Reflexo do dissídio nas finanças
Custos operacionais das empresas de transporte rodoviário de cargas serão impactados
A- A A+Maio é o mês em que se comemora o Dia do Trabalhador e, com ele, são apresentados os reajustes salariais de diversas categorias de profissionais do setor produtivo. Os funcionários do ramo do transporte rodoviário de cargas fazem parte desse grupo.
Levantamento feito pelo Departamento Jurídico da NTC&Logística em 18 sindicatos de todo o Brasil constatou que o índice de reajuste variou entre 6,0% e 9,0%, sendo a média de 7,9%. Com base nos acordos coletivos realizados pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), o Departamento de Custos Operacionais e Estatística (Decope) da NTC&Logística prevê aumentos de 7,5% nos salários dos motoristas e do pessoal administrativo.
Contudo, os reajustes médios de 7,5% não serão diretamente influenciados, na mesma proporção, nas despesas operacionais. “Como se trata de um custo fixo, o salário pesa mais nas curtas distâncias e menos nas longas distâncias. Pesa mais também no transporte de carga fracionada do que no transporte de cargas completas. Cargas fracionadas envolvem muito mais mão de obra e despesas indiretas do que as cargas completas”, explica o diretor técnico da NTC&Logística, Neuto Gonçalves Reis.
Neuto Gonçalves Reis, NTC&Logística
O reajuste concedido aos trabalhadores em transporte vai gerar impacto de 1,72% sobre os custos operacionais da carga fracionada nas distâncias médias de até 800 km. Na operação lotação, para essa mesma distância, o impacto é de 1,18%. O valor de referência da Participação dos Lucros e Resultados (PLR) também foi reajustado em 7%, passando de R$ 500,00 para R$ 535,00.
As análises do impacto dos reajustes de salários tomam como base São Paulo, porque esse município detém a maior concentração de empresas de transporte rodoviário de cargas de todo o Brasil e a maior concentração de trabalhadores nesse setor.
Distancia (km) | Carga Fracionada | Lotação |
---|---|---|
50 | 41,14 | 33,84 |
400 | 37,27 | 24,10 |
800 | 35,56 | 21,13 |
2.400 | 32,98 | 18,31 |
6.000 | 28,18 | 17,27 |
FONTE: DECOPE/NTC
IMPACTO IMEDIATO
Neuto Gonçalves Reis ressalta que nem sempre é fácil repassar os custos para os embarcadores. Porém, como se trata de uma despesa cujo impacto sobre o fluxo de caixa é imediato, deve ser repassado o quanto antes. “As transportadoras precisam cobrar o frete baseadas nos seus custos, caso contrário, aumentos como esses podem refletir negativamente nos seus fluxos de caixa e na sua rentabilidade.” Levantamento feito pelo Decope mostra que a rentabilidade média das 50 maiores empresas do país não chega a 2% e muitas delas estão no vermelho. O endividamento médio chega a 65% e algumas já estão insolventes.
Por isso, os empresários devem contemplar, na construção do orçamento da empresa, a questão do dissídio. Normalmente, a previsão orçamentária acontece no fim do ano, referindo-se ao período seguinte. Assim, o reajuste já pode ser vislumbrado nos custos, sem pegar ninguém de surpresa.
ESCASSEZ DE MOTORISTAS
Paralelamente ao impacto nos custos operacionais em função do dissídio, as empresas do setor de transporte rodoviário de cargas devem se preparar para um cenário preocupante: a escassez de motoristas. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT)
revela que, no setor rodoviário, 71,5% dasempresas citam a escassez de mão de obra como principal problema do setor. Outros 19,4% destacam a falta de experiência dos candidatos. Segundo 17,9% das contratantes consideram que o alto custo da mão de obra constitui barreira à contratação; 13,9% dizem que faltam cursos de treinamento; enquanto 16,7% reclamam dos elevados encargos sociais.
Em pesquisa realizada no final de 2013, a NTC&Logística perguntou aos transportadores o que pode limitar o crescimento da empresa em 2014. Cerca de 30% dos participantes apontaram como principal problema a falta de mão de obra, em especial de motoristas e ajudantes.
A nova abordagem – realizada em abril deste ano com 143 empresas de transportes – revela que o ganho médio de um motorista urbano, incluindo vale-refeição, plano de saúde e seguro de vida, chega a R$ 2.213,79. Para o condutor rodoviário, esse valor sobe para R$ 3.010,71.
O principal obstáculo apontado para a dificuldade de se contratar motoristas foi a severidade e as dificuldades da profissão. Essa severidade pode ser traduzida pelas longas jornadas de trabalho, quase sempre longe da família, pelas estradas ruins e pelo medo de acidentes e assaltos.
Constatou-se também que o déficit médio de motoristas chega a 12,1% da frota das empresas. Como existem hoje, segundo a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), 675.086 veículos automotores nas mãos das empresas e admitindo-se que cada caminhão tenha um único motorista, chega-se a um déficit total de cerca de 82 motoristas.
No entanto, a tendência hoje é de se utilizar mais de um motorista por veículo. Admitindo-se 1,3 profissionais por veículo, o déficit sobe para cerca de 106 mil condutores.
UM CAMINHO?
Buscando amenizar o problema, a CNT lança o projeto Primeira Habilitação para o Transporte, que vai financiar a formação como motoristas de 50 mil jovens de baixa renda entre 18 e 25 anos.
O projeto, que será realizado pelo Sest/Senat, prevê o custeio de todos os procedimentos necessários para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria B. Para a seleção dos jovens, o Sest/Senat utilizará as suas unidades de atendimento, os sindicatos e as empresas de transporte rodoviário de cargas e de passageiros.
Está prevista também a continuidade da formação desses jovens para atuarem como motoristas profissionais. Para isso, o Sest/Senat oferecerá cursos de formação específica tanto para motoristas de ônibus como de caminhão, além de viabilizar a mudança de categoria da CNH (D ou E) dos participantes. O treinamento utilizará simuladores de direção de última geração e estará integrado ao Programa Trainee de Novos Motoristas e ao Programa de Formação de Novos Motoristas.
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