Um estudo inédito realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC) mostrou como o transporte rodoviário de cargas (TRC) está sobrecarregado no país, atualmente. Entre os cinco modais analisados - rodoviário, ferroviário, hidroviário, dutoviário e cabotagem -, as rodovias respondem por 62,2% do escoamento da produção.
A pesquisa “Cenários de carregamento da rede multimodal de transporte com fluxos de cargas nos horizontes base atual e projetados (ainda sem novas infraestruturas)” considerou apenas o transporte de longa distância e as variáveis volume de cargas e produção de transporte para chegar aos resultados, pertinentes a 15 grupos de produtos diferentes (alimentos e bebidas, produtos manufaturados, soja em grãos, farelo de soja, milho em grãos, celulose e papel, fertilizantes importados, combustíveis, petroquímicos, cimento ensacado, minério de ferro, carvão mineral, outros da lavoura e pecuária, outros minerais e produtos de borracha, plástico e não metal).
De acordo com o levantamento, o setor que mais demanda o TRC, hoje, é o de alimentos e bebidas, já que 91,4% do volume movimentado por essa categoria segue pelas estradas. “O Brasil é um país de altíssima dependência das rodovias para o suprimento de sua população em alimentos e bebidas. Dificilmente haverá mudanças estruturais nessa condição. Portanto, é imprescindível o investimento na qualidade do sistema rodoviário”, avalia o professor e coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da FDC e diretor da Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transporte da Fundação Dom Cabral (PILT/FDC), Paulo Resende.
“A malha rodoviária é de extrema importância para o nosso país. Um sistema rodoviário ruim significa que nossa alimentação também será comprometida. Se a rodovia parar, para o Brasil. Já vimos isso antes, e a sociedade é quem sofre com esses acontecimentos. Já sabemos que o prejuízo por ter uma matriz desse jeito é de R$ 30 bilhões por ano”, completa Resende.
Projeção
A pesquisa, conduzida pela PILT/FDC, apresenta simulações feitas em quatro horizontes temporais (base ou atual, 2025, 2030 e 2035), pressupondo que não haverá alterações físico-funcionais significativas na rede multimodal de transporte na próxima década.
Outro tipo de produto que utiliza bastante o transporte rodoviário é o manufatureiro, com 85,2% dos produtos sendo distribuídos por rodovias. Para 2035, a perspectiva é que essa taxa sofra uma redução discreta, chegando a 84,7%. “Esse é um tipo de produto que depende muito da facilidade que só é possível encontrar pelas rodovias para entrega porta a porta (máquinas, equipamentos e outros bens de consumo duráveis). Nesse grupo, é possível considerar o equilíbrio entre rodovias e ferrovias/rodovias, uma oportunidade para o transporte multimodal”, ressalta o professor da Fundação Dom Cabral.
Entre as exceções, o minério de ferro é o maior representante dos produtos que não possuem a malha rodoviária como principal meio de transporte, sendo apontado por Resende como o melhor exemplo de distribuição eficiente de participação entre modais de transportes no país. “Vemos nesse produto que a participação ferroviária se encaixa perfeitamente com a natureza dele, o que poderia acontecer também com outros produtos, mas com a rodovia servindo de complemento multimodal”, pontua o diretor da PILT/FDC.
A análise do especialista é também um alerta para que, nos próximos dez anos, providências sejam tomadas e haja mais empenho na busca por alternativas, uma vez que as projeções apontam para uma sobrecarga ainda maior no TRC em 2035: até lá, o modal deverá ser o responsável por 63,7% de toda a movimentação de cargas no país.