Síndrome de Guillain-Barré
Zika vírus pode desencadear doença neurológica
A- A A+Transmitido através da picada do mosquito infectado Aedes aegypti, o Zika vírus pode causar microcefalia em bebês e complicações neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, além de provocar a morte. De acordo com o Ministério da Saúde, foram 211.770 casos de pessoas afetadas com o vírus em 2016 no Brasil.
Segundo o médico neurologista e professor da Faculdade Ipemed de Ciências Médicas, Marcos Felipe Camarinha, “o organismo, na tentativa de combater o vírus da Zika, produz anticorpos, os quais, além de combaterem a infecção pelo vírus, também atacam os nervos, gerando neles um processo inflamatório agudo e uma lesão”. De acordo com o médico, nem todos os pacientes que adquirirem o Zika vírus apresentam a síndrome. Isso só ocorrerá naqueles em que a proteína do vírus se assemelhar à do nervo, fazendo com que o anticorpo produzido contra o vírus também o ataque”, explica o doutor.
Pouco conhecida, a síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune descoberta pelos médicos Guillain, Barré e Strohl em 1916, manifesta-se como um processo inflamatório agudo, que compromete os nervos periféricos, resultando em fraqueza muscular de instalação rápida (em dias ou semanas) e diminuição dos reflexos tendinosos – aqueles que revelam informações sobre a integridade dos sistemas nervosos central e periférico.
Segundo o neurologista, a gravidade do comprometimento clínico da síndrome é variável, podendo chegar até a insuficiência respiratória. Os sintomas geralmente se iniciam em duas ou quatro semanas após um quadro de gastroenterite (inflamação aguda nos órgãos do sistema gastrointestinal) ou de uma infecção respiratória benigna. “Entretanto, em alguns casos, esse quadro infeccioso prévio pode não estar presente”, diz.
Além da gastroenterite, a síndrome de Guillain-Barré também provoca dormência ou formigamento, comprometendo pés e mãos. Isso pode evoluir para fraqueza muscular de forma ascendente, afetando os membros inferiores e progredindo para os superiores e a face. Alguns pacientes podem apresentar ainda visão dupla, dificuldades na fala e na deglutição, paralisia dos músculos do rosto e do movimento ocular, bem como insuficiência respiratória. Outros sintomas que podem estar presentes são taquicardia (batimentos cardíacos acelerados), bradicardia (redução dos batimentos cardíacos), aumento ou queda da pressão arterial, rubor facial, retenção urinária, entre outros. O estado mais crítico da doença é alcançado em um período de, no máximo, quatro semanas. Depois disso, o quadro se estabiliza.
A síndrome de Guillain-Barré tem cura, e, quanto mais precocemente o tratamento for instituído, menor será a chance de haver sequelas secundárias. Marcos Felipe explica que o paciente pode ser tratado por meio da administração venosa de um medicamento chamado “imunoglobulina” ou através de um procedimento conhecido como “plasmaférese” (processo em que se retiram do sangue os anticorpos que estão atacando o nervo). “Não ocorre transmissão interpessoal da síndrome de Guillain-Barré. Logo, a doença não requer isolamento ou cuidados especiais no manejo das pessoas que a contraem. Os casos suspeitos devem procurar atendimento médico hospitalar imediatamente para que sejam realizados o diagnóstico e o tratamento precoce”, ressalta o especialista.
Camarinha afirma que há casos da síndrome de Guillain-Barré descrita em todos os grupos etários. Nos EUA, a doença, aparentemente, apresenta uma distribuição bimodal, em que o primeiro pico de comprometimento acontece nos adultos jovens (15 a 35 anos), e o segundo, nos adultos e nos idosos entre os 50 e os 75 anos. Os bebês, segundo ele, apresentam um baixo risco de desenvolver a síndrome. “A incidência anual dessa doença nos EUA é de 1,2 a 3 casos por 100 mil habitantes, taxa semelhante à de outros países”, informa.
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