Risco em dose tripla

Estudo feito no Canadá mostra que caminhoneiros têm três vezes mais chances de desenvolver distúrbios que afetam o movimento do corpo

Saúde / 09 de Julho de 2021 / 0 Comentários
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Um estudo recente revelou que os caminhoneiros têm uma probabilidade três vezes maior de apresentarem distúrbios musculoesqueléticos em relação aos profissionais de outras categorias. A análise foi feita pela estudante de doutorado em engenharia industrial Firdaous Sekkay, da universidade Polytechnique Montreal, no Canadá. Os resultados foram divulgados no Brasil pelo Blog do Caminhoneiro.

Segundo a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (Sbed), a algia musculoesquelética é uma consequência do esforço repetitivo e de distúrbios ligados ao trabalho que provocam lesões dolorosas nas articulações, nos músculos ou em estruturas próximas a eles.

A pesquisa feita por Firdaous mostra que 43% dos caminhoneiros pesquisados sofreram ao menos um distúrbio em 2020. Ela acompanhou a rotina de 123 profissionais com idades entre 27 e 71 anos.

Os membros superiores – ombros, braços, mãos e antebraços – foram os mais atingidos por dores, relatadas por 29% dos profissionais. Em segundo lugar, ficaram as costas, com 22% dos casos. Vinte por cento responderam sentir dor nos ombros; 17%, nos membros inferiores – quadril, pernas e pés –; e 15% se queixaram de dores no pescoço.

O estudo concluiu que os caminhoneiros estão mais expostos aos problemas musculares devido a doenças pré-existentes, condições físicas, idade, estilo de vida e operações ligadas à rotina de trabalho, como carregar peso, cobrir a carga com lona, passar muito tempo ao volante e dormir em lugares desconfortáveis, por exemplo.

Justificativas

Um dos aspectos abordados na pesquisa como causa para os problemas musculoesqueléticos em motoristas profissionais é a exposição a agentes externos como vibração, pressão mecânica e temperatura. Os caminhoneiros também ficam bastante tensos, já que estão sujeitos a acidentes nas operações. Outro fator é a falta de sono ou o sono de má qualidade.

A pesquisadora canadense recomenda que esses profissionais dediquem um tempo aos cuidados com a saúde realizando exercícios físicos e alongamentos e também descansando.

Na população em geral, segundo dados da Sbed, a dor lombar baixa é a queixa mais comum de problemas musculoesqueléticos crônicos. Outros exemplos são tendinites, neuropatias, mialgias e fraturas por estresse. Esse tipo de dor afeta 33% dos adultos e é responsável por 29% das faltas ao trabalho.

Tratamento

Por aqui, um estudo feito em 2016 pela Confederação Nacional do Transporte mostrou que as dores na coluna são o problema de saúde mais recorrente entre motoristas profissionais. Na pesquisa, 16% dos entrevistados relataram já ter realizado algum tipo de tratamento médico em razão desse mal.

Na época, a fisioterapeuta Francieli Lodi, do Serviço Social do Transporte e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat), explicou que o problema ocorre por conta da má postura combinada com longas horas na direção e com a falta de atividade física. “É preciso fazer alongamentos e ter muito cuidado com a postura, mantendo o corpo bem encostado no banco, formando um ângulo de 90 graus. Os braços ao volante devem ficar levemente flexionados”, orientou a especialista.

As unidades do Sest/Senat oferecem serviços de fisioterapia para profissionais do transporte. Há atendimentos também nas assistências odontológica, nutricional e psicológica. Os prontuários são interligados, o que permite que o trabalhador possa dar continuidade ao tratamento em qualquer unidade do país.

Mais Gatilhos

Em outra pesquisa, desenvolvida pela fisioterapeuta Lucia Castro Lemos, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, foi revelado que os problemas musculares e esqueléticos dos caminhoneiros estão diretamente ligados à qualidade do sono e à falta de descanso. Nesse levantamento, as principais queixas foram de dores no tronco, especialmente na coluna lombar.

A região superior das costas, os ombros, os joelhos e o pescoço também foram muito citados. A pesquisa ainda identificou que as dores apareceram nos 12 meses que antecederam o problema de fato e que apenas 10% dos transportadores procuraram ajuda profissional para identificá-lo e tratá-lo. Outro ponto destacado no estudo foi a ocorrência mais frequente de dores em motoristas que trabalham à noite, reforçando a importância do descanso adequado.

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