Rodovias na UTI
Pesquisa CNT 2014 mostra aumento de pontos críticos e metade dos trechos com pavimento ruim
BR-251, em Fruta do Leite (MG): caminhões enfrentam buracos na pista
Uma radiografia das rodovias brasileiras, e o resultado é um país cheio de contrastes. Enquanto parte da malha rodoviária concedida aparece no topo do ranking das estradas com melhores condições de tráfego, as que estão sob gestão pública ainda têm problemas de sobra na pavimentação e sinalização. É o que mostra a Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) de Rodovias 2014.
MG-050, em Pratápolis: obras exigem atenção dos motoristas
A 18ª edição do diagnóstico avaliou 98.475 km, o que corresponde a toda a malha rodoviária federal pavimentada e aos principais trechos estaduais do país. Durante 30 dias, técnicos e especialistas avaliaram as estradas em regular, ruim, péssimo, bom ou ótimo em relação à existência de buracos, trincas, afundamentos, ondulações, entre outros problemas. O que se constatou foi que a metade do pavimento das rodovias brasileiras, ou seja, 49,9%, tem algum tipo de deficiência. Mais de 44% da extensão está desgastada.
“A situação do sistema rodoviário brasileiro continua grave e comprometendo a segurança das pessoas, tanto de motoristas como de passageiros e pedestres. É cada vez maior o número de mortes e de acidentes. Essa situação também compromete a logística, devido ao elevado custo do transporte, tornando o país menos competitivo”, afirmou o presidente da CNT, Clésio Andrade, na divulgação dos dados da pesquisa.
BR-474, em Pocrane (MG): parte da pista cedeu e oferece risco aos usuários da via
Na extensão das rodovias consideradas boas ou ótimas, houve uma discreta melhora de 1,7% na comparação com a mesma pesquisa realizada no ano passado. Porém, segundo o coordenador de Estatística e Pesquisa da CNT, Jefferson Cristiano, 62,1% das rodovias analisadas ainda têm algum problema, índice considerado alto. “Tivemos em 2013 quase R$ 12 bilhões autorizados para as estradas para investimentos pelo governo federal. Mas só R$ 8 bilhões foram investidos. Encontramos nas estradas muitas curvas perigosas, sem sinalização, pistas simples, grandes trechos com fluxo de automóveis e ausência de acostamento, isso tudo potencializa a ocorrência de acidentes”, afirmou.
CONCESSÃO
O estudo avaliou o estado geral das rodovias de acordo com seu tipo de gestão e constatou que a maior parte dos trechos entregues pelo governo federal ou Estados à iniciativa privada foi classificada como ótimo ou bom. Dos 18.960 km concedidos analisados, 14.061, ou 74,1%, estavam nas melhores condições. Dos trechos que estão sob gestão pública, 23.300 km dos 79.515 km avaliados, ou apenas 29,3%, foram classificados como ótimo ou bom.
BRs 040 e 135, em Sete Lagoas (MG): placas de sinalização estão encobertas pelo mato
Nos últimos anos, o governo federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), realizou uma série de leilões de rodovias federais para serem entregues à administração privada. O Programa de Concessão de Rodovias Federais abrange 11.191 km. Alguns foram concedidos recentemente e ainda passam por obras de duplicação e melhoria do pavimento.
Para o presidente da CNT, a participação da iniciativa privada é fundamental para a melhoria da infraestrutura do transporte. Segundo ele, o governo precisa da parceria para oferecer melhorias na malha rodoviária. “As concessões são um importante caminho para melhorar as condições das rodovias e contribuir para o crescimento do país. A situação das rodovias sob gestão pública está muito pior em relação às concessionadas”, afirmou Andrade.
Num ranking com 109 ligações rodoviárias, ou seja, trechos formados por uma ou mais rodovias estaduais e/ou federais, as melhores estão no Estado de São Paulo e todas estão sob comando da iniciativa privada (veja quadro). Na outra ponta, as dez piores são administradas pelo poder público e estão nos Estados do Tocantins e Bahia.
10 MELHORES |
||||
Posição | Nome | Rodovias | Classificação | Gestão |
1º | São Paulo (SP)-Limeira(SP) | SP-310/BR-364, SP-348 | ótimo |
Privada |
2º | São Paulo (SP) - Uberaba (MG) |
BR-050, SP-330/BR-050 |
ótimo |
Privada |
3º | Campinas (SP) - Jacareí (SP) |
SP-065, SP-340 |
ótimo |
Privada |
4º | São Paulo (SP) - Itaí (SP) - Espírito Santo do Turvo (SP) |
SP-255, SP-280/BR-374 |
ótimo |
Privada |
5º | São Paulo (SP) - Taubaté (SP) |
SP-070 |
ótimo | Privada |
6º | Bauru (SP) - Itirapina (SP) |
SP-225/BR-369 |
ótimo | Privada |
7º | Engenheiro Miller (SP) - Jupiá (SP) |
SP-209, SP-300, SP-300/BR-154, SP-300/BR-262 |
ótimo |
Privada |
8º | Limeira (SP) - São José do Rio Preto (SP) |
SP-310/BR-364, SP-310/BR-456, SP-330/BR-050 |
ótimo | Privada |
9º | Ribeirão Preto (SP) - Borborema (SP) |
SP-330/BR-050, SP-333 |
ótimo | Privada |
10º | Rio Claro (SP) - Itapetininga (SP) |
SP-127, SP-127/BR-373 |
ótimo |
Privada |
10 PIORES | ||||
Posição | Nome | Rodovias | Classificação | Gestão |
109º | Natividade (TO) - Barreiras (BA) | BA-460, BA-460/BR-242, TO-040, TO-280 | ruim |
pública |
108º | Belém (PA) - Guaraí (TO) |
BR-222, PA-150, PA-151, PA-252, PA-287, PA-447, PA-475, PA-483, TO-336 |
ruim | pública |
107º | Marabá (PA) - Dom Eliseu (PA) |
BR-222 |
ruim |
pública |
106º | Barracão (PR) - Cascavel (PR) |
BR-163, PR-163/BR-163, PR-182/BR-163, PR-582/BR-163 |
ruim |
pública |
105º | São Vicente do Sul (RS) - Santana do Livramento (RS) |
BR-158, RS-241, RS-640 |
ruim | pública |
104º | Jataí (GO) - Piranhas (GO) |
BR-158 |
ruim |
pública |
103º | Alta Floresta (MT) - Cuiabá (MT) |
BR-163, BR-364, MT-320 |
ruim |
pública |
102º | Maceió (AL) - Paulo Afonso (BA) |
BR-104, BR-110, BR-423, BR-424, PE-177, PE-360 |
regular | pública |
101º | Brasília (DF) - Palmas (TO) |
BR-010, DF-345/BR-010, GO-118, GO-118/BR-010, TO-010, TO-050, TO-050/BR-010, TO-342 |
regular |
pública |
100º | Uberaba (MG) - Barretos (SP) |
BR-364, MG-427, SP-326/BR-364 |
regular | pública |
Segundo Jefferson, a CNT entende que essa estratégia de o setor privado gerenciar as rodovias é uma boa alternativa e traz maior eficiência operacional, na gestão de projetos e investimentos, além de diminuir a burocracia. “É uma boa alternativa diante da dificuldade que o governo tem em implementar reformas no setor”, afirmou.
BR-242, Paranã (TO): trecho está na lista dos piores, com defeitos graves na pista
ACIDENTES
Dos mais de 98 mil km avaliados, o número de pontos críticos passou de 250 no ano passado para 289 neste ano. A CNT considera situação crítica quando há queda de barreira, pontes caídas, erosões na pista e buracos grandes, que impedem a livre circulação dos veículos na via. As condições ruins, segundo o presidente da CNT, geram o pior resultado estatístico para as rodovias: acidentes e mortes. A pesquisa indicou que em 2013 morreram 8.551 pessoas nas estradas brasileiras, em cerca de 186 mil acidentes. “As condições gerais ruins das rodovias aumentam os riscos e muitas vidas poderiam ser poupadas caso as rodovias oferecessem melhor infraestrutura. Com certeza, seriam 90 mil acidentes a menos e 4 mil mortes a menos”, afirmou Clésio Andrade.
SP-310 e BR-456, Matão (SP): trecho duplicado e pavimento em ótimo estado oferecem mais segurança aos motoristas
E os gastos com acidentes são exorbitantes no país. Segundo dados coletados pela Agência Brasil, no ano passado, as despesas com batidas nas rodovias foram de R$ 17,7 bilhões. Os recursos dizem respeito ao que impactou o Sistema Único de Saúde (SUS) desde o atendimento no local até a internação, cirurgias e tratamentos.
INVESTIMENTOS
Antes da divulgação dos dados da pesquisa, a confederação divulgou um plano de transporte e logística que indica ao governo federal a necessidade de investir R$ 293,88 bilhões somente no modal rodoviário. O estudo, no entanto, mostra que foram autorizados para este ano recursos de R$ 11,93 bilhões e, até 30 de agosto, 54,8% desse montante haviam sido pagos.
Ao apontar problemas como de sinalização e geometria, a CNT sugere investimentos nos trechos. De acordo com os dados, 87,1% das rodovias brasileiras pesquisadas são formadas por pistas simples de mão dupla, sendo que 39,9% não têm acostamento. Em 57,4% dos trechos, foi encontrado problema na sinalização, como falta de placas de limite de velocidade ou pintura desgastada ou inexistente.
BR-135, Joaquim Felício (MG): caminhões enfrentam pista simples em todo o trecho
MEIO AMBIENTE
A pesquisa também mostrou prejuízos para o meio ambiente quando se tem rodovias em estado de conservação ruim. A economia, se as estradas estivessem classificadas como boas ou ótimas, seria de 737 milhões de litros de óleo diesel ou R$ 1,79 bilhão (cálculo feito antes do reajuste anunciado no início de novembro). Em emissão de gases na atmosfera, principalmente o carbônico, a redução seria de 1,96 milhão de toneladas
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