Retratos de uma 381 em preto e branco
Cultura
Fotos: Daniel Moreira/Divulgação
Exposição fotográfica de Daniel Moreira exibe as várias nuances do trecho de uma das rodovias mais perigosas do país
Foi durante o caminho de ida e volta que fazia semanalmente entre Belo Horizonte e a cidade de Ipatinga, para ver a esposa e os filhos, que o fotógrafo Daniel Moreira teve inspiração para criar a mostra fotográfica “Paisagem Ambulante 381”, em cartaz no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, na capital mineira, desde o dia 1º de abril. Fruto de uma pesquisa realizada em cinco anos, a exposição reúne imagens de pessoas e paisagens encontradas ao longo dos mais de 200 quilômetros desse trecho da rodovia, uma das mais perigosas do Brasil. A exposição é um registro étnico-cultural de 38 imagens, que evidencia as transformações da via e a forma como indivíduos que ali habitam se relacionam com ela. “Passava muito tempo na estrada. Por isso, senti a necessidade de fotografar essa vivência diária ali”, explica o belo-horizontino.
Tudo começou sem muita pretensão. O artista passou a registrar monumentos, veículos abandonados, pessoas e muitos dos objetos que eram descartados pelo caminho, como caçambas, containers e até cabines de caminhões. “Cada vez que eu ia e voltava, notava que, com o tempo, esses objetos passavam a interagir com a paisagem, pois muitos deles eram tomados pelo mato, por exemplo. Nós não percebemos, mas a estrada tem vida própria. Ela é como um fluxo sanguíneo, que perpassa e molda pessoas e objetos que transitam por ela”, afirma.
Apesar de o percurso ser relativamente curto, o tempo de viagem é muito incerto em função das inúmeras interrupções do trânsito causadas por acidentes ou obras. Para ele, a viagem se tornou mais prazerosa a partir do momento em que começou a dar um novo significado para a estrada. No entanto,
uma das grandes dificuldades que teve no processo foi o ato de fotografar. “A 381 é muito perigosa, e os acostamentos próximos aos locais que eu queria registrar são praticamente inexistentes. A solução era estacionar onde dava e, depois, fazer o percurso para chegar ao local desejado andando. E
foram muitos quilômetros assim”, conta.
O DINAMISMO E A MELANCOLIA
Os traços melancólicos de cada imagem, eternizadas por suas lentes em preto e branco, também refletem um pouco da vivência de quem percorre essa rodovia diariamente. E é por esse prisma que se identifica o papel preponderante que os andarilhos têm no trabalho desenvolvido pelo artista. “Entendi
que essas pessoas fazem das estradas uma opção de vida, tornando-se parte da paisagem. Acho que isso fez como que o ensaio se tornasse tão melancólico. Ele revela um pouco da solidão de quem está nas estradas. Apesar de ser um lugar com grande fluxo de veículos, as pessoas, em sua maioria, estão sozinhas, como é o caso dos caminhoneiros. Muitas das minhas fotografias mostram um
pouco do dia a dia desses trabalhadores que, constantemente, têm que parar às margens da rodovia, grande parte em locais ermos, a fim de descansar, correndo, assim, risco de morrer. Esse foi outro ponto que me chamou muita atenção na rodovia”. Agora, segundo Daniel, a expectativa é que o trabalho seja transformado em um livro. “Estou esperando apenas passar o período de exposição para começar a captar recursos para que meu trabalho vire um livro”, projeta.
Exposição fotográfica “Paisagem Ambulante 381”
Local: Centro de Arte Contemporânea e Fotografia
Endereço: avenida Afonso Pena, 737, centro, Belo Horizonte/MG
Data: até 7 de junho
Horário: de terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h, e, aos domingos, das 16h às 21h
Entrada: gratuita
Informações: (31) 3236.7400
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