Que tal largar tudo e ir?
Comportamento
A- A A+Sem medo de ser felizes, eles abriram mão de bens e carreira para realizar seus sonhos
Largar emprego, carreira, família, amigos, o conforto de casa e, principalmente, a ilusão de que as pessoas precisam ter um lar e um emprego para serem felizes, e, com coragem e determinação, ir em busca da realização do grande sonho de sua vida. Foi com essa filosofia de vida que os paulistanos Andrea de Oliveira, 29, e Bruno Paris, 25, deixaram tudo para trás, colocaram o pé na estrada e foram desbravar o mundo, de mochila nas costas e sob duas rodas. “No dia em que nos conhecemos, durante uma escalada, o Bruno tinha saído do emprego. Eu planejava fazer o mesmo. Como nós sonhávamos viajar por um longo período e tínhamos juntado dinheiro para isso, resolvemos não perder tempo e embarcar nesse sonho juntos”, brinca a jornalista.
O casal conta que, inicialmente, pensou em fazer a viagem de carona, contudo, logo desistiu da ideia, já que o peso dos equipamentos de escalada dificultaria a caminhada. “Pensamos, então, viajar de Kombi, mas concluímos que o custo seria alto. Foi aí que um amigo comentou que daria para fazermos a viagem de bicicleta. No começo, ficamos desconfiados, afinal, será que a gente conseguiria pedalar 30 km de uma cidade a outra? Não seria perigoso transitar em estradas sem acostamentos? Como levaríamos nossa bagagem na bicicleta? Passamos então a pesquisar esse tipo de viagem e encontramos outras pessoas que estavam fazendo isso, e nossas dúvidas foram se esclarecendo. Compramos as bicicletas e, quando pedalamos em uma estrada pela primeira vez, percebemos que não havia melhor jeito de viajar, pois há uma enorme sensação de liberdade”, relatam.
Durante cinco meses, eles planejaram tudo: pesquisaram os destinos que iriam conhecer, compraram o material necessário e se dedicaram a um exaustivo treinamento para conseguir aguentar a dura viagem. Mas, antes de embarcar nessa aventura Brasil afora, a dupla teve um pequeno acidente de percurso. “Íamos sair um mês antes, mas a Andrea se acidentou enquanto pedalávamos na cidade. Ela desviou a bicicleta em uma canaleta e caiu para o lado com o cotovelo no chão. O impacto fez com que ela quase não conseguisse movimentar o braço por alguns dias. Então, tivemos que esperar sua melhora antes de partir para a viagem”, lembra Bruno, que é instrutor de trabalho em altura.
Levando consigo apenas suas roupas, água, equipamentos de escalada, além de alguns itens de uso pessoal e coletivo – como barraca e kit de primeiros socorros –, eles começaram a viver os melhores momentos de suas vidas. De lá para cá, foram quase 3.000 quilômetros de pedaladas e tantas cidades, cachoeiras e vilarejos visitados nas terras tupiniquins que fica até difícil contar. “Já visitamos os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Fizemos o Caminho do Sol, de Santana de Parnaíba a Águas de São Pedro (no interior de São Paulo). Rumamos sentido Poços de Caldas e, de lá, pedalamos em trechos do Caminho da Fé, que percorre a região do Sul de Minas. Fomos até São Bento do Sapucaí, também em São Paulo, e seguimos para Caxambu, em Minas, onde encontramos a Estrada Real e a acompanhamos para o Norte, até Diamantina”, explica Andrea ao ressaltar que, agora, o casal aventureiro está seguindo sentido Brasília. “Queremos ganhar o norte do país, passando pela Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e pelo Jalapão, no Tocantis, para, só depois, voltarmos ao sul, pelo litoral brasileiro”, acrescenta.
APRENDIZADO
Segundo a jornalista, perceber as diferenças de cada lugar visitado e das pessoas locais é algo indescritível e único para o casal. “De um lugar para o outro, às vezes, tão perto, mudam-se os sotaques e os olhares. Em todo o trajeto, fizemos tantos amigos, e estes eram tão diferentes uns dos outros, coisa que jamais aconteceria em nossa vida em São Paulo. Essa foi uma grande oportunidade poder conhecer todas essas pessoas que encontramos ao longo de nossa viagem. Pessoas que, às vezes, nos oferecem um abrigo, uma refeição e, principalmente, água”, brinca Andrea.
Bruno também se recorda de momentos inusitados e histórias engraçadas que marcaram a viagem até agora. “Em um acampamento pago em Cuscuzeiro (Analândia-MG), a Andrea foi tomar banho, e, na entrada do banheiro, havia uma cascavel. Nesse mesmo espaço, pegamos carrapatos pelo corpo inteiro e ficamos com picadas coçando por mais de duas semanas. Já durante o banho em uma pousada, o chuveiro deu curto-circuito e começou a pegar fogo. Por sorte, as chamas apagaram sozinhas e o forro queimou apenas um pouco”.
CONTRATEMPOS
Como nem tudo são flores, eles não poderiam deixar de citar dificuldades enfrentadas. Ter a barraca atacada por formigas cortadeiras, pedalar por horas sem tomar água, passar por momentos de estresse entre o casal, enfrentar a falta de preparo físico, além de pedalar por horas a fio sob o sol escaldante, são alguns exemplos. “No início, qualquer subida era muito cansativa pra a gente, mas buscamos superar o cansaço e aprender como poderíamos melhorar aquele momento com uma mudança de pensamento. Com o tempo, as subidas passaram a ficar cada vez mais fáceis, já que melhoramos muito nosso condicionamento físico. Já para evitar o calor intenso, em dias quentes, passamos a acordar às 4h, para sairmos de madrugada e chegarmos antes do meio-dia ao próximo destino”, conta a jornalista.
EM EVIDÊNCIA
Sempre registrando com fotografias os momentos marcantes da viagem e as reflexões sobre o que significa para eles “largar tudo e ir”, Andrea e Bruno, além de manterem boa parte dos custos da viagem vendendo suas fotos, criaram ainda uma página no Facebook para que amigos e familiares
pudessem acompanhar a viagem.
O sucesso foi tanto que muitas pessoas passaram a acompanhar a empreitada e a entrar em contato com eles para manifestar apoio ao casal e pedir dicas de viagem.
Hoje, eles têm mais de 2.000 seguidores nas redes sociais. “Tudo isso fez com que a gente se motivasse a inspirar e a encorajar aqueles que desejam realizar um sonho, mesmo que isso implique romper os padrões a que somos acostumados. Para ser feliz, é preciso seguir sua intuição e ter em
mente que nenhum sonho é perfeito. Qualquer escolha que façamos vai ter seu lado bom e seu lado ruim”, ponderam. E, para quem tem vontade de “largar tudo e ir”, eles aconselham a fazer isso sem titubear.
“Ter medo é normal. Nós crescemos pensando que devemos ter um tipo de vida, mas algo dentro da gente diz que não é assim que deve ser. Quando a gente decide mudar de vez, bate um medo enorme de errar, de ter que voltar para a antiga vida porque não deu certo a tentativa. É por causa desse medo que geralmente passamos dias, meses e anos nos justificando por não fazermos o que realmente queremos. Inventamos desculpas, como a falta de dinheiro, a família e as responsabilidades. Na verdade, você sempre vai ter um motivo para não largar tudo, porque é mais confortável permanecer onde você está. Mas o que a gente acha é que vale a pena correr o risco. Mesmo que a experiência não saia como planejada, será algo que trará aprendizados”.
Para o futuro, o casal pretende conhecer ainda muitas regiões do país, fazer uma exposição de suas fotografias e, quem sabe, até lançar um livro. “Também sonhamos conseguir que a viagem se
torne autossustentável financeiramente, sem dependermos tanto de recursos de outros trabalhos para, depois, seguirmos a viagem com uma volta pelo mundo”, finalizam.
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