Risco nas estradas
Falhas na infraestrutura e deficiências na manutenção colocam em risco milhões de brasileiros que trafegam por pontes e viadutos país afora.
A- A A+O risco de acidentes em pontes e viadutos – também chamados de obras de arte – está mais perto de ser regra do que exceção no Brasil. O episódio recente da queda parcial de um elevado na região Central de Brasília fez com que as atenções se voltassem novamente para as falhas de infraestrutura, mas elas são um problema antigo no país. A 21ª ”Pesquisa CNT de Rodovias”, da Confederação Nacional do Transporte, mostra que, dos 10.447 viadutos ou pontes pesquisados, mais da metade (58,6%) não possui acostamentos ou defensas (barreiras de concreto), e 7,6% deles não contam com nenhum dos dois mecanismos de segurança.
Durante o levantamento, os pesquisadores ainda se depararam com cinco pontes caídas em trechos considerados críticos: em Alcântara (MA), Batalha (PI), Chaval (ES), Nova Venécia (ES) e São Desidério (BA). A sondagem da CNT evidenciou também que os investimentos em manutenção e em adequação das obras de arte – bem como em construção de novas estruturas – sofreram redução significativa de 2016 para 2017. Há dois anos, foram investidos R$ 6,77 milhões, enquanto até novembro último o orçamento foi de R$ 330 mil para reparos. Já o montante destinado a novas pontes e viadutos caiu de R$ 304,13 milhões em 2016 para R$ 33,44 milhões em 2017.
“Os números demonstram baixa prioridade do governo em relação a esse tipo de construção. Isso representa perdas para a infraestrutura brasileira e acaba contribuindo para o aumento do Custo Brasil e gerando grandes riscos de acidentes nas rodovias”, alerta o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.
Tragédia anunciada
Outro agravante destacado pela pesquisa da confederação é a idade das pontes e dos viadutos projetados, em sua maioria, há mais de cinco décadas, o que os torna incompatíveis com a realidade atual da frota e do tráfego de veículos. “Só havia meio-fio e barreira. Dos anos 1980 para cá, as obras mudaram e passaram a considerar esses aspectos de segurança”, diz o analista de infraestrutura do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Issa Miguel, referindo-se à falta de acostamentos na maior parte das intervenções brasileiras.
Outro problema é que, além de envelhecidas, essas estruturas são mal cuidadas. No caso do viaduto do Eixo Rodoviário de Brasília, que desabou parcialmente no início de fevereiro, já havia recomendação de reforma e previsão orçamentária, mas nada foi feito. A fragilidade do elevado – e de outros monumentos da capital federal – foi apontada por uma auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal em 2013. O local era utilizado como estacionamento por pessoas que trabalham em prédios próximos, e um restaurante funcionava debaixo da estrutura. Por sorte, não houve vítimas.
Em Belo Horizonte, o desfecho foi diferente. Duas pessoas morreram, e outras 21 ficaram feridas depois que uma alça do viaduto Guararapes, na avenida Pedro I, desabou e atingiu um micro-ônibus, um carro e dois caminhões, em julho de 2014. O elevado ainda estava em fase de acabamento e tinha previsão de entrega para o fim daquele mês. Deficiências na fiscalização e no projeto foram apontadas como causas do desabamento parcial da estrutura.
Recorrência
Outro drama já vivido pelos mineiros foi com a ponte sobre o Rio das Velhas, na BR-381, em Sabará, na região metropolitana da capital. Em abril de 2011, parte dela, no sentido Vitória (ES), cedeu, e as duas pistas precisaram ser interditadas. Antes que a demolição completa fosse feita pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no início do mês seguinte, a estrutura desabou. Como a área já estava interditada, ninguém se feriu. A nova ponte só foi liberada em setembro daquele ano. Nesse intervalo, motoristas eram obrigados a passar por desvios pela BR-040 em direção ao Nordeste brasileiro, ou pela BR-356, rumo ao Estado capixaba, aumentando a viagem em mais de 100 km.
Tensão na BR-040
Estreito, sem divisão das pistas de sentidos contrários e erguido em curva, o viaduto Vila Rica, popularmente – e não à toa – conhecido como “viaduto das almas”, foi o local onde mais de 200 pessoas perderam a vida ao longo de 53 anos (de 1957, quando ele foi inaugurado, até 2010, quando, finalmente, foi desativado), em Itabirito, na região Central de Minas Gerais. O acidente mais grave, com 30 vítimas fatais, foi registrado em agosto de 1969: um ônibus não conseguiu atravessar a estrutura e acabou despencando dela. Em setembro de 1967, outra queda de coletivo resultou em mais 14 mortes. (Com Agência CNT de Notícias e Agência Brasil)
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