Rota do perigo

Vítimas de roubos de veículos em São Paulo enfrentam dificuldades para recuperá-los. Segundo relatos, problema não está na localização, mas, sim, na remoção para o Distrito Policial mais próximo, em função da falta de viaturas no Estado.

Segurança / 17 de Novembro de 2016 / 0 Comentários
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Motoristas e empresas de São Paulo estão tendo dificuldades para recuperar caminhões roubados no Estado. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, o desafio maior não está na localização dos veículos e, sim, na remoção deles para o Distrito Policial (DP) mais próximo para que seja feito o registro do Boletim de Ocorrência (BO).

Depois que os caminhões são encontrados, os proprietários ou as seguradoras precisam acionar a Polícia Militar (PM), que é responsável pela preservação da cena até a chegada do guincho conveniado à prefeitura do município onde se encontra o veículo. Contudo, em função da demora do serviço – são gastas horas ou até dias –, a PM deixa de ir até o local.

Se a polícia for, vai ter que passar o dia todo no lugar e ainda correndo o risco de o guincho não chegar. Então, eles nem aparecem”, diz uma empresária de Rincão, no interior paulista, que prefere não ser identificada.

Há cerca de três meses, um dos caminhões da empresa dela foi roubado, e o motorista, sequestrado pelos bandidos. Depois de rodar com a vítima em um carro de passeio por, aproximadamente, uma hora, o grupo criminoso o liberou em uma rodovia. O funcionário avisou a empresária sobre o ocorrido por volta das 23h30, horário em que teve início a saga da família para recuperar o caminhão.

De acordo com a empresária, a seguradora foi informada e, imediatamente, acionou a polícia. Pelo rastreador instalado no veículo, foi possível identificar que ele havia sido levado para a capital do Estado, a quase 300 km de distância. No escritório da empresa, ao lado do marido, a proprietária do caminhão ficou monitorando o paradeiro do dele. Por voltas das 3h, ela percebeu que ele começou a movimentar-se novamente.

“Liguei outra vez para a seguradora, e me disseram que a PM ainda não tinha ido ao local. Nesse momento, me bateu o desespero. Mas aí, depois de a polícia ter sido acionada de novo, o tratamento foi melhor, e um sargento muito atencioso coletou dados da localização do caminhão e passou a monitorá-lo também”, relata.

 Imbróglio

Segundo o assessor de segurança da Associação Imperial – entidade de proteção veicular –, Gerson Oliveira, casos como o da empresária tornaram-se frequentes no Estado paulista nos últimos meses. “Muitas vezes, recorremos à Guarda Municipal, dependendo da cidade; em outras, a Polícia Civil nos auxilia. E há casos em que é preciso pedir ajuda a amigos e conhecidos, porque as vítimas nem sempre estão perto da cidade em que o veículo é encontrado e não têm condições de elas mesmas ficarem no local até a chegada do guincho”, afirma Oliveira.

Conforme explicado pelo assessor, o procedimento já foi questionado junto à PM, que alega ter dificuldades em manter uma viatura parada por tanto tempo no mesmo lugar. “Em todos os últimos casos de roubos em São Paulo, tivemos esse problema”, lamenta.

A história da empresária de Rincão foi mais uma a engrossar as estatísticas e ainda se estendeu até a noite do dia seguinte ao roubo. Para reaver o caminhão da empresa, ela precisou ligar para um amigo na capital e lhe pedir que se encontrasse com o motorista abordado pelos ladrões em um DP para que ele pelo menos prestasse queixa do roubo.

“Tive que recorrer a essa pessoa porque estou a quatro horas da cidade de São Paulo. Não seria simples chegar até lá. Saindo do distrito, eles seguiram para onde o caminhão estava e, depois de contratarem um chaveiro, abriram o veículo e voltaram nele para o DP para registrarem um novo BO, desta vez informando que o veículo havia sido recuperado”, relembra ela.

Segundo a empresária, a família passou a noite em claro e só conseguiu terminar de resolver todos os trâmites burocráticos na noite do outro dia. “Quase 24 horas depois é que eu fui ter certeza de que o caminhão estava com a gente de novo. Acredito que essa situação não seja uma falha da polícia, mas das prefeituras, que não disponibilizam mais guinchos para rebocar veículos encontrados. Enfrentei essa dificuldade toda mesmo tendo rastreador. Imagina, então, se não tivesse”, questiona.

Em nota, a Polícia Militar de São Paulo afirmou que não há registros desse tipo de reclamação no Estado e que “cada uma das regiões de policiamento possui o efetivo e os meios necessários” para os atendimentos. 

“Quanto à localização de veículos roubados, seja por equipe policial, pelo proprietário ou empresa de monitoramento, de acordo com a Resolução SSP 057/15, o policial comparece ao local, verifica as condições do veículo e, caso não haja vestígios de que outro crime tenha ocorrido, aguarda todos os meios necessários para a remoção do carro até a delegacia da área para a formalização do registro, entregando o Formulário de Notificação de Ocorrência ao proprietário, retornando às suas atividades normais de patrulhamento ostensivo, sem prejudicar a segurança pública na região”, informa o texto. 

De acordo com a Secretaria Estadual da Segurança Pública, desde 2011, foram contratados 23.788 policiais militares e investidos R$ 517 milhões na compra de 10.328 viaturas para a corporação. 

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