Trucão, a voz da estrada
O repórter estradeiro mais conhecido dos caminhoneiros conversou com a Entrevias, contou sua história e falou sobre a estreia na rádio Transamérica, onde apresenta um programa diário nas madrugadas
A- A A+São quase 40 anos de estrada, mas não ao volante. O instrumento dele é o microfone, e é assim que ele dá voz aos caminhoneiros. Pedro da Silva Lopes, o Trucão, tem 65 anos, é jornalista e construiu toda sua trajetória na cobertura de fatos que aconteceram nas rodovias. Agora, ele estreia um programa diário na rádio Transamérica, sempre das 4h às 6h.
Trucão conversou com a Entrevias, contou sua história, o que viu evoluir no transporte de cargas no Brasil desde que começou a carreira e falou sobre a emoção de apresentar um programa com a filha Paula Toco, que também é jornalista.
Fale um pouco sobre sua trajetória.
Bom, tudo começou quando, ainda criança, moleque de 7 ou 8 anos, tive meu primeiro contato com caminhão, que foi um LP 321. Era um Mercedes-Benz, que parou próximo à minha casa. Acho que ali despertou algo em mim, porque, desde então, as coisas da estrada passaram a me atrair. Cheguei até a pensar em ser caminhoneiro. A ideia não vingou, mas percebi que os caminhoneiros não tinham um canal por meio do qual suas vozes poderiam ser ouvidas. Então, achei que deveria tentar dar a eles esse espaço e também mostrar para a sociedade a importância do transporte e do caminhoneiro. Dentro desse propósito, surgiu o primeiro programa de rádio, “Trucão e os Caminhoneiros do Brasil”. A ideia começou no finalzinho da década de 1970, e o primeiro programa veio em 1981, pela rádio Difusora Oeste de Osasco [SP], minha cidade. Para viabilizar, captava anunciantes, produzia e apresentava. Uma ciranda! O nome Trucão veio por conta dos caminhões da época, quando os trucados eram os mais comuns, pois ainda não havia muita carreta. Em 1989, iniciei os primeiros ensaios de programa de televisão. Em 1991, veio o “Roda Brasil”, na TV Record. Durou um ano mais ou menos. Desde então, tenho sempre tocado em paralelo rádio e televisão. Passei por diversas emissoras de rádio, como Tupi AM e FM, Terra FM, 105 FM, Aparecida AM e FM, rádio Globo AM, rádio Capital AM e, hoje, estou na rede Transamérica FM. Ter um programa em FM em rede nacional é a realização de um sonho. Em televisão, depois do “Roda Brasil”, fiquei por dez anos no “Siga Bem Caminhoneiro” e estou há 15 com o “Pé na Estrada”, atualmente pela TV Bandeirantes, todos os domingos, às 10h25. Como o digital também é muito importante hoje, tenho vários canais, todos focados no segmento.
Quando você começou a fazer coberturas específicas sobre o transporte rodoviário de cargas?
Sempre fiz, desde meu primeiro programa de rádio. As primeiras viagens que fiz foram para pesquisar. Pegava meu fusquinha e viajava para onde conseguia, interior de São Paulo ou algum Estado próximo, porque era o que o dinheiro permitia. No caminho, ia gravando entrevistas com meu gravador – na época, aqueles grandões, com fita cassete ainda. Conversava com o pessoal do trecho sobre transporte e logística.
Você é conhecido como o “repórter das estradas”. Acha que essa área precisa ter mais espaço positivo na mídia?
Sim, porque a mídia, em geral, não segmentada tem uma imagem negativa do setor. Beira o preconceito. Para muitos, um mal necessário. Não conhecem nem se interessam pela realidade dos profissionais do segmento, pelas dificuldades de se atuar na área. Exemplo disso é quando se noticia um acidente que tem caminhoneiro envolvido. A primeira reação é culpá-lo. Depois, acabam até mudando manchetes, após se inteirarem melhor dos fatos. Também desconsideram o peso que o segmento tem no PIB [Produto Interno Bruto] do país, a força que representa em nossa economia. Por isso, em nossos canais, procuramos mostrar os aspectos positivos da atividade. Hoje, contamos com uma equipe de apoio preparada para produzir e gerar conteúdo, sempre com esse foco, não só no rádio e na televisão, como também nas mídias sociais. Temos nossa rádio na web, a WebEstrada, com dois canais no Youtube –, os programas “Pé na Estrada” e “Trucão e Toco”, além de Facebook, Instagram, Twitter e aplicativo. E, agora, está chegando o “ZapEstrada”, um canal via WhatsApp, tendo o segmento como protagonista.
Trucão e a filha Paula Toco seguem juntos pelas estradas do jornalismo e da paixão pelo transporte rodoviário de cargas.
Ao longo de tantos anos de carreira, você conhece o setor como grandes especialistas. O que você avalia que ainda precisa avançar no Brasil?
Olha, o que precisa melhorar muito ainda quando se trata de transporte no Brasil, para mim, é a infraestrutura. Ela está capengando demais, deixando muito a desejar. Estamos bastante aquém quando nos comparamos com outros países, tanto em condições de rodovias quanto em pontos de apoio ao transportador. Falta também a valorização do profissional do volante. Tudo isso culmina em um grave problema de segurança.
Conte um pouco do que você vê na estrada: quem é o caminhoneiro brasileiro?
É aquele apaixonado pela estrada, que faz de tudo para ficar na profissão. A gente vê tantos estradeiros rodando por tão pouco, mas continuam viajando. Acho que é uma paixão. Claro que muitas transformações ocorreram por conta da tecnologia embarcada nos caminhões, mudando inclusive a própria figura do profissional. Com o tempo, o caminhão, de uma paixão vai se transformando em uma ferramenta de trabalho, e sua condução, em uma profissão que deve ser vista como tal. E essa profissão precisa ser valorizada e respeitada. Um caminhoneiro, principalmente o empregado, ganha muito pouco, muito abaixo do que deveria, pela responsabilidade que tem. Eles recebem, na carteira, em torno de R$ 1.800. Boa parte da remuneração é por produtividade, comissão. Então, para obterem um rendimento um pouco melhor, acabam se matando em grandes jornadas de trabalho para conseguir R$ 2.500 ou R$ 3.000 por mês.
Qual fato mais marcante você já noticiou, aquele que nunca mais saiu de sua memória?
Muitos fatos marcantes se deram ao longo desses quase 40 anos na estrada. Difícil destacar um, mas a cobertura da paralisação dos caminhoneiros de 1999 merece ser registrada. Em plena época de festas da categoria – semana de 25 de julho –, quando todos esperavam ansiosamente pela Festa do Carreteiro, em Aparecida (SP), eis que eclode uma mobilização, e nossa cobertura, que seria da festa, foi totalmente mudada. Foram sete dias na rodovia Presidente Dutra, um dos pontos fortes do movimento, acompanhando a saga do pessoal. Vivemos momentos semelhantes em 2018, mas, nessa ocasião, já estávamos preparados para isso, porque o movimento não foi inesperado, como em 1999.
Qual notícia é tão repetida sobre as estradas e que você não queria mais noticiar?
Olha, uma notícia recorrente no segmento é a falta de condições de trafegabilidade e de segurança de nossas rodovias. A maior parte de nossa malha viária é ruim. Temos 1,7 milhão de km no total, sendo que apenas 200 e poucos mil são pavimentados e, desses, nem 30 mil são de pistas boas, duplicadas. Sem falar nos alarmantes índices de roubos e assaltos nas rodovias. Então, eu gostaria que o governo olhasse para a malha viária e para a segurança e que as empresas olhassem para a jornada de trabalho do motorista para nunca mais termos de noticiar que um caminhoneiro perdeu a vida em nossas rodovias.
Quem quer ser um repórter da estrada precisa ter quais habilidades?
Primeiramente, tem que gostar de colocar o pé na estrada mesmo. Também não pode ser muito focado em dinheiro, porque se ganha pouco. Como tem gente na estrada dia e noite, o repórter estradeiro tem que topar encarar o trecho em qualquer horário. As distâncias são longas. E, então, as viagens também. Já cheguei a ficar 40 dias fora de casa gravando, assim como fica um caminhoneiro. Tem que saber dirigir, mas também tem que ter respeito pelas leis de trânsito. Tem que saber interagir. Não se pode ver o caminhoneiro e o transportador da forma marginalizada com que grande parte da sociedade vê. Se a pessoa enxergar dessa maneira, não terá futuro. Mas, se gostar de tudo isso, então irá longe.
Como é dividir o programa com sua filha? Como está o coração de pai vendo que ela seguiu seus passos?
Dividir o programa com minha filha Paula Toco é a coisa mais gostosa que tem. Eu sou um pai-coruja e estou muito feliz com o fato de ela dar continuidade ao meu trabalho. Desde criança, a Paula, sempre que possível, me acompanhava em viagens e eventos do segmento. Desde os 5 anos, ela já ia às rádios comigo. Em algum momento da vida, foi ser publicitária, mas, felizmente, voltou logo, formou-se em jornalismo e já está nessa tocada há dez anos. Escolheu isso como profissão, porque também se apaixonou pelo trecho. E vai tocar em frente, pois essa parte que eu já não domino tanto mais, que é a tecnologia, a conectividade, esse mundo virtual, fica por conta dela. Outra coisa é que ela tem um conhecimento muito bom não só do transporte no Brasil, mas de fora do país, porque faz parte de nosso trabalho saber como funciona o transporte pelo mundo, e, como ela fala outras línguas, fica mais fácil. Eu sinto muito orgulho do trabalho dela e, como pai, acho que fiz um bom trabalho também (risos).
Que mensagem você quer passar aos caminhoneiros todos os dias cedinho na rádio Transamérica? Aproveite para convidar os leitores a ouvirem o programa!
Diariamente, nossa missão é passar informações e serviços para que os estradeiros possam começar o dia bem-informados, além de trazer sempre uma boa música em ritmo pra cima, para que eles não cochilem ao volante. É uma meta também criar consciência do quanto precisam se valorizar como profissionais. Outro propósito é mostrar para a sociedade, em geral, o quanto o transporte e os motoristas são fundamentais para garantir a circulação de bens por todo o país, bem como o peso da atividade na economia de uma nação. Então, parceiro, fica aí o convite: acompanhe e prestigie esse espaço que a Transamérica dedica ao transporte – “Trucão com Pé na Estrada” –, o espaço do estradeiro. Participe, diga de onde você está nos ouvindo, mande seu alô, suas sugestões, críticas, informações e também espalhe para os amigos. E boa tocada!
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