Sedentarismo ainda mais nocivo
Inatividade física forçada pelo isolamento social tende a aumentar o número de mortes causadas por doenças do coração, segundo um estudo da USP
A- A A+O sedentarismo imposto pela pandemia da Covid-19 poderá ter impactos negativos na saúde da população mundial no longo prazo. Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que a inatividade é capaz de gerar até 200 mil novos registros de mortes provocadas por doenças cardiovasculares.
Em março do ano passado, primeiro mês de restrições por conta da disseminação do novo coronavírus, a suspensão das atividades físicas já havia aumentado 50%, de acordo com projeções feitas pelo Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada & Nutrição da Faculdade de Medicina da USP a partir da revisão de 50 estudos.
Um dos levantamentos utilizados como base para a análise indica que a ausência da prática de exercícios é responsável por 9% da mortalidade anual, totalizando 5 milhões de óbitos por ano em todo o mundo. Outros estudos apurados destacam ainda que mesmo o sedentarismo de curto prazo (até um mês) pode aumentar o fator de risco para as enfermidades do coração.
“Nós temos dados que, de fato, confirmam que a inatividade física cresceu, especialmente nos grupos clínicos que foram mais expostos a essa condição de isolamento social”, afirmou o professor Bruno Gualano.
O estudo da USP recebeu o prêmio 2020 Impact Award da American Journal of Physiology - Heart and Circulatory Physiology por ser o artigo mais mencionado da revista no último ano, com 77 citações. As conclusões do grupo de pesquisa brasileiro também foram usadas na formulação de políticas públicas e programas de atividade física a distância de vários países europeus e dos Estados Unidos, segundo o docente da USP. “Infelizmente, não no nosso país”, lamentou.
Orientações
A Organização Mundial da Saúde recomenda a prática de 150 a 300 minutos semanais de atividade física moderada a vigorosa, definida por Gualano como “aquela que a gente faz conversando com alguém ao lado e sente certa dificuldade para conversar”. No Brasil, no entanto, aproximadamente metade da população é considerada inativa.
Mas, afinal, como se manter funcional em plena pandemia? O professor da Faculdade de Medicina responde: “A atividade física é essencial, mas a academia de ginástica não é. O que eu quis dizer com isso? Que a academia não é importante? Não, é importante, mas não é vital. Significa que eu consigo manter meus níveis de atividade física sem me entranhar numa academia que não traga as condições ideais de proteção”.
Manter o corpo em movimento pode, inclusive, ajudar a prevenir formas mais graves da Covid-19, conforme levantado pelo grupo de pesquisa da instituição paulista. Duzentos pacientes internados com a infecção foram avaliados a fim de se estabelecer uma conexão entre a condição de saúde deles e a prática regular de exercícios.
“O efeito protetor da atividade física vai até a página 3. Há uma resposta protetora no geral, mas, quando a gente avalia o paciente grave, com comorbidade, de uma idade avançada, com doenças crônicas associadas – que são agravantes da Covid-19 –, esses fatores parecem superar o efeito protetor da atividade física”, concluiu Gualano.
De uma maneira geral, a recomendação, segundo o professor, é que se pratiquem exercícios físicos levando em consideração que eles reforçam a resposta imune do organismo e previnem justamente as condições que podem desencadear quadros mais graves da doença causada pelo novo coronavírus, como diabetes tipo 2, hipertensão e obesidade. (Com a Agência Brasil)
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