Viagem no tempo
O Museu de Objetos e Veículos Antigos (Mova) é a concretização de um sonho e será um lugar para apaixonados por carros antigos
A- A A+Há 30 anos, o bioquímico Jeferson Rios, mineiro de 70 anos, tem verdadeira paixão por carros e objetos antigos. Quando jovem, morava em um bairro nobre, porém seus recursos financeiros eram escassos. Jeferson deslumbrava-se com os carros da época, e seu pai não tinha condições de adquiri-los. Então, ele disse para si mesmo que um dia teria os automóveis. O que cabia no orçamento era comprar tais carros em forma de sucata, já que não era possível adquirir os restaurados.
Devagar, de acordo com suas possibilidades, Jeferson ia restaurando os automóveis. Três décadas depois, um amigo lhe disse: “- Jeferson, é muito egoísmo de sua parte guardar tudo isso. Você devia expor os veículos”. O amigo sugeriu que ele criasse um ambiente de exposição. Assim começava o projeto Museu de Objetos e Veículos Antigos (Mova). “E esse sonho me persegue há cinco anos: até eu chegar e conseguir o terreno, ter a aprovação do projeto pela Lei Rouanet, no Ministério da Cultura, e pelo Instituto Brasileiro de Museus”, conta Jeferson.
O projeto do museu é grandioso e foi todo elaborado pelo mineiro, com ideias advindas de filmes antigos sobre carros. E não apenas os mais de 25 veículos já restaurados vão compor o museu. No acervo, são 8.000 itens, como geladeira, fogão, rádio, radiola, telefone, produtos da Segunda Guerra Mundial – todos datados dos séculos 19 ao 20.
COMPLEXO DE CULTURA
Com inauguração prevista para daqui a quatro anos, o Mova também contará com um bar e um restaurante. O bar vai ser decorado com a temática dos anos 1950: máquina que reproduz músicas da época (jukebox), televisão, na qual serão exibidos filmes da década, cadeiras do mesmo período e funcionários uniformizados com roupas retrô. O restaurante vai homenagear a década de 1940, com piano de cauda, poltronas e mobília que parecem ter saído de um filme.
Um cinema drive-in, com capacidade para cem pessoas, também será construído e terá como temática os anos 1950. “O projetor terá a carcaça desse período, porém tecnologia nova. Ficará parecido com o do filme ‘Cine Paradiso’, com um projetor grande”, conta Jeferson. No telão, serão exibidos filmes de interesse de colecionadores, como os de corrida de carro antigos e clássicos da época.
A estrutura contempla ainda um hotel para carros antigos. “Hoje, o grande problema do colecionador é a garagem. Então, disponibilizaremos um local para ele guardar os carros”, diz o empreendedor. Além disso, haverá local para reuniões de membros de clubes de veículos antigos e para leilão de automóveis e de peças retrô. “Teremos na sede, por exemplo, nas segundas-feiras, os admiradores da Harley-Davidson; nas terças, os de carros antigos; nas quartas, o Clube do Fusca... cada dia da semana para um tipo de colecionador”, planeja Jeferson. Uma vez por mês, haverá um desfile dos carros que foram restaurados naquele mês.
Uma loja, onde os visitantes poderão comprar e vender peças, além de avaliarem peças antigas, também integrará o espaço cultural. “As pessoas poderão levar objetos de família para saberem valor”, diz Jeferson.
PAPEL INCLUSIVO
Com função social, o Mova realizará capacitações de jovens aprendizes nas atividades de lanternagem, pintura e mecânica de carros. “Temos poucos especialistas nessas áreas. Eu já tenho um lanterneiro, um mecânico e um pintor que estão comigo há anos, e eles serão os professores dessa escola profissionalizante. Serão dez aprendizes de cada turma, por seis meses. As empresas parceiras, por meio do Fundo de Infância e Adolescência (FIA), também poderão apadrinhar esses meninos para ajudarem na despesa deles com locomoção e na remuneração dos salários.”
Quando indagado sobre a maior dificuldade na concretização do sonho de abrir um museu de automóveis e objetos antigos, o mineiro aponta não ter imaginado que a fase atual, a de captação de recursos via Lei Rouanet, seria tão difícil. Nada que o desanime ou o impeça de realizar esse grande projeto. “Toda época tem sua parte difícil, mas, quando a gente vence os obstáculos, acha que ficou fácil. E dos sonhos a gente não pode desistir. Se você deixar o sonho passar, vai ficar frustrado. Ele tem de ser alimentado com um tijolinho a cada dia”, conclui.
Em relação ao acervo, ele diz estar satisfeito com as peças que possui, as quais estarão no museu sob a forma de comodato (empréstimo gratuito). Contudo, faz uma crítica: “Atualmente, acho mais fácil restaurar um Ford 29 do que um Landau, um carro nacional. O brasileiro não tem o hábito de guardar as coisas, joga tudo fora. O colecionador de outros países tem o capricho de preservar o que foi significativo na época e na idade dele”.
CONHECIMENTO QUE CIRCULA
São dois projetos que homenageiam os carros antigos: o Mova, que será construído no Alphaville, no município de Nova Lima (em um terreno doado pela prefeitura da cidade), e o Museu Itinerante. A verba deste último projeto foi captada por meio de incentivo fiscal.
O local do Museu Itinerante ainda está sendo definido: talvez uma praça ou um espaço com cerca de 5.000 mil metros quadrados, e lá estarão veículos e peças antigas. “Nós estamos entrando em contato com o Mercado de Santa Teresa, em Belo Horizonte, para discutir a possibilidade de o museu ser abrigado lá, juntamente com a associação dos moradores do bairro”, explica Jeferson.
Para a manutenção, a verba será adquirida por meio de shows e eventos realizados nos fins de semana. A cada seis meses, o museu mudará de lugar, de acordo com a disponibilidade da prefeitura e dos espaços, e terá entrada gratuita.
Conheça mais o projeto pelo site http://www.movacultural.com.br/
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