícia de acidentes na superintendência da PRF-MG.

 

Minas é o Estado com a maior malha viária do Brasil. Diante disso, como está a estrutura da PRF hoje e o que precisa melhorar?

Minas Gerais possui cerca de 9.000 km de rodovias federais, sendo aproximadamente 5.600 km atendidos diretamente pela PRF e 3.400 km pela Polícia Militar Rodoviária por meio de convênio. Para atender essa demanda, a estrutura administrativa da PRF-MG conta com 17 delegacias distribuídas por todas as regiões. Essas, por sua vez, são responsáveis por um total de 37 unidades operacionais (postos). Para aperfeiçoar o serviço prestado, é preciso investir na infraestrutura predial, melhorando, ao mesmo tempo, as condições de trabalho dos policiais e o conforto e a segurança dos usuários, além de aumentar a atual estrutura, criando novos pontos de atendimento para os cidadãos e a representatividade para a PRF. Nesse sentido, para 2022 e 2023, previmos a construção de quatro unidades operacionais, incluindo uma em Salinas, bem como a construção de um centro de treinamento e um hangar para a instalação de uma base aérea da PRF no Estado.

 

Durante a pandemia, houve uma redução no tráfego nas rodovias. Existe a expectativa de aumento neste ano?

Em março de 2020, com o surgimento da pandemia, identificou-se uma forte redução no tráfego nas rodovias federais, com maior ênfase nos automóveis. Já no segundo semestre do mesmo ano, percebeu-se a recuperação do volume de veículos de carga. Em 2021, o movimento alcançou – e até superou, em alguns locais – o volume pré-pandemia. Para 2022, a expectativa é de manutenção ou leve aumento do tráfego em relação ao ano passado.

 

Estamos aguardando o leilão da BR-381. O que ele mudará para Minas Gerais, já que a rodovia é uma das mais importantes do país e também muito conhecida pelo número de acidentes?

Sabe-se que a infraestrutura viária, além de propiciar desenvolvimento econômico e social, é um dos principais fatores contribuintes para os acidentes de trânsito, ficando atrás apenas do fator humano. Nesse sentido, esperam-se, com a concessão da BR-381, do trecho de Belo Horizonte a Governador Valadares, e da BR-262, da capital mineira a Viana (ES), grandes avanços na infraestrutura viária, com a consequente redução dos acidentes e de sua gravidade nos referidos trechos. Com a concessão, as indústrias instaladas em Minas – e, consequentemente, o Estado – ganharão competitividade, os transportadores ganharão economia de combustível e de manutenção dos veículos, e a sociedade, principalmente, ganhará mais conforto e segurança para viajar por rodovias tão importantes para o Estado e para o país.

Quais são os principais problemas vistos pela PRF nas rodovias mineiras?

O Estado faz divisa com outras sete unidades da Federação. Por sua localização, Minas se configura como o principal corredor logístico do país, ligando diferentes regiões. Com essas características, é de se esperar que o transporte de cargas e de passageiros traga consigo problemas de natureza viária e criminal. Apesar da forte redução nos índices criminais ocorrida nos últimos três anos nas rodovias federais que cortam Minas e de o Estado ter sido considerado o mais seguro para se viver em 2021, o roubo de cargas ainda é um dos principais problemas a serem enfrentados pela PRF. Junto a essa modalidade criminosa, os acidentes de trânsito figuram entre os principais problemas vistos pela PRF nas rodovias mineiras.

 

Quais trechos são mais perigosos e precisam de mais fiscalização?

Quanto ao aspecto criminal, devemos ter em mente o caráter dinâmico do crime em relação aos locais e, até mesmo, aos tipos penais. Por esse motivo, é necessário o envolvimento de todo o sistema de segurança pública para que não haja a mera migração do crime, mas, sim, a redução dos índices criminais e a construção de uma sociedade mais segura para se viver e empreender. Sobre os acidentes, também devemos observar que diversos são os fatores que contribuem para a sua ocorrência, podendo-se destacar os fatores humano, viário e veicular. Em que pese a necessidade de se atuar em todas essas facetas para a concretização de um trânsito mais seguro, esse tipo de ocorrência é mais estável em relação aos locais. Atualmente, os que exigem maior atenção dos usuários são o trecho da BR-040 entre Belo Horizonte e Sete Lagoas e o trecho da rodovia Fernão Dias (BR-381) entre Belo Horizonte e Igarapé.

 

O que é preciso mudar na conduta dos motoristas para termos rodovias mais seguras?

Todos precisam entender que nenhuma morte pode ser aceita dentro do sistema viário. Nossa meta deve ser a de zero morto ou ferido grave. Contudo, para avançarmos nessa direção, temos que atuar junto aos condutores na educação para o trânsito e na fiscalização. Ainda assim, sabemos que os erros acontecerão, pois isso é inerente ao ser humano. Por isso, temos que criar condições para que os acidentes, quando ocorrerem, tenham os seus efeitos mitigados, reduzindo os ferimentos e as mortes. É fundamental melhorar a segurança dos veículos e, principalmente, as condições das rodovias. Por fim, eu diria que os motoristas devem se conscientizar de que o trânsito em condições seguras não é apenas um direito, mas um dever de todos que utilizam as vias.

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